Anadia/AL

28 de março de 2024

Anadia/AL, 28 de março de 2024

‘A rede pública de ensino de AL passa por uma crise preocupante’, alerta Sinteal

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 12 de agosto de 2019

consuelocorreiasl1

Presidente do Sinteal, Maria Consuelo, fez um alerta preocupante sobre a educação | Foto: Divulgação

A rede pública estadual de ensino está imersa num completo caos: falta transporte escolar para os estudantes, escolas em tempo integral não funcionam conforme o projeto original, laboratórios de informática com equipamentos obsoletos – ou com a estrutura comprometida, colocando em risco a vida dos alunos – e afastamento sumário de professores por problemas de saúde, o que é agravado por uma política salarial que não valoriza o profissional de educação.

Esse novelo de problemas é desfiado pela presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas (Sinteal), a professora Maria Consuelo Correia, que desenha um cenário desolador para professores, pais e alunos da rede pública estadual de ensino.

 

“Crianças da mesma turma estão em níveis de aprendizagem diferentes pela irresponsabilidade do governo em não garantir o acesso à educação via transporte escolar, e isto é absolutamente inadmissível. Este problema também tem acontecido no sistema de Educação de Jovens e Adultos (EJA), inviabilizando a principal política de erradicação do analfabetismo em um estado que ainda ostenta os piores índices do país”, denuncia. 

Gazeta – Qual a real situação das 53 escolas de tempo integral em Alagoas?

Maria Consuelo Correia – O PALEI, programa que instituiu a educação em tempo integral na rede estadual, demonstra-se uma grande farsa. O governo fez todo tipo de propaganda possível com o programa, mas, na prática, o que vemos é um modelo de educação excludente, que atinge apenas dez por cento das matrículas do total da rede, que ataca frontalmente a gestão democrática nas escolas, retrocedendo em conquistas históricas como a eleição de diretores pela comunidade escolar, além da própria falha na grade em virtude da carência de profissionais, o que por diversas vezes deixa os alunos ociosos nas escolas.

O governo anunciou a municipalização do transporte escolar da rede estadual. Como está a situação hoje?

A situação do transporte escolar é gravíssima. O governo tem dado um calote nos prestadores de serviço que levam as crianças às escolas, o que ocasionou queda significativa na oferta deste serviço. A consequência tem sido salas de aula vazias, turmas de 40 alunos têm tido aulas com menos de 10 alunos em sala de aula. Este problema é gritante e ocasiona danos irreversíveis ao processo de aprendizagem. Crianças da mesma turma estão em níveis de aprendizagem diferentes pela irresponsabilidade do governo em não garantir o acesso à educação via transporte escolar, e isto é absolutamente inadmissível. Este problema também tem acontecido no sistema de educação de jovens e adultos, inviabilizando a principal política de erradicação do analfabetismo em um estado que ainda ostenta os piores índices do país.

Quantos alunos estão sem aulas com computadores na rede estadual?

Os estímulos direcionados à utilização de mídias na educação são apenas para o ensino integral, que atende a uma menor fatia do alunado. Isto significa que não existe uma política de formação adequada ao conjunto dos trabalhadores para a utilização dos laboratórios de Informática, o que dificulta o acesso por parte dos estudantes a estas ferramentas. Nas escolas onde os profissionais, por conta própria, tentam introduzir os computadores no processo educacional, encontram-se dificuldades imensas de ordem estrutural, com equipamentos obsoletos ou mesmos salas de informática fechadas por conta das más condições estruturais.

Quais as condições de trabalho em 310 escolas estaduais?

Do ponto de vista da saúde do trabalhador temos percebido o adoecimento da categoria, fruto de uma pressão cada vez maior por resultados, que em muitas vezes reproduzem situações de assédio contra os trabalhadores, mas sem a oferta das devidas condições e reconhecimento aos profissionais. A falta de profissionais na rede, principalmente funcionários de escola, tem ocasionado sobrecarga no trabalho, que também tem  contribuído para o alto número de profissionais afastados por questões de saúde. Existem problemas históricos relacionados à oferta de equipamentos de proteção contra acidentes de trabalho que ainda não foram superados, e não há sequer perspectiva para que sejam.

O governo diz que paga 14º e 15º salários? Quantos professores recebem isso de fato?

Na verdade, o governo estadual paga um dos menores salários do país aos professores, e aí, pela sua incapacidade de oferecer uma carreira digna aos trabalhadores do magistério, no fim do ano é obrigado pela lei a ratear as sobras do FUNDEB. Chamar este rateio de 14º salário é uma piada de mau gosto para com os profissionais que contribuem a vida toda com a educação e que ficam eternamente presos à política permanente de desvalorização deste governo, como é o caso dos aposentados, que não recebem o rateio. Quanto ao 15º salário, que na verdade é uma gratificação prometida pelo governador  aos trabalhadores das escolas que atingiram as metas do IDEB, é mais um sintoma da desvalorização do trabalhador da educação. O governo trata profissionais em situações diferentes através de uma mesma ?régua?, ignora que o processo de desenvolvimento pedagógico é fruto de um contexto no qual a ausência do conjunto das políticas públicas necessárias influencia no resultado à revelia do trabalho desenvolvido pelo educador. Mas, apesar desta falta de compreensão do governo, choca que uma promessa feita no início do ano letivo ainda não tenha sido cumprida e que o governo, mais uma vez, aplique um calote aos trabalhadores.

Quanto os professores cobram de perda salarial e quanto o governo promete recompor?

As perdas acumuladas desde 2014, para o ensino superior, são de vinte e seis por cento. O processo de achatamento das carreiras aos quais os profissionais estão submetidos é brutal. O governo garante o reajuste do piso para a minoria que ainda está no ensino médio, mas não reajusta a carreira de todos. A própria proposta de Plano de Cargos e Carreiras que foi discutida há dois anos com o governo segue na ?geladeira?. Temos uma carreira na rede estadual incompatível com as necessidades dos trabalhadores. Infelizmente, a data base dos servidores públicos estaduais está vencida desde maio, e o governo, mais uma vez, não acena sequer com a recomposição salarial dos servidores referente às perdas inflacionárias. Na verdade, o próprio diálogo segue travado, já que o governo não senta com os sindicatos para apresentar propostas às pautas do conjunto dos servidores. Esse cenário aumenta o clima de insatisfação, e mobiliza a categoria da educação – e as demais categorias – para a luta.

Há possibilidade de greve geral na rede estadual de ensino?

Os encaminhamentos da luta serão tirados em conjunto pelos servidores públicos nas assembleias, mas nenhuma hipótese está descartada. De nossa parte seguiremos na luta para que as demandas sejam atendidas pelo governo estadual. Sabemos que os recursos existem. O governador sempre comemora os bons índices da economia no estado. É passada a hora que esses bons números virem valorização para quem efetivamente constrói as políticas públicas essenciais para a população. Temos a clareza que uma educação de qualidade só é possível, só se tornará realidade com o profissional valorizado e dignificado. E é isto que o Sinteal e categoria iremos buscar.

Fonte: Gazeta Web

Galeria de Imagens