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28 de março de 2024

Anadia/AL, 28 de março de 2024

Domésticas sobre Guedes: “Se a gente tiver condições, pode ir aonde quiser”

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 14 de fevereiro de 2020

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“Se a gente tiver condições, vai aonde a gente quiser”, disse Antônia da Silva, 49, de Maceió. “Sendo empregada ou não, a pessoa vai com seu dinheiro digno, seu suor”, afirmou Marinalva de Souza, 51, de São Paulo. As duas são empregadas domésticas e respondem às declarações do ministro Paulo Guedes, da Economia, na tarde de ontem. 

Em um evento privado, Guedes afirmou que, quando o dólar estava a R$ 1,80, tinha “todo mundo indo pra Disneylândia, empregada doméstica indo pra Disneylândia, uma festa danada”. Ele também sugeriu que o brasileiro viaje pelo Brasil, vá “passear em Foz do Iguaçu, passear ali no Nordeste, está cheio de praia bonita”, e defendeu que o dólar alto é bom para as exportações.

A fala não pegou bem entre trabalhadores do serviço doméstico. Para Antônia, um “representante do povo” deveria estimular as pessoas a terem “mais oportunidades”, não o contrário. 

“Não tem por que ele falar nisso, a gente está no nosso direito [de viajar]. Se a empregada tem condições, pode ir para São Paulo, Disney, Europa, qualquer canto. Ela é quem escolhe, não ele”, declarou.

Ela diz que nunca saiu do Brasil e não tem vontade de fazer turismo fora do país. Mesmo assim, avalia que está mais difícil viajar para o exterior. “Eu não sei quanto é o dólar, nunca soube, mas vejo todo mundo reclamar. Só acho estranho que uma pessoa do governo ache isso bom para o povo”, afirmou. 

Marinalva concorda. Para ela, um ministro “que vai para os Estados Unidos sempre” não deveria achar “que é um direito só dele”. 

Para a diarista Maria Aparecida Gomes, 38, de Maceió, a posição de Guedes é a de representantes que acreditam que “pessoas com menos condições não têm o mesmo direito de se divertir”. 

“Ele está representando uma visão da elite da sociedade, de classe alta. Ele não vê a doméstica como gente, vê como uma escrava que só tem direito de comer o resto”, criticou Marinalva. 

Ela diz acreditar que, além de ter pouca oportunidade de viajar, pessoas mais pobres sofrem com falta de conhecimento, estimulada “pelas pessoas mais ricas”. 

“Tenho muita amiga que não sabe nem pegar avião por falta de conhecimento. Viaja para o Nordeste de ônibus, leva três dias e paga R$ 550, quando uma promoção de avião era R$ 250. Ele [Guedes] quer mudar isso? Para ele está bom [como está]”, afirmou Marinalva. 

“Tem empregada que, no almoço, vai comer lanche, em vez de entrar no [restaurante a] quilo. Paga mais caro por uma comida pior porque acha que restaurante é lugar da patroa, de gente rica. Para o ministro isso é ruim? Ele acha bom. Mas eu digo: a gente pode entrar onde quiser, é só ter conhecimento”, continua.

Fonte: Gazeta Web

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