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28 de março de 2024

Anadia/AL, 28 de março de 2024

Casal que agrediu fiscal da Vigilância Sanitária quebra o silêncio e insiste: ‘Não tem por que pedir desculpas’

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 10 de julho de 2020

DDD
Casal que agrediu fiscal da Vigilância Sanitária, Leonardo Santos Neves de Barros e Nivea Valle del Maestro contam sua versão


O casal de engenheiros Leonardo Santos Neves de Barros, 43 anos, e Nivea Valle Del Maestro, 39, não se arrepende de ter “questionado incisivamente”  — o que para muitos foi intimidação e ameaça —  o superintendente de Educação e Projetos da Vigilância Sanitária, o médico veterinário Flávio Graça, no último sábado durante a fiscalização de um restaurante em que a dupla estava na Avenida Olegário Maciel, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. O vídeo da intimidação foi divulgado no dia seguinte pelo Fantástico, da TV Globo. Hoje, ao GLOBO, o engenheiro civil e a química afirmaram que apenas se arrependem de ter saído de casa naquele dia para ir ao restaurante que gostam e não têm por que pedir desculpas para Graça.

— Arrependimento não é uma palavra que eu usaria. Eu diria que o meu tom de voz pode ter sido alterado, mas eu continuo achando que não é uma questão de estar certo ou não. Estávamos usando do nosso direito de questionar o trabalho daquele servidor. Eu posso questionar qualquer servidor público ou quem está nos atendendo. Ele estava trabalhando para gente e temos o direito de questioná-lo — disse Nivea Valle.

O casal quebrou o silêncio e deu sua versão para a agressão quatro dias após a reportagem ser divulgada. Ao lado de quatro advogados, em um escritório na Barra da Tijuca, Leonardo afirma que “em nenhum momento quis intimidar ou ameaçar o fiscal” e que contestaria qualquer decisão de um servidor público caso ele achasse que estava errada ou excessiva. O engenheiro também não vê motivo para pedir desculpas a fiscal. Já que “como pagador de seus impostos, tem direito a questionar”.

— Qualquer pessoa tem direito de questionar o serviço público. Ali não foi afronta ou qualquer tipo de intimidação. Questionei aquilo que achei que não era certo, pois tenho conhecimento no assunto. Talvez, o que houve foi uma descontextualização da situação. E outra, eu como pagador do imposto, eu pago salário de qualquer servidor público. As pessoas ficam com medo de dizer isso. Mas o termo servidor público é de servir ao público. Eu queria uma resposta. Não estou pedindo nada demais — afirmou Leonardo.

Imagens do Fantástico mostram Nívea e Leonardo discutindo com o fiscal da prefeitura do Rio. Para a química, “aquela situação teve um contexto”. Ela garante que só uma parte do incidente foi ao ar.

— No contexto, não acredito que tenha acontecido excesso. Mas, quando eu vejo aquela cena fico com raiva daquela mulher. Não é possível que um ser humano aja, do nada, daquela maneira. Mas não foi do nada. Não foi daquele jeito. Existe um contexto, que vem de situação antes e depois.

No dia da confusão, segundo a Vigilância Sanitária, o estabelecimento estava lotado, muitos clientes estavam sem máscaras e alguns deles tentaram impedir a fiscalização da autarquia.

Leonardo dá outra versão. Frequentador do restaurante há anos, o casal diz que chegou ao estabelecimento pouco depois das 18h e que o espaço estava vazio. Ao longo da noite, ele encheu. Para o engenheiro civil, não houve desrespeito às normas da prefeitura, que estabelece protocolos de segurança. Leonardo afirmou que o interior do estabelecimento estava vazio.

— Há mais de três meses não íamos ao bar que sempre frequentamos. Naquele sábado, quando já podia sair de casa para ir a algum estabelecimento público, decidimos ir lá beber uma cerveja. Chegamos quando havia pouco gente. Bebemos, comemos e ficamos conversando. Com o passar das horas, vi que começou a se formar uma fila. Foi quando também chegou a Vigilância Sanitária e a Guarda Municipal chegaram e falaram que tínhamos que sair. Então, querendo questionar o motivo, fui até o fiscal perguntar por que deveríamos sair – já que todos estavam respeitando as regras. Para me proteger, comecei a filmar a ação. Nesse momento fui em direção do Flávio — conta Leonardo.

— Então, falei para quais os critérios. Eu só queria permanecer no bar e aproveitar a noite — salientou.

Durante a discussão, Leonardo falou para o fiscal da Vigilância Sanitária que “ele era o seu chefe” e Nivea completou dizendo que “eles pagavam o salário” do agente público.

Para o casal, Flávio Graça não deveria ter usado o termo “cidadão”, que para o casal soou como pejorativo e ofensivo.

— Durante todo o tempo ele respondia: ‘Cidadão, vá lá na prefeitura para ver o procedimento. Procura a Superintendência’. Aquilo dava a entender que ele não tinha obrigação de responder. Então, esse ‘cidadão’ se tornou algo pejorativo. Senti na hora que aquilo de uma forma agressiva. Tipo: ‘Eu sou a autoridade aqui. Vá procurar os direitos de vocês em outro lugar’. Naquela hora, eu interferi para defender o meu marido e afirmei que ele um engenheiro civil formado. Isso quer dizer que o meu marido, tem sim, direito de questionar porque ele tem formação para tal — pontua Nivea, que segue:

— Quando eu falo “melhor do que você”, digo que o meu marido sabe o que fazer naquela situação e o fiscal, não. Em nenhum momento ele apresentou dados para provar o que estava fazendo. Em nenhum momento eu quis humilhar e ofender o agente. Naquele momento eu estava nervosa e alterei o meu tom de voz para defender o meu esposo. O meu marido falava com ele e toda vez ele saia andando. Só fiz aquilo tudo para defender o Leonardo. Volto a dizer: o termo cidadão foi ofensivo

De acordo com a engenheira, a fala foi descontextualizada.

— As vezes você fala algo em um tom e é mal interpretado. E às vezes o tom de voz passa como agressivo no calor do momento. Em nenhum momento eu quis menosprezar aquele fiscal. Só quis mostrar que ele não estava falando com qualquer um — afirmou a Nivea. 

A reportagem questionou Leonardo se ele agiria com um policial militar como ele abordou e tratou o servidor da Prefeitura. O engenheiro afirmou que faria do mesmo jeito.

— Se o PM me abordar ríspido, vou dizer: “só um pouquinho, por favor”. Eu vou ponderar. Nãoé  porque ele está com uma arma ou algema que poderá tratar os outros com rispidez.

O casal contou ao EXTRA que no momento em que a Vigilância Sanitária e a Guarda Municipal chegaram ao local, eles comiam e bebiam. Como o estabelecimento foi interditado, eles se esqueceram de colocar a proteção facial.

— Quando saímos do restaurante estávamos sem máscara. Não foi maldade ou rebeldia. A gente usa máscara. Sempre tomamos os cuidados. Naquela situação foi automático. Usar máscara para a gente não se tornou hábito, porque sempre trabalhamos de casa na pandemia. Se a gente fosse caixa de supermercado e trabalhasse com aquilo o dia inteiro talvez a gente tivesse hábito. Mas, não. Não temos esse hábito. Saiamos muito pouco à rua. Mas, quando saímos usamos a proteção — disse Nivea.

No dia seguinte a reportagem, Nivea foi demitida da Taesa, local onde trabalhava como especialista de planejamento e controle desde janeiro deste ano. Na quarta-feira, a empresa onde Leonardo prestava serviço resolver desliga-lo. O casal afirma que foi condenado pelas empresas onde trabalhavam sem o amplo direito de defesa.

A dupla afirma que estavam jantando quando ficou sabendo por amigos da repercussão da reportagem. Logo em seguida, eles começaram a receber ameaças de todos os tipos. Inclusive de morte. Na terça-feira, segundo os engenheiros, homens foram à casa da mãe de Nivea, uma senhora de quase 70 anos, fazer ameaças. Nos próximos dias o casal vai se mudar do condômino onde mora.

— São ameaças de todos os tipos. Fomos condenados sem direito a defesa. Hoje,  a nossa vida acabou. Graças aos amigos não fizemos uma loucura, porque o que estão fazendo com a gente é um linchamento virtual. Tem todos os nossos dados pessoais. Tivemos que excluir nossas redes sociais por conta disso. A nossa vida está acabada — disse Leonardo.

O engenheiro, com medo, conta que nos últimos dias teve que sair escondido dentro de um carro para ver o filho pequeno no dia do seu aniversário e que os amigos do menino já falam sobre a situação.

— O meu filho não sabe o que está acontecendo. Passa isso na TV toda hora. Fui correndo ver o meu filho no dia do aniversário e só fiquei 10 minutos. Nunca imaginei passar por isso — desabafou Leonardo.

Nivea Del Maestro afirmou que nunca fez o registro no Conselho Regional de Química porque decidiu não seguir na carreira. Segundo ela, após se formar foi trabalhar na área de gestão e se especializou em gerenciamento de projetos de Tecnologia da Informação (TI).

— Nunca exerci a profissão que me formei. Especializei-me em outros cursos e não vi a necessidade em fazer o registro. Nunca me importei em tirar — destacou.

Nivea Del Maestro e Leonardo Neves também falaram sobre a AC Engenharia e Consultoria Eirelli, criada em abril de 2017. De acordo com Neves, em 2019, quando recebeu uma proposta de emprego ele decidiu repassar a empresa para o nome da esposa. Como ela não é habilitada na área, o casal decidiu dar apenas consultorias.

— Sou engenheiro e tenho registro no Crea (Conselho Regional de Engenheiros e Arquitetos). Como ela tem especialização em gerenciamento de projetos, a empresa ficou só para consultorias. (Atualmente) só fazemos consultas de projetos e processos. Nunca a parte técnica — afirmou Leonardo.

Questionado se pediria perdão ao fiscal da Vigilância Sanitária, Leonardo Neves diz que não fez nada de errado para “se desculpar” e que respeita o trabalho dos servidores do estado.

— Não tem por que pedir desculpas. Só fui questionar algo de que entendo. Não desacatei e não ofendi ninguém. Ao lado tinham dois PMs e dois guardas. Se eu tivesse descarado eu estaria preso. Eu sou de uma área que a gente debate sempre. Então, fui discutir com o agente.

Sobre o auxílio emergencial de R$ 600 que recebeu do governo federal, Leonardo voltou a confirmar que pediu o benefício. Recebeu as três parcelas, mas, segundo ele, devolveu.

— Eu estava desempregado quando pedi o auxílio. Foi para pagar a pensão do meu filho. Quando eu recebi a primeira parcela, eu consegui um emprego. Como iria receber as outras duas, juntei todo o valor (de R$ 1.800) e já devolvi.

Fonte: Yahoo  

 

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