O anúncio do fim dos repasses do Auxílio Emergencial irá impactar na forma de consumo das famílias e os efeitos econômicos serão diferenciados nos estados em função de suas estruturas econômicas. Para o economista Cícero Péricles, em Alagoas esse impacto  será muito forte tendo em vista o volume de recursos e a capilaridade alcançada por esse programa de renda.

Conforme dados apresentados pelo economista, de abril a dezembro do ano passado, 1,2 milhão de alagoanos passaram a receber o auxílio, com valores entre R$ 600, no geral, e R$ 1.200 para as mães solteiras que estavam inscritas no programa Bolsa Família. Nos cinco primeiros meses, o volume de recursos chegou a R$ 780 milhões mensais, somando 3,8 bilhões de reais até agosto. 

A partir de setembro, com a redução de 50% nos valores, o pagamento mensal ficou em 320 milhões, uma soma de R$ 1,3 bilhão até dezembro. “Agora em janeiro, apenas os 420 mil inscritos no Programa Bolsa Família continuarão recebendo um benefício no valor médio de R$186 reais, o que significa 78 milhões mensais, ou seja, apenas 10% do que era pago na primeira fase do Auxílio Emergencial. Com a redução de 2/3 dos beneficiários e o retorno para a situação de cobertura da pré-pandemia, é provável uma queda muito forte no consumo popular”, disse Cícero Péricles. 

Os dois segmentos que mais sentirão o corte do Auxílio Emergencial serão o comércio e a rede de serviços. “Ao longo dos noves meses de pagamento do Auxílio o comércio de bairro, as feiras e mercados, o varejo popular – padarias, mercadinhos, açougues, armarinhos, lojas de material de construção etc. e o setor de serviços pessoais – salões de beleza, academias, clínicas de bairros, transporte, assim como bares, lanchonetes e restaurantes, etc. absorveram a maior parte desses recursos. Indiretamente, o impacto chegará à indústria de bens populares – móveis, material de limpeza, vestuário – e a agricultura de alimentos, que produz para feiras e abastecimento local, também sofrerão perdas. O auxílio emergencial contribuiu para segurar o consumo, mas não evitou sua queda geral, até novembro do ano passado predominavam as taxas negativas de consumo no comércio de -3,1% e no setor de serviços de -17,7%.”, afirma o economista. 

Desemprego

Atualmente a taxa de desemprego em Alagoas está em torno de 20%, sendo a terceira maior do país, tendo um total de 220 mil pessoas sem trabalho. Segundo o Cícero Péricles, essas pessoas buscam, mas não conseguem um emprego e esse número de pessoas desalentas, pessoas que desistiram de procurar emprego, chega a quase 300 mil. 

De forma informal, temos 460 mil  trabalhando sem contrato de trabalho, nem carteira. “É um quadro generalizado. O Auxílio tinha chegado a todas essas pessoas. Esses trabalhadores pobres irão concorrer num mercado de trabalho cada vez mais fechado, pagando menos. O corte desse programa afetará, também, a vida das micro e pequenas empresas que são as maiores empregadoras de mão de obra próxima, familiar. Sem esse benefício, a recuperação econômica será bem mais difícil”, completou o economista. 

Fonte: Cada Minuto