Por: Miguel Castelo Branco
“É só saudade, né? Saudade de ver o time em campo mesmo, porque a emoção de estádio é outra coisa”, disse Lucas Mendes, mineiro radicado em Maceió, torcedor apaixonado do Atlético-MG e presidente do AlaGalo.
O Galo e o Botafogo fazem a final da Copa Libertadores da América deste ano, no Monumental de Nuñez, em Buenos Aires, às 17h deste sábado (30). Em Maceió, a quase 2.000km de Belo Horizonte, mais de 2.000km do Rio de Janeiro e 4.500km da capital argentina, torcedores fanáticos dos clubes finalistas se reúnem em bares da parte baixa da cidade, para bradar as bandeiras alvinegras.
Botafogo e Atlético não são das torcidas mais nacionais do País. Mesmo estando dentro do circuito sudestino, em termos de popularidade, os alvinegros ficam atrás de clubes como Flamengo, Corinthians e os demais paulistas. Mesmo assim, a distância do estádio não impede o amor do torcedor de fundar comunidades e gritar gol junto dos seus.
Lucas conta como o amor pelo Atlético Mineiro aproxima e cria laços afetivos. “É mais do que um consulado, é uma família. O Jairão, por exemplo, que tá aqui comigo, é meu ‘amigo-irmão’, a gente se encontra duas vezes na semana. A gente tem um grupo mais seleto, de mineiros atleticanos, que nos conhecemos pelo consulado. Então, foi uma forma de a gente fazer amizade”, disse.
E acrescentou: “Duas vezes por semana a gente reúne esse grupo, a gente estava reunido ontem inclusive, fomos dormir 5 horas da manhã. A gente sempre se reúne para tomar uma cervejinha, para jogar um baralho, para ouvir uma música, tirar resenha. Enfim, acaba que o consulado é mais do que só torcer para o Atlético, é também fazer amizade, é espairecer a mente, relaxar, fazer amigos”, afirmou o presidente.
O AlaGalo, único consulado do Atlético-MG em Alagoas, foi fundado em 2017 e já teve diversos pontos de encontro, todos na parte baixa da capital alagoana. O Barricas, o Pedra Virada e o Sabor Mineiro já foram alguns dos locais que receberam as reuniões dos mineiros, mas hoje em dia o destino é o Bar Buenos Aires.
O bar e restaurante é localizado na Jatiúca e, curiosamente, leva o nome da cidade que vai receber a final da Libertadores. Talvez não seja exatamente na mesma Buenos Aires que a torcida do Galo sonha em estar, mas o consulado mineiro em Alagoas já viveu ótimos momentos na Amélia Rosa.
“Um momento especial foi o Campeonato Brasileiro de 2021. O jogo do título, Galo e Bahia, que a gente tomou 2 a 0 e virou em 5 minutos. Só tinha uma televisão lá dentro e tinham cerca de 100 pessoas aqui, estava abarrotado. Meu aniversário era no dia seguinte e a gente virou a noite aqui no Consulado, tocou banda, tinha muita gente… Foi muito especial!”, contou Lucas.
Expectativa para a final? Mesmo com o time fora das melhores fases, quem cantou “Eu acredito” em 2013, ano do primeiro e único título da Libertadores do Atlético, segue cantando em 2024 também.
“A gente sempre acredita. É o Galo. Brasileiro é Brasileiro, Copa do Brasil é Copa do Brasil, Libertadores é Libertadores. Libertadores é outra coisa, o brio do time é outro, da torcida é outra, a vontade é outra, é jogo único, enfim… Claro que o favorito é o Botafogo. Pelo futebol jogado, o Botafogo está jogando muita bola, e o Galo não está jogando nada. Só não jogou bem contra o Flamengo, na final, mas ia jogando bem na Copa do Brasil. A expectativa é lá no alto, a gente vai ser campeão da Libertadores, eu tenho certeza, a gente sempre acredita”.
A fé no título é tanta que até promessa os atleticanos fizeram. Em caso de título do Mineiro, alguns membros do AlaGalo, incluindo o presidente, pretendem ir andando de Maceió até a Praia do Francês, em Marechal Deodoro, trajando as cores do clube e carregando uma bandeira.
Do lado botafoguense, quem reúne os torcedores do Glorioso é a Confraria do Botafogo Maceió. Outros lugares como o Restaurante Nalu, e o próprio Sabor Mineiro, também já foram pontos de encontro dos botafoguenses em Maceió, mas hoje é o Bar do Cação que recebe os torcedores da equipe carioca.
Também na Jatiúca, o bar fica apenas a 500 metros do Buenos Aires e, em dia de jogo, ostenta uma clássica bandeira da confraria, que homenageia os ídolos alvinegros Garrincha e Nilton Santos.
Para Gabriel Azevedo, botafoguense de Niterói-RJ, acompanhar os jogos na confraria é mais do que só se reunir para ver o jogo. Além disso, o torcedor mencionou a falta que faz ver o Fogão de perto.
“Minha primeira memória de criança é no estádio, assistindo a um jogo do Botafogo com meu pai e meu irmão. Desde quando o Botafogo jogava no Caio Martins, em Niterói, eu sempre frequentei o estádio. Então, estar ali pertinho, indo a jogos, faz muita falta. Mas, com o tempo, conheci muitos botafoguenses por aqui, bem mais do que imaginava que teriam em Maceió. Ter esses bares voltados só para o Botafogo, onde a galera se organiza e torce junto. Isso ajuda a amenizar a sensação de estar longe. Eu me sinto em casa”, contou.
O Botafogo é um clube que não tem o melhor dos históricos em finais, mas, mesmo assim, se mostra como favorito ao título, ainda mais pelo futebol que vem jogando. Porém, se mostra mais desconfiante que o torcedor do Atlético. Gabriel contou o tamanho da importância do dia 30 para ele.
“É o dia mais importante da minha vida. Para o botafoguense, quanto mais fatores contam a nosso favor, mais desconfiados ficamos. Na bola, temos vantagem e isso me deixa confiante. Mas se tratando de uma final, jogo único, tudo pode acontecer. Sinceramente, não sei como estarei no dia, provavelmente atormentado. Mas quero desfrutar deste momento também, ao lado da família e dos amigos. É o dia que todo botafoguense sempre quis viver”, concluiu.
Seja no Sudeste ou no Nordeste do país, o futebol segue quebrando fronteiras regionais e angariando apaixonados independentemente da distância. As comunidades alvinegras que se reúnem na Jatiúca são atestados da grandeza da maior paixão nacional: o futebol. Esporte este que cria laços, forma novas amizades e cultiva boas memórias, seja no alambrado ou na mesa de um bar.
Redação com Gazeta web
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