No dia 10 deste mês, Marina Silva (Meio Ambiente), Sonia Guajajara (Povos Indígenas) e Silvio Almeida (Direitos Humanos) viajaram a Auaris, em Roraima, para acompanhar a crise humanitária que persiste no território.
Junto à Base Aérea de Brasília, organizadores da operação foram informados de que não receberiam suporte da Defesa, pasta com a qual há um acordo de cooperação para atuação no território. A justificativa dada foi a de que as aeronaves disponíveis não tinham autonomia de voo para chegar a Auaris.
A falta de disposição da Defesa incomodou e causou estranheza, mas não surpreendeu lideranças e autoridades que há meses lidam com a crise dos yanomamis.
Para integrantes do governo ouvidos pela coluna, a percepção é a de que os militares alocados na região estão “aquartelados”, deixando de fazer ações de rotina e de vigilância na área ameaçada pelo garimpo.
Em pelo menos um dos ministérios em que há insatisfação com a atuação das Forças Armadas, contudo, a orientação dada é a de que, em vez de apontar dedos, os auxiliares busquem criar soluções e sua própria logística —como feito na viagem a Auaris.
Procurado, o Ministério da Defesa não comentou a negativa de empréstimo das aeronaves. Afirmou, por outro lado, que o esforço aéreo dos militares no combate ao garimpo ilegal somou 7.400 horas de voo, o equivalente a “mais de 40 voltas na Terra”.
“Desde o início da força-tarefa do governo federal, em janeiro de 2023, o apoio logístico das Forças Armadas em auxílio aos Yanomami resultou na distribuição de cerca de 766 toneladas de alimentos e materiais transportados, o que ultrapassou a marca de 36,6 mil cestas de alimentos distribuídas”, disse a pasta, em nota.
“Além disso, foram realizados 3.029 atendimentos médicos e 205 evacuações aeromédicas. Já nas ações de combate ao garimpo ilegal, os militares detiveram 165 suspeitos, entregues aos órgãos de segurança pública. Para as ações foram empregados, aproximadamente, 1.400 militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica”, afirmou ainda.
Como mostrou a Folha, as Forças Armadas ampliaram nos últimos meses a ausência de ações de combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. O movimento coincide com a retomada da força da exploração ilegal de ouro e cassiterita na região.
Há falhas do controle do espaço aéreo feito pela Aeronáutica, uma vez que aeronaves do garimpo circulam livremente pelo território. Na linha da fronteira, uma pista de pouso clandestino abriga nove aviões de pequeno porte, suspeitos de abastecer os maiores garimpos da terra yanomami.
*Redação com Folha de São Paulo