Anadia/AL

28 de outubro de 2024

Anadia/AL, 28 de outubro de 2024

Sintomas, contaminação, tratamentos: entenda por que a mpox não é a nova Covid-19

Desde que a OMS acionou seu nível de alerta mais alto, o de urgência de saúde pública internacional (Usppi) para a mpox, as preocupações e dúvidas sobre a doença não param de aumentar. A doença causou ao menos 19.000 casos e 548 mortes no continente africano, em 2024. Apesar disso, o diretor da OMS Europa, Hans Kluge, afirmou na terça-feira (20), que “a mpox não é a nova covid”. A RFI explica as principais características da doença que a diferenciam do coronavírus.

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 22 de agosto de 2024

Uma profissional de saúde leva em uma bandeja um tratamento contra a mpox em um hospital em Nyiragongo, no norte de Goma, na República Democrática do Congo, em 17 de agosto de 2024. © GUERCHOM NDEBO / AFP

Por que a OMS afirma que a mpox não será a nova Covid-19?

De acordo com Hans Kluge, muitas lições já foram tiradas da experiência com a pandemia de covid. Parte da afirmação do diretor da OMS Europa, também pode vir do fato que já existem vacinas e tratamentos para a doença conhecidos e testados.

Em 2022, a OMS deflagrou o mesmo nível de alerta Usppi, quando a doença se espalhava pelo mundo e conseguiu conter a pandemia. Neste ano, a mpox ficou conhecida mundialmente pelo clade (grupo de organismos originados de um único ancestral comum exclusivo, mas apresentam diferenças genéticas) 2b, o primeiro a se espalhar fora da África a partir de uma pessoa contaminada proveniente da Nigéria, causando 90.000 casos em mais de 75 países.

Em maio de 2023, após uma queda constante dos casos, a OMS colocou fim ao alerta. O sucesso foi, em grande parte, devido ao acionamento rápido da vacinação em diversos países.

Atualmente, as preocupações se centram no clade 1b, encontrado pela primeira vez nos humanos em setembro de 2023, proveniente do clade 1, cuja principal característica é uma maior letalidade e transmissibilidade.

Como acontece a contaminação e quais os sintomas?

O vírus é transmitido principalmente pelos fluídos contidos nas lesões cutâneas dos doentes, mas também por secreções do trato respiratório superior. Concretamente, qualquer contato físico próximo com uma pessoa infectada, desde um abraço até a relação sexual, é potencialmente perigoso, mas também, em menor grau, uma conversa prolongada.

Qualquer contato com objeto, tecido ou superfície não desinfetado após seu uso pelo paciente também apresenta risco de contaminação.

Após um período de incubação de cinco a vinte e um dias, o mpox causa sintomas como febre, dores no corpo e dor de cabeça, seguidos, alguns dias depois, por lesões cutâneas que passam do estágio de manchas vermelhas para bolhas em poucas semanas e, por fim, formam crostas. Depois que as crostas caem, o doente é considerado curado e não contagioso.

Durante o surto de 2022-2023, como a transmissão ocorreu principalmente em relações sexuais, a maioria dos pacientes apresentou lesões dolorosas nas áreas genital e oral, nas membranas mucosas. Mas nos casos atuais, as lesões de pele podem cobrir todo o corpo, inclusive o rosto.

Mas muitas questões persistem sobre os modos de transmissão: as pessoas assintomáticas são contagiosas? O vírus é transmitido através do sêmen e das secreções vaginais? É possível pegar a doença respirando o mesmo ar que uma pessoa doente, como no caso da Covid-19? Foi comprovada a presença de partículas virais no ar do quarto do doente, mas ainda não se sabe se são infecciosas.

Qual o tratamento para a mpox?

O tratamento da infecção pelo vírus mpox visa principalmente aliviar os sintomas (especialmente a dor) e prevenir ou tratar complicações como a infecção e as cicatrizes das lesões.

Entre os tratamentos disponíveis estão antivirais, terapias com imunoglobulinas específicas e plasmas hiperimunes.

Para pacientes com forma grave da doença é recomendado o tecovirimat, antiviral que impede a propagação do vírus no corpo, aprovado pela Agência Europeia de Medicamentos e a Agência Americana de Alimentos e Medicamentos (FDA).

Existe vacina para a mpox?

Sim. A agência sanitária da ONU recomenda diversas vacinas contra a mpox, no entanto, uma vacinação em massa como a organizada na época da Covid-19 não é recomendada. Somente pessoas que apresentam um risco elevado de exposição ao mpox devem ser vacinadas.

Atualmente a OMS recomenda a utilização das vacinas MVA-BN ou LC16 ou da ACAM2000.

Mas é importante lembrar que a vacinação não proporciona proteção imediata, por isso é importante continuar a evitar qualquer contato de risco com uma pessoa contaminada pelo vírus ou com suspeita de estar infectada.

Além disso, é importante lembrar que qualquer que seja a eficácia da vacina após uma ou duas doses, nunca será de 100% e a prevenção deve ser combinada.

Profissional de saúde aplica a vacina Imvanex, usada para proteger contra o vírus mpox, em uma farmácia de Lille, na França, em 10 de agosto de 2022.

Profissional de saúde aplica a vacina Imvanex, usada para proteger contra o vírus mpox, em uma farmácia de Lille, na França, em 10 de agosto de 2022. © François Lo Presti / AFP

Quais são as recomendações da OMS?

A OMS recomendou na segunda-feira (21) que os países afetados pela clade 1b da mpox, sobretudo na África, lançassem planos de vacinação em áreas onde surgiram casos, visando indivíduos com alto risco de infecção, como pessoas que tiveram contato com doentes – incluindo contatos sexuais – crianças, profissionais de saúde e cuidadores.

No que diz respeito ao transporte internacional, a OMS recomenda “estabelecer ou reforçar acordos de colaboração transfronteiriça relativos à vigilância e gestão de casos suspeitos de mpox, à comunicação de informações aos viajantes e às empresas de transporte”.

Mas isto deve ser implementado “sem recorrer a restrições gerais às viagens e ao comércio que teriam um impacto desnecessário nas economias locais, regionais ou nacionais”, sublinha.

A OMS também fez um apelo aos países afetados para que estabeleçam ou reforcem mecanismos de coordenação de resposta a emergências em âmbito nacional e local, para reforçar a vigilância e rastreio de doenças e para notificarem os casos à OMS “em tempo útil e numa base semanal”.

A mpox é uma doença sexualmente transmissível?

Não se pode considerar a infecção por mpox uma doença sexualmente transmissível (IST), no senso estrito do termo, porque ainda não foi estabelecido que acontece transmissão pelo esperma ou outros fluidos biológicos. Mas as relações sexuais reúnem as condições para uma contaminação devido ao contato íntimo e à exposição prolongada a secreções. Por isso, ela se aparenta a uma IST, com lesões cutâneas ou nas mucosas de zonas genitais, anais e orais.

Pelo que se sabe atualmente da doença, no caso da mpox, não é possível garantir que o preservativo sozinho seja suficiente para impedir uma contaminação. Outras medidas de prevenção são necessárias, principalmente pelas pessoas próximas ao doente, como lavar as mãos regularmente, evitar todo contato direto com a pele da pessoa contaminada ou com objetos usados por ela. Além disso, é recomendando o uso de máscaras.

Depois que os sintomas desaparecerem, o Ministério da Saúde francês recomenda o uso do preservativo durante 8 semanas.

Quais são os riscos de morrer de mpox?

A mpox geralmente é curada de maneira espontânea. O perigo de o mpox está mais ligado a infecções secundárias nas lesões cutâneas, que podem levar à septicemia, do que ao próprio vírus. Por isso, o índice de sobrevivência depende muito do acesso a tratamentos.

A taxa de letalidade do clade 1a pode ser estimada entre 3% e 11% dependendo da pesquisa. Na República Democrática do Congo, onde circulam os subclades 1a e 1b, as autoridades estimam que cerca de 3% a 4% dos pacientes morreram desde o início do ano.

Já o clade 2 é menos perigoso, tendo a sua letalidade antes de 2022 sido estimada em menos de 3%, particularmente na Nigéria, onde as transmissões entre humanos explodiram desde 2017 com o clade 2b.

Mas o surto de 2022-2023 fora de África causou apenas 140 mortes em cerca de 90 mil casos espalhados pelo mundo, uma letalidade inferior a 0,2%. O rápido acesso a antibióticos e à vacina e a prevenção e mobilização dos pacientes conseguiram conter rapidamente a epidemia.

Fonte: RFI

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