O jornal Le Figaro recorda que este fórum, realizado a cada três anos, foi lançado por Pequim no ano 2000 sob a bandeira do desenvolvimento, mas se tornou uma ferramenta de influência estratégica destinada a marginalizar os países ocidentais do continente africano, por meio de investimentos econômicos colossais e oferta de tecnologia.
Xi Jinping fará seu discurso na quinta-feira, mas em fevereiro deste ano já tinha anunciado que o mundo passa atualmente por transformações não vistas há um século. “O sul global representado pela China e pela África está crescendo e fazendo história”, disse o presidente chinês na época.
No plano militar, americanos e europeus já foram expulsos da região do Sahel, substituídos por mercenários russos no combate aos grupos extremistas islâmicos. A invasão russa na Ucrânia minou de vez as chances de europeus continuarem a investir nos países africanos. Com isso, a China pode se dedicar a nutrir uma influência política a longo prazo na África.
Segundo especialistas, à medida que as relações com o Ocidente endurecem, vale até desafiar o lugar dos Estados Unidos no Oriente Médio. Teria sido com o intuito de “cortejar” o sul global que Pequim se apresentou como mediador da causa palestina, escreve o jornal francês.
Concorrência
Entretanto, nem todos os especialistas nas relações sino-africanas acreditam que a China tenha os meios para continuar a investir maciçamente na África. Os empréstimos chineses para países do continente recuaram de 28 bilhões em 2016 a 4 bilhões em 2023, assinala o Le Figaro.
O geógrafo francês Xavier Aurégan, autor do livro “China, potência africana”, também afirma em entrevista ao diário que outros fatores fazem com que as elites africanas tenham uma visão mais pragmática de seus parceiros comerciais, estabelecendo a concorrência com outros atores, sejam eles a Índia, a Turquia ou outros países.
Fonte: RFI