Anadia/AL

15 de outubro de 2024

Anadia/AL, 15 de outubro de 2024

Moradores dos Flexais criticam a requalificação

Dois anos depois do acordo socioambiental, prazo para as obras acabou no dia 6 de outubro; morador não é consultado / 10:23 hs

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 15 de outubro de 2024

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Foto: Ascom MPF/AL

Por: Ricardo Rodrigues

Na última sexta-feira, integrantes do Ministério Público Federal (MPF), do Ministério Público do Estado de Alagoas (MP/AL), da Prefeitura de Maceió e da Braskem realizaram uma inspeção nas obras de revitalização das ruas Tobias Barreto e Faustino Silveira, conhecidas como Flexais, no bairro de Bebedouro, em Maceió (AL). Segundo a assessoria do MPF, “a visita teve como objetivo monitorar o cumprimento das medidas previstas no acordo firmado entre a Braskem e as instituições”.

No entanto, a notícia dessa visita gerou uma onda de insatisfação por parte dos moradores dos Flexais e das vítimas da mineração que acompanham de perto o isolamento do bairro. “Como morador dos Flexais, eu avalio essa obra de revitalização um fracasso, uma derrota, um massacre e uma falta de respeito com nossa comunidade, que vive esse ato de abandono e descaso, com a nossa dignidade atropelada, tirada a força”, desabafou o comerciante Valdemir Alves, morador do Flexal de Cima.

Ele lembrou que o acordo foi feito sem a participação dos verdadeiros moradores dos Flexais e suas lideranças. Além disso, o prazo dois anos para a conclusão das obras foi encerrado no último dia 6 de outubro, e renovado sumariamente pelo MPF sem a participação das lideranças da comunidade. “Essas obras só trouxeram transtornos para os moradores e até agora não terminaram. Gostaria de saber se a Braskem vai ser multada por isso”, questionou Alves.

Neirevane Nunes, o projeto de requalificação socioambiental – acordado com a Braskem, a Prefeitura de Maceió e os órgãos de fiscalização e controle – é uma nova violência contra os moradores dos Flexais. Segundo ela, os moradores que já sofrem como os efeitos deletérios da mineração predatória, com suas casas rachadas e sob risco de desabamento, além do abandono e do isolamento da vizinhança, imposto por essa situação há mais de seis anos.

“O Acordo Flexais não teve a participação da população, foi reprovado pelos moradores e isso foi registrado através de audiências e reuniões com a força tarefa, até mesmo com a OAB com o relatório sobre as Violações dos Direitos dessas famílias”, disse.

Obras de revitalização, que fazem parte do acordo socioambiental, estão em andamento nos Flexais (Foto: Ascom MPF/AL)

Projeto nega direito à população de reparação integral e justa

O Projeto, segundo Neirivane Nunes, nega o direito a população dos Flexais de uma reparação integral justa. “É um projeto imposto!! Imposição é violência contra a população dos Flexais”, destacou.

“O projeto fala que as ações de requalificação irão reverter a situação de ilhamento socioeconômico e nós sabemos que isso não é verdade. Nada que for feito neste projeto imposto irá reverter a tamanha violação de diretos individuais e coletivos dessa população não irá reverter a situação de vulnerabilidade dessas famílias, não irá reparar os danos materiais, morais e existenciais causados pela Braskem. Não irá reverter a afetação a saúde mental e física, dano também causando pela Braskem. Não irá trazer a valorização dos imóveis que apresentam as mesmas patologias dos imóveis que já foram evacuados”, argumentou Neirevane, acrescentando: “Isso é um projeto de violência, desumano dentro do processo de apagamento das vítimas da Braskem”.

O prazo do acordo terminou sem que as ações de requalificação sociourbanística tenham sido concluídas e as medidas acordadas implementadas. O documento menciona que a duração do programa de requalificação e as ações relacionadas têm um prazo de até 24 meses após a assinatura do Acordo, conforme indicado em várias seções. Além disso, a cláusula que trata do cumprimento das obrigações e a possibilidade de reavaliação das soluções, incluindo a realocação, sugere que o acompanhamento e a avaliação das medidas devem ocorrer durante esse período de 24 meses.

No entanto, nem a Braskem e nem o Município de Maceió cumpriram com as medidas estabelecidas no Acordo Socioambiental. Como se não bastasse, prorrogaram o prazo sem consultar a comunidade e sem dar qualquer satisfação. “Exatamente, são 6 anos de impunidade do crime da Braskem onde as autoridades decidem tudo sobre nós sem nós”, concluiu a Neirevane Nunes, ex-moradora do bairro de Bebedouro.

Durante a visita, a equipe buscou esclarecimentos sobre a suposta remoção de árvores consideradas centenárias pela população. (R.R.)

Redação com Tribuna Hoje

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