Por Camila Alves e Thiago Ferri — São Paulo
Savério Orlandi quer tirar o Palmeiras do que define como “uma noite sombria”. Candidato de oposição na eleição presidencial marcada para o próximo domingo, o conselheiro de 54 anos de idade entende que na gestão de Leila Pereira, sua adversária no pleito, intensificou-se a perseguição a adversários, que culmina no que ele diz ser uma censura à sua chapa.
Em entrevista ao ge, o candidato da chapa “Palmeiras Minha Vida É Você” fez críticas ao atual governo e detalhou as propostas para as principais áreas do clube: departamento de futebol, marketing, finanças, esportes olímpicos, Avanti e Allianz Parque.
Defensor da permanência de Anderson Barros, João Paulo Sampaio e Abel Ferreira, Savério cita como uma das principais mudanças que deseja fazer na Academia de Futebol o modelo de contratações, pensando no Mundial de Clubes de 2025, tido por ele como o torneio mais importante da história alviverde.
– Tenho visto o que supostamente seria uma estratégia de contratação, que não concordo. De não considerar a hipótese de ter jogadores de idade avançada, experientes, que o jogador tem perfil específico. Temos que procurar o equilíbrio. Jamais vou fazer restrição de que não vai trazer medalhão. Depende da circunstância – resumiu.
- Presidente: Savério Orlandi
- 1º vice: Luiz Pastore
- 2º vice: Roberto Silva
- 3º vice: Luciana Santilli
- 4º vice: Felipe Giocondo
O ge publicará nesta quinta-feira a entrevista com Leila Pereira, da chapa “Palmeiras Campeão”. Os dois candidatos disputam os votos dos sócios na assembleia geral, que acontecerá ao longo de todo o domingo. Quem vencer, comandará o Verdão até o fim de 2027.
Confira abaixo a entrevista com Savério Orlandi:
ge: Como candidato de oposição, qual seria sua principal mudança ao assumir o Palmeiras ?
Savério: – A primeira coisa é que o Palmeiras volte a respirar ares democráticos. Hoje estamos vivendo uma noite sombria, com patrulhamento excessivo, perseguição a conselheiros, associados e torcedores. É algo que para nós pensamos muito na reversão. E a governança do clube. O Palmeiras é uma associação civil, não se transformou (em SAF), e nossa gestão nem pensaria nisso. Permanecendo como associação civil que é, há o futebol e o clube social e precisa ter governança, instrumentos que o Palmeiras não dispõe.
– A gente se enredou na mão da nossa mandatária, minha concorrente, e há uma fragilidade nos órgãos do Conselho Deliberativo, o COF (Conselho de Orientação e Fiscalização), um desprestígio a modalidades e planos para futebol. Há muito a fazer.
– No clube, para o sócio, apresentamos propostas pontuais, a partir de levantamento feito de um semestre todo, identificando o que precisa melhorar em cada departamento. O Palmeiras é um sociedade esportiva e deixou de ter outras modalidades, esportes profissionais, que sempre teve e com tradição. Há um certo desprestígio dos departamentos amadores, inclusive com categorias de base que precisam cotizar para participar de competições pelo Palmeiras.
Sua chapa tem questionado muito um abuso de poder por parte da candidatura de Leila Pereira. Como vê esta situação com a aproximação da assembleia de sócios?
– Inacreditavelmente vemos piorar a cada dia com a aproximação da eleição. O Conselho e COF são independentes. Cada poder tem sua função e não há uma relação de dependência. Acima de todos os poderes, tem o poder máximo que é a assembleia de associados. Temos criticado pela cooptação (dos poderes por parte da gestão). Os órgãos precisam de independência e não estar sob sujeição de um dos poderes, como é hoje no clube.
– As disposições estatutárias (da eleição) deveriam ser complementadas por um código eleitoral que o Palmeiras não tem. O clube trabalha por usos e costumes. Estive com nosso ex-presidente do Conselho Deliberativo, Seraphim Del Grande, e ele mesmo reprovou o que tem sido feito em termos do procedimento eleitoral. Ele conduziu duas eleições recentes e sabe que os regimentos funcionavam de outro jeito.
– O clube sempre teve como procedimento encaminhar uma comunicação em nome das duas chapas para todos os associados. Seria feito por e-mail e WhatsApp onde apresentaríamos nossas propostas, além de apresentar quem está na chapa. E este material sofreu uma ou outra glosa, que conseguimos superar e estava pronto para o envio. Mas ao mandar o material, com as 11 propostas para os associados e apresentação individual do Savério e seus vices, o presidente do Conselho (Alcyr Ramos) não aprovou o envio do material, só de maneira substitutiva, que vi como um ardil em nosso desfavor, mandando o plano de gestão. Ele é interessante, óbvio, mas é uma diretriz, mais abrangente. Não é como a proposta mais objetiva no interesse do associado. Fomos tolhidos. Alguns colegas usam o termo da invisibilização, é o que está acontecendo hoje. Não estamos conseguindo nos comunicar minimamente com o sócio como a gente deveria.
Muitos membros do seu grupo político já relataram antes da eleição que eram vítimas de perseguição por parte da atual gestão, com retirada de direitos como acesso a ingressos. Veem isto como uma sequência daquele processo?
– Não é propriamente uma continuidade, mas na eleição o que vimos foi o cenário piorar (desde a notificação ao presidente do Conselho Deliberativo).
Houve uma resposta do clube à notificação de que havia abuso de poder da candidatura de Leila?
– Oficialmente não tivemos, nossa coordenação tem falado com o presidente do Conselho, a maioria das conversas tem um caráter informal. Mas é como temos conseguido, porque ele não responde expressamente. Uma notificação teria que ser respondida e isto não aconteceu. E antes disso temos as perseguições. O patrulhamento como um todo não diz respeito à eleição, vem de outro momento e é um modus operandi da perseguição.
Você disse ter ouvido muitas reclamações dos sócios. Consegue citar dois principais tópicos?
– Ouvidoria e canal de denúncia. Muitas mulheres me procuram para narrar casos de assédio em diversas idades e da falta de tratamento que o clube dá para isso. E até é uma das nossas propostas. Uma coisa é ouvidoria, que trata – na minha visão – ao atendimento de medidas administrativas. Infrações estatutárias, um assédio, um roubo, isto não é ouvidoria, é canal de denúncia, com pressupostos mínimos, como sigilo na denúncia, resposta, que as pessoas não têm.
O Palmeiras vive um dos momentos mais vitoriosos de sua história, mas há um debate se é hora de reformulação deste elenco multicampeão. O que esperar da janela de transferências sob seu comando?
– Estamos entendendo à distância ainda, mas pela minha experiência na direção de futebol e manifestações da minha própria concorrente, do que ela pretende fazer, de valores que ela expôs, estou entendendo que são por novos relacionamentos com patrocínio, que invariavelmente têm luvas, e o mesmo acontece no novo contrato das transmissões que começa a vigorar ano que vem.
– Temos a redução e quase quitação da dívida maior que o Palmeiras tinha, que era com sua própria patrocinadora (Crefisa). Neste cenário, vislumbro a recuperação da capacidade de investimento ano que vem.
– O próximo mandatário, e espero que seja eu, terá este grande desafio que é a transição do elenco. O Palmeiras fez uma opção através de suas últimas gestões, desde o (ex-presidente) Maurício Galiotte, de esticar este elenco no limite. Teve resultado esportivo ótimo, somos felizes por isso, enfileiramos títulos, mas é natural que chegue o momento que vai se aproximando do término e da rodagem do elenco.
– A curto prazo, de saída, para o ano que vem, nosso grande objetivo é disputar o maior campeonato da história do Palmeiras, o super Campeonato Mundial. Para isso precisamos chegar com condições de vencer a competição.
– Se vamos ganhar não depende da gente, é uma disputa, mas temos de chegar forte, em condições de brigar. E precisamos reforçar o que temos hoje, não é uma decisão isolada da direção.
“Jamais vou fazer restrição de que não vai trazer medalhão”, diz Saverio no Palmeiras
– Na nossa passagem, anos atrás, tivemos momentos que entendemos que precisávamos de alguém já com experiência. Em 2010, identificamos a necessidade de uma liderança efetiva dentro de campo e veio o Marcos Assunção com 32 anos. Talvez nesta concepção da gestão atual jamais seria feita uma contratação dessa. Não acredito nestas proibições de saída.
– Pode ser também pela redução nos últimos anos de capacidade de investimento, que não permitiu ao Palmeiras ir ao mercado como adversários. Isto mudou um pouco neste ano. A ideia é fortalecer o elenco, isto pode envolver trazer jogadores mais rodados, identificar carências e atacar. E no segundo e terceiro ano da gestão fazer a transição do elenco, porque certamente alguns deles não terão vínculos conosco. Já tem acontecido e para três anos, uma boa parte deles também vai se desligar.
A presidente Leila Pereira diz que deseja renovar com Abel Ferreira, se for reeleita, até o fim de 2027. Esta também é uma prioridade para você?
– De saída, não tenho dúvida nenhuma que vamos manter o esquema, na comissão técnica e nos executivos da base e profissional. Não há razão para mudança abrupta de chegada. O Palmeiras alcançou um padrão de excelência na base e no principal, num processo de uma década. Não foi no início do mandato da minha concorrente. Vem de anos atrás, com o Allianz Parque, o governo do Paulo Nobre, do Maurício Galiotte e dos executivos todos.
– Se ver na base, o João Paulo faz um trabalho excepcional, mas que começou com o Erasmo Damiani, que fica dois anos e meio aqui, vai para a seleção brasileira e indica o João Paulo. E no principal, considero o trabalho do Anderson bom, gosto do estilo dele, mas é um trabalho que já tinha sido iniciado pelo Alexandre e com o Cícero (Souza, ex-gerente e hoje na CBF), que para mim tem uma importância enorme, o aglutinador da parte prática operacional.
Saverio quer renovar com Abel e pensa em novo gerente no futebol do Palmeiras
– Não tenho convívio com o Abel, ele tem mais um ano sob contrato. Eu assumindo a presidência em dezembro, vou conviver com ele por um ano e hoje minha ideia é que ele permaneça. Mas não sei a ideia dele. Eu, pessoalmente, faria meu esforço para que ele prorrogasse o vínculo contratual com o Palmeiras.
– Na minha passagem (como diretor de futebol entre 2007 e 2010) trabalhei com vários treinadores, inclusive vários consagrados, como o Vanderlei Luxemburgo, Luiz Felipe Scolari e Muricy Ramalho. E o relacionamento foi sempre muito bom, não vejo problema de fazer esta aproximação. Um ano de convívio pode me fazer convencê-lo a ficar conosco.
Como avalia os trabalhos de Anderson Barros e João Paulo Sampaio no comando do time profissional e base?
– Enquanto o João Paulo é uma unanimidade, já o Anderson parte da torcida questiona muito o trabalho. Eu não vislumbro alterar o rumo das coisas. Conheço os dois pela ABEX (Associação Brasileira dos Executivos de Futebol), não convivi com ele (Barros) no Palmeiras, mas é um sujeito muito bem preparado, de fácil trato, corretíssimo, de honestidade a toda prova. E veio para o Palmeiras em um momento difícil em 2019, com a missão de sanear o departamento de futebol, depois de muitas contratações em 2018 e 2019. E sob esta métrica do objetivo na chegada, ele foi aprovado. Torcedor pode não gostar, mas ele veio para atuar internamente, aparecer pouco e sanear. Ele conseguiu isso.
– Na sequência, talvez não tenha tido plenas condições de desenvolver o trabalho por questão da redução da capacidade de investimento. Temos que olhar os dois lados, o copo cheio e vazio. Será que é permitido ao Anderson exercer o trabalho na plenitude? Vejo no nosso treinador uma pessoa que puxa para si temas que não deveriam ser tratados por um treinador. Claro, ele pode falar o que quiser, quando quiser, mas talvez não tenha que falar com tanta frequência.
– Questões de crises e momentos difíceis, não vemos o Anderson aparecer e vemos a mandatária. Aí que falo. No caso do Dudu, em junho, o Palmeiras teve um erro de comunicação, ficamos quase 48h até a notícia sem uma versão oficial, muita gente o criticou e quem se manifestou foi minha concorrente, 44h depois, e não houve antes uma manifestação. O que aconteceu internamente? Foi franqueada a possibilidade de ele falar antes? A gente precisa olhar com critério, com cuidado na crítica, para entender as condições de trabalho.
– A gente pretende de saída permanecer com as coisas como estão.
O que mudaria na organização do departamento? Há algo a se fazer na organização de imediato?
– No feminino temos que melhorar, trazer mulheres para funções diretivas, acho fundamental. Não só por trazer, mas porque acho que vai ser mais producente para o departamento. No profissional, com a saída do Cícero houve uma decisão da direção pela continuidade por um triunvirato. Precisa ser avaliado, falar com estas pessoas, entender. Que são aptas a trabalhar não tenho dúvida, porque dos três, dois eu trouxe para o Palmeiras, e o terceiro já estava lá e contribui de forma muito efetiva na formação deste quadro em qualificação para estar onde está. E o Leonardo Holanda e Luís Gustavo trouxe na minha gestão. Podemos entender com eles que precisam de uma liderança, como o Cícero exerceu. Se fosse algo assim, seria um novo executivo, mas depois de conversas com eles.
– Desde o Paulo Nobre, o Palmeiras inverteu a estrutura do departamento de futebol, sem o cargo estatutário. Este modelo se consolidou e deve se manter, sem estatutário.
Uma das suas principais críticas à gestão da Leila é a falta de participação feminina no clube. O que pretende fazer para mudar?
– O que a gente critica não é de forma casuística por ser adversário dela, mas a gente reprova a panfletagem feita. A diretoria do Palmeiras hoje é liderada por 140 nomes. Existe um cargo, o assessor especial da presidência. Não sei o que fazem todos eles efetivamente, porque são 44 nomes. É natural em qualquer instituição que existam estes assessores especiais, porque não vão ter função executiva, cada um tem sua matéria, e o mandatário vai ter seus assessores para tratar de outros assuntos. Mas 44 me parece um nome muito elevado, talvez nem tenha tempo para despachar com tantos diretores. Destes 44, não tem uma mulher. Como o discurso tão panfletário de prestigiar a diversidade, mas na nossa visão não é concretizado na prática.
– O que pretendemos fazer está no nosso plano de gestão: aumentar a participação feminina com metas, que obedecem a organismos internacionais. Falamos entre 30% e 35% até o fim do nosso mandato, para exercício de cargos de liderança, em diretorias, membros do Conselho Fiscal, órgãos de gestão do clube. Não são (nomes já certos), mas não faltam quadros femininos superimportantes no nosso grupo. Temos uma candidata a vice (Luciana Santilli) e na eleição do Conselho vamos trazer muitas pessoas.
– É verdade dizer que até há algum tempo, décadas atrás, não havia a participação das mulheres no processo, porque identificavam um ambiente muito masculino, enfim. Isto mudou. E já que mudou o entendimento e consciência, temos de ser os primeiros a fomentar a mudança e transformar na prática com aumento de contingente.
O que fazer para dar o próximo passo do futebol feminino no Palmeiras? Saverio responde
Há uma cobrança para que o Palmeiras faça mais investimento no futebol feminino, para que a equipe dê um próximo passo, inclusive jogando mais no Allianz Parque. Quais os planos para o departamento?
– Queremos trazer de volta para São Paulo. Sem problema nenhum com Jundiaí e tantas parcerias que tivemos para treinar e jogar no interior. Mas o Palmeiras é um clube de São Paulo e as atividades precisam ser desempenhadas na origem aqui. A gente visitou e conjugou algumas alternativas, estivemos no primeiro semestre no Nacional (clube vizinho da Academia de Futebol, na zona oeste de São Paulo) e fomos muito bem recebidos. Há caminhos para treinamento ou mandos de jogo no campo do Nacional. O Allianz Parque, também, nas suas vacâncias, deve receber jogos do futebol feminino, com as Academias de Futebol 1 e 2.
– Hoje não sei como funciona o escalonamento, mas na minha época (como diretor de futebol) havia vários lapsos de ociosidade que podemos aproveitar para trazer o futebol feminino às estruturas que o Palmeiras tem. Nossa ideia é fazer um grande corredor alviverde com futebol feminino, em locais de treinamento e jogos aqui na região.
– Outra questão mais teórica, mas de igual importância, vale para o Palmeiras e para o futebol feminino em geral: ter o entendimento efetivo com estudos da definição do público e fomentar o desenvolvimento deste público. É simplismo as pessoas terem em mente que o público do futebol masculino é o mesmo do feminino. Não é. A partir de premissas, buscar desenvolver o futebol feminino, além de ter uma boa equipe, que minimamente temos hoje. É um tema um pouco teórico, mas uma questão que falamos muito, para desenvolver não só o campo, mas o produto. Acho que o Palmeiras não fez nada neste sentido nos últimos anos.
– Uma ordem de grandeza hoje é difícil falar, eu tenho, mas está ligado a um aspecto. Aparentemente vai haver a mudança no patrocínio do Palmeiras e mais do que isso, vai haver uma ruptura do momento existente hoje, que está ultrapassado, de exclusividade das propriedades.
– A partir desta análise e ruptura que acreditamos muito, o futebol feminino deve ter outro patrocinador, outra forma de custeio. Aí teremos uma condição de traçar o caminho. A gente tem que incrementar o orçamento, sem dúvida nenhuma, e vai vir sobretudo a partir da nova modelagem de patrocínio.
O departamento de marketing é uma pasta criticada por torcedores e vive um momento importante com esta nova busca por patrocínio. Qual a estratégia para fechar novos negócios?
– É um ponto central da nossa candidatura e que a gente se opõe à atual gestão. Houve uma estagnação nas receitas do clube, poderíamos ter arrecadado mais, seja pelo atual modelo de patrocínio que não tinha reajustamento e com uma conta boba alcançamos um valor de cerca de R$ 100 milhões pela não-correção do valor.
– O departamento de marketing na última década, com a chegada da atual patrocinadora, teve quadros profissionais. O antigo diretor era um homem de mercado (Roberto Trinas), a forma de trabalho do departamento, com objetivos, é o modelo que acreditamos. Hoje temos a sensação de que o marketing do Palmeiras se atrofiou. Não tenho nada contra o diretor de marketing (Everaldo Coelho, diretor estatutário), que eu prezo e admiro como ser humano. Talvez não seja o mais indicado para o cargo, com uma vida exitosa com carreira no setor bancário.
Saverio vê R$ 100 milhões de perda em patrocínio e quer mudança no marketing do Palmeiras
– Temos de buscar parceiros para basquete, futebol de salão… pelo fato da exclusividade e monopólio (de Crefisa e FAM), natural não ter muito o que se fazer na rua. E além disso, com a mandatária sendo a dona da exclusividade, potenciais parceiros não tentarem estreitar relação, porque sabem que já está fechado para quem tem os dois chapéus. É a estrutura que a gente pensa. Voltar a trazer especialistas do mercado em marketing, com vivência em agência, com remuneração, objetivo e variáveis. Queremos recuperar o passado recente que tivemos com o Roberto Trinas.
A busca por novas receitas com o marketing é a saída para fazer o Palmeiras voltar a ter equipes em outros esportes?
– Tivemos o Palmeiras disputando NBB em parceria com patrocinador. É um pouco o modelo que a gente idealiza. Nesta década exitosa hoje não tem quem não queira se relacionar conosco. Não nos faltam pretendentes para namorar o Palmeiras, Claro que a potencialidade do futebol você não encontra em outros lugares, mas há retorno em outros esportes. A NBB está bastante consolidada, e o Palmeiras tem uma tradição enorme no basquete. Cansei de torcer na minha infância como sócio para o basquete do Palmeiras. É o modelo que a gente pensa. Quando falamos do marketing profissional ir buscar na rua, é isso. Este é nosso caminho, nossa estratégia.
Quais os planos da gestão para o Avanti?
– O Avanti está muito ligado ao carimbo de ser um facilitador de ingressos. Queremos fazer virar uma experiência diferente, para fazer a transição deste relacionamento. O Avanti teve uma alavancagem grande na sua saída, na inauguração do Allianz Parque e assim foi feito o investimento, com quase 100 mil sócios. O primeiro abalo foi em 2019, por resultados esportivos, que mostram como funcionam estas oscilações. Temos de tratar estas estratégias, porque sempre vai ter oscilação esportiva.
– Não é fácil, porque o mais atrativo acaba sendo os ingressos. Mas buscar parcerias para descontos em lugares de entretenimento, farmácias, enfim. Outro aspecto é permitir o exercício de direitos políticos seria uma forma de manter o torcedor no Avanti. Que ele possa eventualmente votar para presidente. Não é uma questão fácil, porque temos um clube social, então temos de pensar, talvez estabelecer classes.
– E trabalhar para o clube no futuro se comunicar individualmente com o seu torcedor. Se chegar nisso, vamos solidificar o relacionamento. Vai muito além de a cada ano lembrar do aniversário ou dar Feliz Natal em dezembro. É uma construção, investimento pesado em inteligência artificial, e com uma base de dados e relacionamento do clube com o sócio, saber as experiências dele, vai com a inteligência construindo o relacionamento para em um momento conversar diretamente. É um sonho, uma utopia, mas totalmente possível.
E como trabalhar para o público que não faz parte do Avanti? É possível ter ingresso popular?
– O Avanti traz por outro lado um certo alijamento de parte do público que não faz parte do programa e nem poderia ser diferente, porque no estádio cabem 40 mil pessoas. Jogos de maior afluência, fim de temporada, uma semifinal de Libertadores, o Palmeiras e Botafogo da rodada 36, é muito difícil trazer todo mundo.
– Nosso plano é permitir que algumas pessoas que supostamente não teriam a oportunidade passem a ter. Falamos em definir estratégias para jogos de menor afluência, no início da temporada, primeira fase do Paulista, início de Libertadores, um jogo com TV aberta, tratamos disso. Temos de ter estratégia para quem não pode ir em um jogo de maior afluência, que venham em um jogo desse.
– A precificação pensamos no escalonamento ao longo da temporada. Precisamos entender que a estrutura do futebol hoje é diferente de muitos anos atrás. O que a gente sonhava e conhecia entre os anos 80 e começo dos anos 2000, feliz ou infelizmente, não vai voltar, pelo tamanho que o futebol tomou. Eu fui diretor de futebol, e o maior salário no meu departamento há 15, 17 anos, era R$ 300 mil. Hoje este valor é piso. Cobrir esta operação não é fácil, o valor é elevado.
Saverio descarta ter “ingressos populares” para jogos do Palmeiras
– Falar em ingresso popular é uma dificuldade muito grande. O Palmeiras tem um regramento no seu acordo com a WTorre, que completa agora 10 anos. O Palmeiras tem mecanismos de precificação. O clube recebe o Allianz nos dias de jogo em comodato, comercializa a bilhetagem em 30 mil ingressos, sendo 10 mil cadeiras da WTorre, que paga por elas nestes dias ao Palmeiras para fazer a comercialização por conta própria, com Passaporte e camarotes.
– Este pagamento que ela faz está vinculado ao contrato, na média do menor valor, o Gol Norte do último exercício. Quando se fala em preço popular, sei que não é simpático falar, mas é a realidade. Se o Palmeiras baixar muito o preço, está dando um tiro no pé, pois vai arrecadar menos e receber menos da WTorre pelas 10 mil cadeiras. Foi uma promessa da minha concorrente com a torcida uniformizada na primeira eleição. Já disse que não conseguiria entregar. Não gosto da expressão ingresso popular, porque induz ao erro. O Palmeiras precisa de estratégias para ter maior afluência, nem pode passar de fase e o ingresso ficar quatro, seis vezes mais caro. Precisa de um estudo melhor da precificação.
– O Paulo tem um grupo ainda de conselheiros e que participaram da gestão dele. A grande maioria está conosco, por volta de 30, 35 nomes. Quase a totalidade está conosco, não temos cinco nomes, foram inclusive os votos em branco no (filtro do) Conselho, que ainda seguem muito a orientação do Paulo, de se abster. Não é relacionado ao momento da oposição, na minha visão, à pessoa do Savério, o ex-amigo da adolescência. Até por respeito e compreensão da decisão unilateral de se afastar, eu não o procurei diretamente ele. Algumas pessoas do grupo o consultaram e ele renovou que não pretende conviver no ambiente político do Palmeiras. É uma decisão pessoal, e eu respeito. Uma pena, eu lamento, seja pelo apoio direto, apesar do grupo estar, mas por entender que o Paulo ainda tinha muito a oferecer para o clube.
Como fica o movimento da oposição independente do resultado?
– Francamente, como vitorioso. Já é vitorioso. Queremos a vitória no dia 24, é possível, não duvidem disso. Se não vier, por si só, o movimento já é vitorioso. Conseguimos aglutinar o grupo, o resultado no filtro, com 85 pontos, um terço. Ela teve o dobro? É verdade, mas até outro dia havia dispersão, tanto que na última eleição não teve consenso de nome para concorrer. Existe um trabalho em andamento, não vai parar, continua em fevereiro com eleição do Conselho, presidência do Conselho, COF. Muitas das nossas ideias trouxeram resultados práticos, tanto que no lançamento da campanha a minha concorrente admite que a camisa vale R$ 150 milhões, algo que ela nunca tinha falado. Talvez de tanto que a gente bateu na tecla.
– O trabalho é irreversível e não tem volta. Tem muita coisa até a próxima eleição e temos a obrigação de fiscalizar a gestão se não formos vencedores, de forma construtiva. O momento da oposição é excepcional.
Por que você deve ser eleito presidente do Palmeiras no dia 24?
– Porque sou palmeirense, nasci palmeirense, estou no clube desde os anos 1980, porque me preparei muito para isso. Eu e nosso grupo pensamos no Palmeiras a médio e longo prazo, onde queremos estar daqui a 5, 10, 15 e 20 anos. Entendemos que o futebol brasileiro vive um momento disruptivo e temos de pensar nos próximos passos. Na atual gestão vemos algo muito personalista, calcado na autopromoção e com visão de curto prazo. Ela mesmo alardeia que o dia que ela sair, dependendo da circunstância, a coisa desanda. Por isso pensamos na perenização do Palmeiras, para o período exitoso continuar por muito tempo.
Redação com GE
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