Dias após a aprovação do pacote fiscal e gestos em direção a uma pacificação com o Executivo, deputados do centrão expressam insatisfação com a decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu a farra das emendas parlamentares. Dino determinou a suspensão do pagamento de cerca de R$ 4,2 bilhões em emendas de comissão, além de instaurar um inquérito pela Polícia Federal para investigar os valores.Para os parlamentares do centrão, a decisão de Dino foi estratégica, ocorrendo após a votação dos projetos de contenção de gastos. “A decisão de Dino foi calculada e possivelmente alinhada com o governo”, afirmam analistas. Essa medida alimenta a desconfiança de uma ala do Legislativo de que a iniciativa de Dino foi orquestrada em conjunto com o Executivo, aumentando a tensão entre os poderes, segundo informa o Valor..
Como resposta, o centrão já está planejando retaliações. Entre as medidas previstas está o atraso ainda maior na votação da Lei Orçamentária Anual (LOA), que já foi adiada para 2025. Além disso, os deputados buscam ampliar a pressão para que o próximo presidente da Câmara, possivelmente Hugo Motta (Republicanos-PB), avance uma proposta de emenda constitucional (PEC) que transforme as emendas de comissão ao Orçamento em emendas parlamentares individuais, com execução obrigatória pelo governo federal.
A proposta, liderada por Altineu Cortês (PL-RJ), já conta com 152 assinaturas, faltando 19 para atingir o número necessário de 171 assinaturas para tramitação. A inclusão dessa PEC no processo legislativo enfrenta desafios, especialmente após a decisão de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, de não permitir a apresentação de emendas durante a análise do pacote fiscal na semana passada.
A suspensão das emendas de comissão por Dino foi uma resposta a uma ação do Psol no STF, que apontou supostas irregularidades na liberação desses recursos e questionou a decisão de Lira de suspender o funcionamento das comissões da Câmara nos últimos dias do ano legislativo. Em resposta, Lira e 17 líderes partidários elaboraram um ofício definindo o destino dos mais de R$ 4 bilhões em emendas, que tiveram seus pagamentos suspensos nesta segunda-feira (23) por decisão de Dino.
Nos bastidores, deputados do centrão avaliam que a nova medida tende a agravar a crise entre o STF e o Congresso, podendo também impactar a relação entre Executivo e Legislativo. Durante a análise da PEC do pacote fiscal, houve uma tentativa de incluir o texto de Altineu, mas a decisão de Lira de não permitir a apresentação de emendas impediu a inclusão.
A escalada desse conflito pode fragilizar ainda mais a capacidade do governo de negociar com o Congresso, já que o orçamento ficaria mais rígido, limitando a liberação de recursos para temas prioritários do Palácio do Planalto. “É melhor apostar na aprovação do tema e garantir a liberação dos recursos do que ficar à mercê de eventuais novas decisões da Corte”, dizem alguns parlamentares.
Se a PEC avançar no Legislativo, o Executivo perderia parte de seu poder de barganha atual, comprometendo a flexibilidade na gestão dos recursos públicos e dificultando a promoção de projetos considerados essenciais pelo governo.
Redação ABN com Brasil 247
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