Por Plínio Teodoro
Orbitando em torno da burguesia paulista, o ex-presidente Michel Temer (MDB) e o ex-governador João Doria (sem partido) estão unindo forças novamente na construção do grande acordo para consolidar a candidatura da Terceira Via anti-Lula, que tem Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) e atual ocupante do Palácio dos Bandeirantes, como principal postulante.
Enquanto Temer ocupa espaços na mídia liberal e em agendas com a Faria Lima, Doria está usando o Grupo Empresarial Lide, que ele formou para fazer lobby junto ao empresariado, para unir atores centrais da terceira via e tentar cooptar quadros das Forças Armadas que não se alinham a figuras como dos generais Eduardo Villas Bôas e Sergio Etchegoyen, que foram fundamentais para que o emedebista desse um golpe parlamentar em Dilma Rousseff (PT) e assumisse a Presidência em 2026.
No último dia 5 de maio, Doria reuniu o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e os comandantes da Marinha, almirante Marcos Olsen, da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Marcelo Damasceno, e o chefe do Estado-Maior do Exército, general Richard Nunes, em um “almoço empresarial”.
O evento tinha como proposta “debater estratégias de fortalecimento do setor e os desafios para a segurança e defesa nacional”. No entanto, virou um ato de apoio à Proposta de Emenda à Constituição (PEC 55/2023), do senador Carlos Portinho (PL-RJ), que buscar estabelecer um orçamento mínimo, equivalente a 2% do PIB do ano anterior, para uso exclusivo dos militares.
“Temos um ambiente favorável. Graças a Deus não houve politização nisso, porque vai ser para o país”, declarou Múcio sobre a proposta, buscando apoio dos empresários à causa dos militares.
Nas redes sociais, o Lide destacou uma fala de Damasceno, comandante da Aeronáutica. “Previsibilidade orçamentária fortalece a Defesa e nossa indústria. Temos capacidade de produção e vamos fazer mais projetos”, disparou o militar, buscando atrair o empresariado.
O evento, que será aberto por Michel Temer, causou um esvaziamento na pauta legislativa no início da semana já que os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), estarão presentes, ao lado do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso.
Apesar de ser anunciado como um evento “para impulsionar investimentos entre os dois países e ampliar relações comerciais em setores estratégicos”, o Fórum não conta com nenhum representante direto dos governos brasileiro ou dos EUA. Por parte dos EUA, estará apenas William Landers, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. E pelo Brasil, está programada a presença do consul em Nova York, Adalnio Ganem.
O Fórum, no entanto, contará com a presença maciça de representantes da terceira via – ou de bolsonaristas que estão sendo captados pelo movimento – como os governadores Ronaldo Caiado (União-GO), Ibaneis Rocha (MDB-DF), Eduardo Leite (PSD-RS), Cláudio Castro (PL-RJ), Jorginho Mello (PL-SC), Renato Casagrande (PSB-ES) e Raquel Lyra (PSD-PE).
Estarão presentes ainda o ministro Gilmar Mendes, do STF, o procurador-geral da República (PGR) Paulo Gonet, e o ministro Vital do Rêgo, do Tribunal de Contas da União (TCU).
Já na ala política, estarão diversos representantes do Centrão, como Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do PP; as senadoras Soraya Thronicke (Podemos-MS) e Tereza Cristina (PP-MS), que têm forte ligação com ruralistas; Nelsinho Trad, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado.
Pela Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da casa e relator da proposta que aumenta o Imposto de Renda aos ricaços, confirmou presença. Assim como o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, que comandou o Banco Central no governo golpista de Temer.
Juntos novamente
A dobradinha Temer e Doria remonta a 2018, quando o ex-presidente golpista, ainda no poder, trocaram afagos em contraponto à Geraldo Alckmin, que acabou saindo como candidato do PSDB, com apoio de coligação de oito partidos: DEM, PP, PR, PRB, SD, PTB, PSD e PPS.
Então prefeito da capital, Doria se lançou candidato à ao governo de São Paulo e fez forte oposição a Alckmin, que sequer chegou ao segundo turno na disputa nacional.
Em conluio com Michel Temer, Doria chegou ao segundo turno e automaticamente declarou apoio a Bolsonaro, em campanha ferrenha contra Fernando Haddad (PT).
Mídia liberal
Revelado por esta Fórum no dia 17 de abril, o “Movimento Brasil” articulado pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) para resgatar a aliança golpista que o alçou à Presidência – agora tendo Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) como candidato anti-Lula em 2026 – começa a ganhar corpo e ser propagado pela mídia liberal.
Em editorial neste domingo (11) intitulado “Uma Luz à Direita”, o Estadão – representante da burguesia paulista desde os tempos do escravagismo – diz que a “iniciativa proposta por Michel Temer abre caminho para redefinir a direita brasileira num cenário sem seu maior líder – Jair Bolsonaro – e sem o radicalismo que marca o bolsonarismo”.
Em tom risível, o folhetim da família Mesquita diz que “o movimento de Michel Temer propõe algo diferente”, mesmo com o ex-presidente golpista resgatando o programa Uma Ponte para o Futuro, criado nas hostes do MDB em 2015, baseado em uma série de preceitos neoliberais para destruir projetos sociais e entregar as riquezas do país, como o petróleo, nas mãos dos financistas.
No entanto, na logo em seguida, o Estadão confirma que se trata de um golpe continuado, revelando que “Temer concebeu um calendário que, realisticamente, ao mesmo tempo afasta e preserva Bolsonaro”. Ou seja, para atrair Tarcísio para a cabeça de chapa, a terceira via pode até salvar a pele de Bolsonaro para atrair os votos dos eleitores mais extremistas.
Já a Band, da família Saad, convidou Temer para disseminar sua negociata – que une Faria Lima e Centrão, além da mídia liberal – em entrevista o Canal Livre na noite deste domingo.
Indagado sobre as tratativas que teve com os governadores Ratinho Jr (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União-GO) e Romeu Zema (Novo-MG) – além da aproximação de Eduardo Leite (PSD-RS), recém filiado ao PSD de Gilberto Kassab, outro artífice do movimento – revelou como o plano anti-Lula tem sido recebido.
“Eu vejo, em conversas que tive com alguns governadores, que eles estão muito dispostos a algo desta natureza”, afirmou, ressaltando que não serão os cinco governadores que sairão candidatos no primeiro turno. “Espero que haja dois ou três candidatos de programas determinados, sem muitas candidaturas. Isso melhora os costumes políticos do pais”, emendou.
Temer ainda revelou a estratégia de fazer a campanha longe das definições de esquerda e direita, segundo ele “muito eleitoreiras”, lembrando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ainda hoje um dos mais adulados pela mídia neoliberal.
“Para mim isso não vale nada. O que vale para o povo é o resultado do governo. Essa coisa de esquerda e direita é muito eleitoreira. Até dou exemplos concretos de um governo que era liberal, como o de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que fez muito pelo social, e um governo tido como esquerda, como o primeiro mandato de Lula, que fez muito pelos empresários”, disse, alfinentando Lula.
Temer ainda confessou que não fala mais com Lula, nem com Dilma Rousseff (PT), a quem derrubou por meio de um golpe articulado juntamente com o Congresso.
“Não tenho [contato com Lula] porque não o procuro. Evidentemente ele também não me procura. Mas nenhum ressentimento”, disse.
“Não vou dizer que tenho pena do presidente porque seria impróprio, mas sei por que ele diz isso [a acusação de golpe]. Ele sempre se deu muito bem comigo, mas faz isso para agradar uma área do PT, o partido dele. Politicamente é natural, não tenho nenhuma objeção. Até porque ele fala, mas não pega. Se falasse e colasse, eu ficaria preocupado, mas não cola”, emendou, sobre a alcunha de golpista.
– Revista Fórum
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