Anadia/AL

17 de junho de 2025

Anadia/AL, 17 de junho de 2025

Não é do interesse de ninguém que conflito Israel-Irã se prolongue, diz especialista

Para a professora de Relações Internacionais do IDP, Monique Sochaczewski, os dois lados têm muito a perder e estão usando o temor da população civil por ataques como arma para desestabilizar os governos

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 17 de junho de 2025

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Foto: Economia em Pauta

Por: Marina Mota Silva
Não é do interesse, nem de Israel, nem do Irã, que se prolongue por muito tempo o conflito no Oriente Médio iniciado com o bombardeio da capital iraniana Teerã pelas forças israelenses na semana passada. A opinião é da professora de Relações Internacionais do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), Monique Sochaczewski.Segundo ela, embora Israel seja militarmente mais forte, o Irã estaria familiarizado com um guerra mais longa, uma vez que o conflito anterior com o Iraque, no início da Revolução Islâmica, durou quase oito anos. A especialistas também destaca em entrevista ao InfoMoney que o regime iraniano tem conseguido por meio da tecnologia alarmar a população de Israel. “O Irã está fazendo uma guerra cibernética, com uso de inteligência artificial, isso faz parte também de uma guerra psicológica, que o Irã faz muito bem”, explica.

A professora também disse ver similaridades entre os dois lados nesse tipo de estratégia de manipular a opinião pública. Assim , o Irã tenta tornar o jogo muito pesado para população civil, para que ela possa se revoltar contra o governo israelense. Enquanto isso, o governo israelense entende que o regime dos aiatolás está enfraquecido e faz uma aposta de que população pode se revoltar e derrubar esse regime. “E não se sabe o que vem no lugar. Então, tem também uma guerra psicológica e uma guerra com estratégias mais amplas, sobretudo, de impactar os respectivos regimes”, explica.

Para a professora, a única pessoa que pode parar a guerra é o Donald Trump, mas há muita dúvida sobre os interesses do presidente americano no conflito.

Veja abaixo os principais trechos da entrevista com a professora do IPD:

InfoMoney – Existe a perspectiva de que o conflito entre Israel e Irã se prolongue por mais algum tempo?

Monique Sochaczewski – Não é de interesse, sobretudo, de Israel que esse conflito se prolongue. A gente lembra que Israel está há quase dois anos em guerra, por conta do 7 de outubro [data do ataque terrorista do Hamas, em 2023], com o conflito em Gaza. Israel é um país muito pequeno e a capacidade de receber ataques, sobretudo em regiões populosas, como o centro de Israel, não é do interesse. O que eu tenho acompanhado de analistas israelenses é que o Irã, a princípio, também não teria interesse em prolongar o conflito, porque isso pode fragilizar o regime. Mas o Irã conta com uma experiência de praticamente oito anos na guerra Irã-Iraque [entre 1980 e 1988] e, para fazer com que a guerra se prolongue, é menos pior, digamos, do que para Israel. Acredito que não seja de interesse de ninguém que a guerra se prolongue. Mas se tem algum país ali que não se importaria, talvez, de um conflito prolongado, seria o Irã.

IM – Mesmo sabendo que Israel é militarmente mais forte, tem poder de fogo maior, ainda assim não dá para desprezar o Irã como inimigo?

MS – De jeito nenhum. E, de fato, Israel não consegue eliminar o programa nuclear iraniano sem ajuda estadunidense. Es~sa está sendo uma questão. Benjamin Netanyahu jamais teria atacado sem alguma luz verde dos Estados Unidos. Enfim, Israel não teria armamento suficiente para conseguir atingir o tal do Fordow [a instalação], que seria a grande centro do programa nuclear. Todo o programa de proteção está sendo muito estressado quando o Irã manda cinquenta mísseis ao mesmo tempo. Alguns mísseis balísticos têm conseguido furar o sistema de proteção e atingir regiões com ampla presença civil. Então, sozinho, eu não acredito que Israel consiga ir adiante.

IM – A senhora acredita o presidente americano Donald Trump vai entrar na guerra e dar apoio à Israel?

MS – Eu sempre tenho falado em público que se você souber explicar qual é o processo de tomada de decisão de política externa dos Estados Unidos me conta. Porque não fica claro nem quem é o ministro responsável. Por um lado, oficialmente, a gente tem o secretário de Estado que é o Marco Rubio. Antes, o Elon Musk estava dando pitacos nessas pautas, a gente tem o Steven Witcoff, que tem sido de fato o representante do Trump para as negociações no Oriente Médio, além do próprio presidente. Logo quando teve o ataque, Trump parece que, no primeiro momento, ficou bastante impactado após Israel atingir uma parte significativa da elite militar nuclear e praticamente ter entrado com muita liberdade no espaço aéreo iraniano. Trump até parabenizou e disse que agora o Irã deveria negociar, como se isso fosse uma das aquelas estratégias de negociação. Mas, em paralelo, o Marco Rubio postou nas mídias sociais que o governo dos Estados Unidos não estava ligado, né? Então, a primeira coisa que não fica claro é qual é o processo, se tem um processo. O que a gente entende do governo Trump, tanto no primeiro quanto nesse segundo mandato, é que nada é muito certo. Parece que, num primeiro momento, ele pode ter dado apoio — e certamente deu — porque não acredito que Netanyahu teria feito o que fez sem algum aval dos EUA. Mas acho que os Estados Unidos, na figura, sobretudo, do presidente, estão avaliando o quanto vale a pena se meter nesse vespeiro. Entendo que o Irã está sendo cuidadoso, evitando falar que não é contra os Estados Unidos ou qualquer outro país. Então, o que eu vou te dizer é que ninguém tem certeza de nada. Mas eu acredito que a única pessoa que pode parar a guerra é o Donald Trump. Não acredito que Israel sobreviva muito tempo nessa guerra sem o apoio estadunidense. Agora, se ele vai fazer isso ou não, é a pergunta de um milhão de dólares, porque acho que nem ele mesmo sabe. Ele muda de ideia o tempo todo.

IM – Mesmo sabendo que, militarmente, Israel é bem mais forte do que o Irã?

MS – São várias questões que você tem que levar em conta. Tem que entender que Israel, sim, é uma potência militar, é uma potência tecnológica. Mas o Irã também. Inclusive, eu estava vendo ontem num programa na TV israelense, que o Irã está fazendo uma guerra cibernética, com uso de inteligência artificial. Isso faz parte também de uma guerra psicológica, que o Irã faz muito bem. De fazer alertas falsos para a população israelense, de botar na mídia internacional fotos, imagens de inteligência artificial, como se ela tivesse sido mais impactada do que foi. Então, tem que levar em consideração, primeiro, essa assimetria. Mas lembrar que o Irã, com todas as sanções, com todos os problemas, conseguiu desenvolver programa de mísseis balísticos e que isso também é uma preocupação israelense. E de drones, tanto que estava fornecendo para Rússia. A Rússia, que, inclusive, estava usando esses armamentos na guerra com a Ucrânia e, certamente, deve estar preocupada porque o Irã já avisou que não vai fornecer mais para a Rússia, enquanto ele próprio está encarando uma guerra. Então, sim essa superioridade militar israelense por lado é impressionante, você vê a liberdade da força aérea israelense voar praticamente quatro horas entre ida e volta para efetuar ataques praticamente sem ser repreendido em território iraniano. Fora a inteligência israelense também que tem tantas informações, inclusive, aparentemente, de aliados dentro do território iraniano. É sempre em uma zona cinza que a gente tem que trabalhar.

IM – É possível pensar que esse conflito se prolongue mais do que o esperado?

MS – Acho que é meio suicídio para Israel, para o Irã, para o Oriente Médio, que ele se prolongue muito. E o mundo não precisa disso, até porque isso já deve estar nos afetando aqui no Brasil. Vai nos afetar ainda mais com preço do petróleo, tudo que a gente não precisa tendo um panorama econômico já complicado. E quase em véspera de eleições aqui. Não acho que seja de interesse de ninguém que essa guerra se prolongue, a não ser do Benjamin Netanyahu, porque quanto mais a guerra durar, menos ele tem que encarar muitas culpas, muitas culpas que ele tem internamente. Seja pelo fracasso de 7 de outubro, os tantos processos que ele pessoalmente enfrenta. A única figura nesse mundo que está em desajuste seria o presidente Trump. Na medida, em que ele conseguiria falar grosso e, de alguma forma, parar esse conflito. Me parece que para o Irã é menos doloroso, embora seja doloroso, que esse conflito se alongue mais do que para Israel. O regime do Irã, quando nasceu, justamente se beneficiou da guerra contra o Iraque que durou quase oito anos. É um regime há 46 anos no poder, que embora certamente enfraquecido, já tem precedente de sobreviver a uma guerra longa. Pode ser, e é isso que eu temo, que na realidade o regime saia mais fortalecido da guerra do que pensam os israelenses, que acreditam que talvez estejam ajudando a derrubar o regime dos aiatolás.

IM – Existe um custo de vidas numa guerra prolongada. Os regimes menosprezam este custo na disputa pelo poder?

MS – Eu acho que para Israel é mais pesado perder civis do que para o Irã. É óbvio que todo mundo sofre, estou dizendo em termos de avaliação dos regimes. Inclusive porque a fala iraniana, a fala do regime, que é a mesma do Hamas, é que não são mortos, são mártires. Então, não é à toa, eu acredito que dessa vez o Irã esteja atacando a população civil israelense porque sabe do peso disso.

IM – Isso está produzido medo na população israelense?

MS – Isso faz parte da estratégia militar iraniana, que sabe que a população israelense já está exausta desde o 7 de outubro. É um trauma que para muitas pessoas não acabou. Tem ainda 53 reféns, vivos ou mortos, que estão nas mãos do Hamas. Tem pessoas que testemunharam o 7 de outubro com sérios problemas mentais. Então, a estratégia iraniana, em grande medida, tem sido justamente tornar muito pesado para população civil, para que ela possa se revoltar contra o governo israelense. Por outro lado, o governo israelense também tem a mesma estratégia. Entende que o regime dos aiatolás está enfraquecido e, inclusive, as falas do Benjamin Netanyahu têm sido de que ele está fazendo o ataque para que a população se revolte e derrube o regime. E não se sabe o que vem no lugar. Então, tem também uma guerra psicológica e uma guerra com estratégias mais amplas, sobretudo, de impactar os respectivos regimes.

Redação com Info Money

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