A relação entre a TV Gazeta de Alagoas e a Rede Globo, sustentada por décadas de parceria na retransmissão da programação nacional no estado, está por um fio. E não é só a grade de programação local que pode sofrer com o rompimento. A crise escancara a dependência financeira da principal empresa de comunicação da família de Fernando Collor de Mello — condenado a oito anos e dez meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na Operação Lava-Jato.
Esses números sustentaram, até agora, a posição da Gazeta na Justiça alagoana, que renovou compulsoriamente o contrato com a Globo até pelo menos 2028. No entanto, uma nova decisão do ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), pode mudar o jogo. Ele autorizou a emissora carioca a rediscutir o caso em Brasília, com base no argumento de que a jurisprudência do STJ foi ignorada nas decisões anteriores favoráveis à Gazeta.
A Globo sustenta que o contrato de retransmissão jamais foi “essencial” para a sobrevivência da emissora alagoana, como alegam os advogados da família Collor. Segundo a defesa da Globo, o vínculo foi encerrado de forma consensual em dezembro de 2023, com comunicação prévia e tempo hábil para que ambas as partes reestruturassem suas operações de forma independente. A empresa carioca afirma ainda que, embora a Gazeta tenha alegado investimentos milionários, na prática gastava pouco mais de R$ 2 milhões por ano — valor baixo diante dos mais de R$ 44 milhões faturados pela emissora entre agosto de 2022 e julho de 2023.
Mais do que uma divergência contratual, o caso também carrega contornos éticos e reputacionais. A Globo afirma que manter-se vinculada à empresa de um condenado por corrupção compromete sua imagem. O STF apontou que Collor recebeu R$ 20 milhões em propinas da BR Distribuidora — antiga subsidiária da Petrobras — para beneficiar uma empreiteira em contratos de distribuição de combustíveis. Parte desses recursos, segundo o Ministério Público, foi parar diretamente nas contas da TV Gazeta, sendo usados posteriormente para comprar carros de luxo e uma lancha para o ex-presidente.
A disputa jurídica entre as duas emissoras revela os bastidores de uma crise que vai além da comunicação: trata-se da sobrevivência do maior grupo de mídia de Alagoas — e do legado empresarial de um ex-presidente da República que hoje figura entre os políticos mais enredados nos escândalos de corrupção do país. Com os dias da parceria contados, o destino da TV Gazeta parece cada vez mais incerto — e pode ter impacto direto sobre o mercado de comunicação, o emprego de centenas de funcionários e o controle da informação em Alagoas.
Todo Segundo
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