Por Julinho Bittencourt
Executado na noite de segunda-feira (15), em Praia Grande, o ex-delegado-geral de São Paulo Ruy Ferraz Fontes havia manifestado
preocupação com a própria segurança pouco antes de ser assassinado. Em 25 de agosto, durante a gravação de uma entrevista para um podcast da rádio CBN e do jornal O Globo, Fontes disse viver “sozinho” na Baixada Santista e não contar com proteção do Estado.
“Eu tenho proteção de quem? Eu moro sozinho, eu vivo sozinho na Praia Grande, que é no meio deles. Pra mim é muito difícil. Se eu fosse um policial da ativa, eu tava pouco me importando, teria estrutura para me defender, hoje não tenho estrutura nenhuma”, afirmou, na ocasião.
Aos 63 anos, aposentado da Polícia Civil, Fontes exercia desde janeiro de 2023 o cargo de secretário de Administração de Praia Grande. Embora demonstrasse receio por viver em uma região considerada reduto do Primeiro Comando da Capital (PCC), disse nunca ter recebido ameaças diretas da facção.
Conversa atrapalhada
“Teve uma conversa só meio atrapalhada com o Marcola, mas nunca teve um desenrolar negativo. No mundo do crime, existe uma ética. E essa ética é cobrada, de uma forma geral. (…) Se ele é criminoso e pratica crime, eu sou da polícia e investigo. Então não gera um descompasso pessoal em relação a quem investiga”, explicou.
Fontes teve papel central no combate ao crime organizado em São Paulo. Foi o responsável por detalhar, ainda nos anos 1990, a estrutura do PCC e por conduzir inquéritos que resultaram nas principais condenações de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder da facção. No início dos anos 2000, sua equipe indiciou todos os chefes da organização por formação de quadrilha, tornando-o alvo de planos de execução descobertos pelas autoridades.
Delegado-geral do Estado entre 2019 e 2022, comandou alguns dos mais importantes departamentos da Polícia Civil paulista, como o Deic, o Denarc, o DHPP e o Decap.
O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) fez duras críticas ao governo de São Paulo, comandado por Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), em nota oficial sobre o assassinato Ruy Ferraz Pontes, ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo.
“A ação que resultou na execução de Ruy Ferraz Fontes, o qual, há poucos anos, ocupou o cargo de comando máximo da Polícia Civil bandeirante, escancara a forma como o Governo do Estado de São Paulo cuida de seus policiais mais dedicados, ao mesmo tempo em que torna gritante a necessidade de a Polícia Civil ser melhor tratada, com efetiva valorização de seus profissionais, mais contratações e aumento nos investimentos em estrutura física e de materiais”, diz trecho da nota.
“É, afinal, a Polícia Civil a responsável pela investigação das organizações criminosas. Por consequência, se o Governo do Estado permite que a instituição se enfraqueça, como São Paulo tem feito nas últimas décadas, o crime organizado, inevitavelmente, ganhará espaço”, prossegue o sindicato.
“Para o Sindpesp, o homicídio do ex-delegado-geral, da forma como ocorreu, revela-se uma grande afronta às Forças de Segurança, à máquina pública e ao Estado de São Paulo, não podendo ficar de maneira alguma impune, sob pena de que todo o sistema de Segurança Pública caia em descrédito”, emenda a entidade.
Entenda o crime
Um crime de grande repercussão chocou a população de Praia Grande, no início da noite desta segunda-feira (15). Vítima de um atentado, Ruy Ferraz Pontes, ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo e, atualmente, secretário de Administração da cidade do litoral paulista, foi executado a tiros enquanto dirigia. A suspeita inicial recai sobre integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC).
A Polícia Militar (PM) informou que homens que estavam em outro veículo, uma caminhonete Toyota Hilux preta, atiraram contra o automóvel da vítima.
O caso ocorreu na Avenida Dr. Roberto de Almeida Vinhas, por volta das 18h21, no bairro Nova Mirim, perto do Fórum. Ainda segundo a PM, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi chamado e constatou a morte.
Informações iniciais apontam que Ruy perdeu o controle do veículo depois de ser baleado, o carro capotou e colidiu contra um ônibus.
Redação com Folha Santista
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