Por Letícia Cotta
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, explicou que a contaminação por metanol nas bebidas alcoólicas teria ocorrido no pós produção, e revelou que o antídoto importado, chamado fomepizol, deve chegar nesta semana, durante entrevista à TV Fórum nesta segunda-feira (6).
Padilha explicou que tudo indica que a adulteração ocorre após a produção, o que dificulta a retirada preventiva dos lotes. “Quando o crime acontece na produção, é possível rastrear o lote e retirar de circulação. Mas, neste caso, tudo sugere que a adulteração é posterior”, afirmou, ressaltando que o objetivo dos criminosos é “transformar uma garrafa em duas”.
Ele destacou ainda que o governo já garantiu o estoque de antídoto contra o metanol, após uma operação emergencial de compra. Foram adquiridas doses de etanol farmacêutico e fomepizol, medicamento de uso raro que precisou ser importado com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
O antídoto será distribuído em centros regionais de referência espalhados pelo país, com nove unidades em São Paulo.
As vigilâncias sanitárias seguem realizando visitas e apreensões de bebidas suspeitas em bares, mercados e distribuidoras. Em alguns casos, as polícias civil e federal têm feito o encaminhamento e a destruição das garrafas apreendidas, após os testes laboratoriais.
Sanções, Trump e Lula
Padilha também respondeu sobre a conversa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, a respeito das sanções sofridas pelo país, por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e figuras públicas, como ele próprio e sua família, que foram impedidos de renovar vistos.
Ele destacou que as medidas dos EUA tiveram o efeito contrário ao pretendido, dando ainda mais visibilidade internacional ao Brasil, minutos antes de ser divulgada que a conversa de Lula e Trump havia sido feita nesta segunda.
“Eu sempre vejo o diálogo e a negociação como algo positivo. O que fizeram comigo foi um tiro pela culatra, porque conseguimos ter mais visibilidade ainda no evento da Opas”, afirmou o ministro, em referência à Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Padilha disse que, após o episódio, recebeu solidariedade de colegas e ministros de outros países, e que a intervenção brasileira ganhou destaque durante a conferência internacional. “Vários colegas entraram em contato conosco. A intervenção teve uma visibilidade ainda maior no plenário, e vamos continuar fazendo as agendas com a Opas. Esta semana irei para outras agendas, na Europa e na China, fortalecendo nossas parcerias”, completou.
O ministro também destacou que o Brasil continuará diversificando parcerias internacionais e reduzindo a dependência econômica e tecnológica de qualquer país específico.
“O Brasil vai continuar fazendo investimentos em relação à dependência de qualquer país. Aos poucos, os congressistas e eventualmente o próprio governo americano vão ver que é um erro cortar contato com as cadeias de produção com o Brasil. Somos o segundo maior país do continente americano e temos um mercado muito importante”, declarou.
Padilha lembrou que o país preside três organizações internacionais na área da saúde, além de liderar negociações no Mercosul e em outros blocos multilaterais. “Estamos presidindo o Mercosul neste momento, avançando no acordo Mercosul-União Europeia, presidindo a parceria estratégica do BRICS de insumos na área da Saúde e a coalizão do G20”, disse.
O ministro também afirmou que as medidas impostas pelos Estados Unidos têm impacto econômico negativo para os próprios norte-americanos, citando o aumento de preços de produtos no país. “Os produtos nos EUA estão ficando mais caros. É o efeito direto dessas medidas equivocadas”, concluiu Padilha.
A quantidade de casos
Padilha informou que o Ministério da Saúde confirmou dois casos de intoxicação por bebidas adulteradas no Paraná e reforçou a orientação para que profissionais de saúde notifiquem imediatamente qualquer suspeita de envenenamento. A recomendação do ministério é que toda suspeita seja registrada como caso provável, o que agiliza o acompanhamento e a investigação dos surtos.
Em São Paulo, há 192 casos registrados, totalizando 225 notificações, das quais 14 foram confirmadas e 181 permanecem sob investigação. Segundo o ministro, os dados estão sendo compartilhados com as polícias civil e federal, que deverão apurar se há conexão entre os episódios ou se se trata de ações criminosas isoladas.
“Essas informações da polícia vão poder esclarecer melhor se é uma ação disseminada no país, se é uma organização só ou organizações diferentes”, afirmou Padilha.
O Ministério da Saúde também monitora 15 óbitos possivelmente relacionados à intoxicação por metanol, sendo dois em São Paulo e 13 ainda em investigação.
Redação com Revista Fórum