Por: Nícolas Paulino
Os próximos meses devem apresentar volumes de chuva próximos ou acima da média em boa parte do Ceará, segundo o mais recente boletim agroclimatológico do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), divulgado neste mês. A previsão abrange o centro-norte do Nordeste e o centro-leste do Ceará, áreas onde a tendência é de precipitações dentro ou acima da normal histórica.
- Dezembro: 31,6 mm
- Janeiro: 98,7 mm
O boletim estende a análise de novembro de 2025 a janeiro de 2026. Nesse período, o Inmet também indica que as temperaturas devem permanecer acima da média em todo o Nordeste, inclusive no Ceará, com anomalias positivas entre 0,5°C e 1°C. Porém, a elevação tende a ser menor ao longo da faixa leste.
As condições de solo também merecem atenção: o órgão prevê déficit hídrico em grande parte do Nordeste, especialmente nas áreas norte e leste da região – o que inclui o Ceará.

O que é a pré-estação chuvosa?
Dezembro e janeiro fazem parte da pré-estação chuvosa cearense, período que começa a registrar chuvas mais frequentes, mas ainda irregulares e de baixa abrangência.
Esse bimestre antecede a quadra chuvosa oficial (de fevereiro a maio) e costuma ser influenciado principalmente por sistemas meteorológicos “menores”, como vórtices ciclônicos de altos níveis e frentes frias.
A pré-estação pode trazer alívio temporário para o calor e dar início à recuperação gradual da umidade do solo, mas não garante recarga significativa de reservatórios.
Historicamente, segundo a Funceme, as chuvas desse período são consideradas passageiras e de baixa previsibilidade, podendo variar bastante de um ano para outro.
Fenômenos que influenciam o clima
O cenário climático previsto até janeiro de 2026 se baseia na observação de informações oceânicas. Quando o Atlântico Sul está mais quente e o Atlântico Norte mais frio, ocorre o chamado Dipolo Negativo, que aumenta a chance de chuvas na área norte do Brasil.
Quando a situação se inverte (Dipolo Positivo), as chuvas tendem a diminuir. No momento, o Atlântico está neutro, mas com anomalias positivas no Norte, o que desloca a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal sistema indutor de chuva no norte do Nordeste, para posições mais ao norte, o que desfavorece as precipitações ao longo da costa cearense.
Já no Pacífico, o resfriamento das águas na região Niño 3.4 (-0,5°C) configura uma condição inicial para La Niña, fenômeno com probabilidade de 62% para o trimestre novembro-dezembro-janeiro, segundo análise do Instituto Internacional de Pesquisa em Clima (IRI).
A La Niña tende a favorecer chuvas no Nordeste brasileiro. Contudo, seus efeitos dependem da intensidade, da duração e da forma como interage com o Atlântico.
Impactos para a agricultura no Ceará
Os dados do Inmet mostram que, apesar da tendência de chuvas próximas ou acima da média nos próximos meses para áreas do Ceará, o armazenamento hídrico do solo deverá permanecer baixo em grande parte do Nordeste (abaixo de 40% em muitos pontos).
No mês de outubro, a maior parte do interior nordestino registrou acumulados inferiores a 30 mm, com situações críticas no centro-sul do Ceará, onde o volume de água no solo ficou abaixo de 5%.
Em cenários assim, o avanço da semeadura de cultivos de primeira safra sem irrigação fica prejudicado. O Instituto alerta que a combinação de temperaturas elevadas, déficit hídrico e chuvas ainda irregulares pode limitar o desenvolvimento de culturas de sequeiro, “tornando essencial a adoção de estratégias adequadas de manejo hídrico”.
O Ceará voltou a registrar, em novembro, 100% do território sob condição de seca relativa, segundo a atualização do Monitor de Secas. A última vez em que isso ocorreu foi em janeiro de 2024.
Para a Funceme, “a pouca pluviometria acumulada ao longo do segundo semestre tem sido fator determinante para a intensificação do quadro”. A entidade reforça o período atual como “crítico do ponto de vista hídrico e ambiental”.
De acordo com o Monitor, 63,34% do Ceará está em Seca Moderada, nível em que podem ocorrer danos à agricultura e redução nos níveis de reservatórios, poços e córregos. Já a Seca Fraca atinge 36,65% do território, com maior concentração na porção norte do estado, incluindo Fortaleza e Região Metropolitana.
ABN C/ Diário do Nordeste

📚 Lançamento do número 03 da Revista da Academia Anadiense de Letras e Artes.
















