Anadia/AL

13 de março de 2025

Anadia/AL, 13 de março de 2025

A política na mira da polícia

A dúvida é se veremos um real enfrentamento à corrupção sistêmica ou se, mais uma vez, a cúpula do poder encontrará meios de esvaziar as investigações. 08:04

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 15 de fevereiro de 2025

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Foto: Reprodução

Por Geraldo de Majella

Nos últimos anos, o Brasil assistiu a um crescente cruzamento entre as páginas de política e as páginas policiais. Agora, com as denúncias e investigações em curso, figuras como Arthur Lira e outros caciques do Congresso Nacional podem estar prestes a protagonizar uma transição definitiva: deixar de ser notícia apenas nas editorias de economia e política para ocuparem um espaço privilegiado nos noticiários sobre corrupção e crime organizado.

As recentes investigações da Polícia Federal, impulsionadas por delações de parlamentares e operadores do sistema de emendas parlamentares, lançam luz sobre um esquema que pode revelar um dos maiores escândalos do Legislativo. Se as suspeitas forem confirmadas, estaremos diante de uma engrenagem bem azeitada de corrupção, montada para manipular a distribuição de recursos públicos, favorecendo aliados e perpetuando um modelo de governabilidade baseado no balcão de negócios, na chantagem e extorsão.

Arthur Lira, ex-presidente da Câmara, figura central nesse emaranhado de interesses, já vinha sendo alvo de questionamentos sobre sua influência desproporcional no controle das emendas parlamentares. O orçamento secreto, extinto apenas formalmente, já demonstrava como o Congresso se transformou em uma grande corretora de recursos públicos, na qual o acesso ao dinheiro do Estado depende menos das necessidades da população e mais da capacidade de desviar recursos público.

A ironia é que muitos dos que hoje correm o risco de cair nas malhas da Justiça foram, até recentemente, entusiastas de operações que atingiram adversários políticos. Defenderam investigações quando estas lhes eram convenientes, mas agora tentam classificar como perseguição qualquer apuração que os envolva. A seletividade da indignação sempre foi um traço marcante de nossa elite política, e isso inclui a disposição em mudar regras, descredibilizar órgãos de controle e até ameaçar o próprio Judiciário quando suas conveniências estão em jogo.

No entanto, há um fator que torna essa nova leva de denúncias ainda mais relevante: as provas documentais e os rastros financeiros são mais concretos do que em escândalos passados. Diferentemente das delações premiadas de empresários e operadores, que frequentemente careciam de lastro documental suficiente para condenações robustas, o que está em jogo agora são transferências diretas, valores que fluíram por canais oficiais e que, se mal explicados, podem configurar crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Se a Justiça e os órgãos de controle conseguirem avançar, os próximos capítulos podem representar um abalo sísmico na política nacional. A dúvida é se veremos um real enfrentamento à corrupção sistêmica ou se, mais uma vez, a cúpula do poder encontrará meios de esvaziar as investigações, como já ocorreu em tantos momentos da história recente.

Redação c/ O82 Notícias

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