Igor Mello, Karla Gamba e Juliana Dal Piva
A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) agiu clandestinamente para blindar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) quatro meses depois de o presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) cobrar a ministros proteção a seus familiares durante reunião oficial de governo.
Em relatório tornado público hoje (11) pelo STF no bojo do inquérito da Abin Paralela, a PF informou ter apreendido um áudio de 1 hora e 8 minutos. Ele retrata uma reunião realizada entre Jair Bolsonaro, o então diretor da Abin e hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) e o então ministro chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno. O áudio foi gravado e guardado por Ramagem, segundo a PF.
O encontro em 25 de agosto de 2020 serviu para que o presidente e os responsáveis pela inteligência do governo discutissem formas de auxiliar Flávio, que enfrentava uma investigação sobre o esquema de rachadinha em seu gabinete, que ficou conhecido como Caso Queiroz.
Para minar as investigações, ficou combinado que Ramagem colocaria seus subordinados para “achar podres” contra os auditores da Receita Federal responsáveis por elaborar o Relatório de Inteligência Financeira que deu origem ao escândalo. A PF afirma que a ação foi realmente feita e resultou em uma sindicância contra os servidores.
O encontro ocorreu quatro meses depois de Bolsonaro cobrar os canais de inteligência e prometer interferir em órgãos de segurança durante reunião ministerial realizada em 22 de abril de 2020.
Bolsonaro: ‘Não vou esperar f… minha família’
Na reunião ministerial, Bolsonaro cobrou aos berros os órgãos de inteligência do governo e afirmou ter uma estrutura informal de informações. Ele deixou claro que interferiria em órgãos de segurança para blindar sua família.
“Sistema de informações? O meu funciona. O meu particular funciona. Os outros que têm oficialmente desinformam. E voltando ao tema, prefiro não ter informação do que ser desinformado pelo sistema de informações que eu tenho”, bradou Bolsonaro. “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui. Não vou esperar f… minha família toda de sacanagem ,ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele. Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final, não estamos aqui para brincadeira!”.
Bolsonaro acrescentou: “O serviço de informações nossos, todos são uma vergonha [sic]. Uma vegonha! Por que eu não sou informado. E não dá para trabalhar assim. Por isso, vou interferir e ponto final”,.
Dois dias depois da reunião ministerial, Sérgio Moro, então ministro da Justiça, se demitiu, alegando que Bolsonaro tentava interferir na Polícia Federal. Bolsonaro então tentou nomear Alexandre Ramagem –hoje acusado de usar a estrutura da Abin a serviço de interesses pessoais do ex-presidente– como novo diretor da Polícia Federal. A nomeação foi vetada por decisão do STF.
Flávio diz que não tinha relação com Abin
Em uma postagem feita numa rede social na tarde desta quinta (11), o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que não possuía nenhuma relação com a Abin e que sua defesa atacava “questões processuais”:
“Simplesmente não existia nenhuma relação minha com Abin. Minha defesa atacava questões processuais, portanto, nenhuma utilidade que a Abin pudesse ter. A divulgação desse tipo de documento, às vésperas das eleições, apenas tem o objetivo de prejudicar a candidatura de Delgado Ramagem à prefeitura do Rio de Janeiro”.
Redação com ICL Notícias