Por Adriana Brandão:
A sessão em uma das salas do Palácio dos Festivais estava lotada e a equipe do filme foi calorosamente aplaudida. O veterano cineasta americano disse antes da exibição que o documentário é “sobre uma pessoa especial no mundo de hoje, um líder único”. Em sua fala, Oliver Stone lembrou alguns fatos marcantes da vida o presidente brasileiro e acrescentou “admiro profundamente este homem”.
Ele afirmou ainda que sabe “que muitas pessoas da elite detestam o Lula” e pediu que as pessoas da plateia “não o detestem”. O diretor-geral do Festival de Cannes, Thierry Frémeaux, tentou tranquilizar o cineasta afirmando que o público, formado por muitos brasileiros, iria “amá-lo e comprendê-lo”. Por fim, brincou: “quem não gosta do Lula que levante o braço!”, provocando risos.
“Lula” foi exibido na mostra “Sessões Epeciais” da seleção oficial do Festival. O filme retrata a vida do presidente brasileiro, focando na sua prisão, entre 2018 e 2019, sua eleição em 2022 e a volta ao poder “triunfal”.
Entrevista inédita com Lula
Os diretores tiveram um acesso privilegiado para entrevistas com o presidente brasileiro e seus conselheiros. A principal entrevista, feita por Oliver Stone com o então candidato à reeleição pelo PT, aconteceu durante a campanha eleitoral de 2022. Ele também conversou com Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept, para revelar os meandros da Operação “Lava Jato” que levou Lula à prisão.
O longa ressalta a importância da “Vaza Jato”, divulgada por Greenwald, para a libertação do líder do PT. O filme denuncia o chamado “lawfare”, ou instrumentalização política da justiça, e a implicação dos Estados Unidos na operação Lava Jato.
Além das entrevistas inéditas, o documentário, clássico, é construído com imagens de arquivo, potencializadas por uma trilha sonora instrumental. Para o público brasileiro, “Lula” não traz muitas novidades. Mas, a mensagem do filme visa um público internacional. No final da exibição, bastante aplaudida, o codiretor Rob Wilson disse esperar que o público “perceba que é possível que as democracias no mundo tenham um político como o Lula, que cumpre, uma vez no poder, as promessas que faz”.
Stone fez outros filmes com temáticas latino-americanas, como a ficção “Salvador”, em 1986, com James Woods. Durante sua carreira, o diretor também realizou documentários sobre personalidades do continente, como os três projetos sobre Fidel Castro, lançados entre 2003 e 2012, ou ainda “My Friend Hugo”, sobre o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez. Várias cenas desses filmes foram reutilizadas em “Lula”, que concorre ao prêmio “Olho de Ouro” de melhor documentário selecionado no Festival de Cannes.
Redação com RFI