Por: Manuela Rached Pereira
Ao menos dois alunos do curso de Direito da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) acusados de racismo contra estudntes da USP( Universidade Católica de São Paulo, não integram mais o quadro de funcionários de grandes escritórios de advocacia na capital paulista.
O que aconteceu
Identidade de três alunos supostamente envolvidos no caso de racismo circulam nas redes sociais e escritórios se posicionaram nesta segunda-feira (18). As instituições de advocacia Pinheiro Neto Advogados e Castro Barros tinham dois dos estudantes no quadro de funcionários como estagiários e confirmaram ao UOL que os jovens não integram mais os escritórios (veja abaixo os posicionamentos da íntegra).
Ao que tudo indica, estudantes foram demitidos. Os escritórios, porém, não confirmaram a informação à reportagem até o momento desta publicação. O espaço segue aberto a manifestações.
Outra estudante acusada que estagiava no Machado Meyer teve a identidade divulgada e escritório se posicionou, sem confirmar demissão. “O Machado Meyer recebeu ao longo do final de semana notícias a respeito dos eventos ocorridos nos jogos jurídicos estaduais de São Paulo. Neste contexto, informa que fará as apurações necessárias e avaliará as medidas a serem tomadas”, divulgou em nota.
Veja como cada escritório se posicionou sobre estudantes
O escritório Pinheiro Neto Advogados lamenta o episódio ocorrido durante os Jogos Jurídicos Estaduais, no último sábado (16). O escritório reitera que não tolera e repudia racismo ou qualquer outro tipo de preconceito. Informamos que a estagiária envolvida nesse episódio não integra mais o escritório.
Escritório Pinheiro Neto, em nota
O Castro Barros Advogados não admite qualquer ato discriminatório praticado por qualquer um de seus integrantes, dentro ou fora do Escritório. Qualquer pessoa que ignore ou despreze esse fato não tem condições de fazer parte do Castro Barros Advogados.
Escritório Castro Barros, em nota
O Machado Meyer recebeu ao longo do final de semana notícias a respeito dos eventos ocorridos nos jogos jurídicos estaduais de São Paulo. Neste contexto, informa que fará as apurações necessárias e avaliará as medidas a serem tomadas. O escritório reforça que repudia, veementemente, qualquer ato de preconceito ou discriminação. O Machado Meyer tem a diversidade como um de seus pilares essenciais e reitera o seu empenho em garantir um ambiente profissional pautado pela ética e pelo respeito às diferenças.
Escritório Machado Meyer, em nota
Entenda o caso
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram integrantes de torcida da PUC-SP xingando alunos do time adversário de “pobres” e “cotistas”. As ofensas ocorreram por parte de estudantes da Torcida da Atlética 22 de Agosto, durante uma partida de handebol masculino entre equipes da universidade particular e da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP, nos Jogos Jurídicos Estaduais de São Paulo, segundo divulgado em nota por coletivos da própria Pontifícia Universidade Católica de São Paulo no sábado (veja mais abaixo).
Parlamentares do PSOL acionaram MP-SP para pedir instauração de inquérito policial e denúncia criminal dos autores das ofensas. “As referidas ofensas transcendem o ambiente de rivalidade esportiva e configuram um comportamento discriminatório que associa a condição socioeconômica e racial de estudantes cotistas a uma suposta inferioridade. (…) Os atos descritos enquadram-se no conceito de racismo, crime previsto no artigo 20 da Lei n.º 7.716/89”, diz um trecho da ação protocolada no Ministério Público de São Paulo pela deputada federal Sâmia Bomfim, a vereadora paulistana Luana Alves, e a co-deputada estadual Letícia Chagas, todas do PSOL.
Coletivos consideram ofensas “explicitamente racistas e aporofobicas”. Em comunicado publicado nas redes sociais, os coletivos Saravá e Da Ponte para Cá, formados por estudantes negros e bolsistas da PUC-SP, se posicionaram “com extrema indignação e repúdio aos ataques racistas ocorridos” contra estudantes negros da USP durante a competição universitária.
É importante frisar que ataques de ódio como este acontecem há muito tempo. Antes de ocorrerem durante os Jogos Jurídicos, esses ataques se iniciam nos corredores e salas da PUC-SP. Observamos uma intensificação dessas violências racistas e aporofobicas [tanto] por parte do corpo docente quanto discente da universidade (…) Este cenário é reflexo da estrutura racista e elitista da PUC-SP, que se intensificou expressivamente nos últimos anos. Diversas denúncias feitas internamente por meio da ouvidoria, sobre casos de racismo e aporofobia sequer recebem uma resposta.
Coletivos Saravá e Da Ponte para Cá, em nota divulgada no Instagram no sábado (16)
O ato de ridicularizar os atletas universitários, utilizando referências às cotas e à pobreza, como se tais elementos fossem motivo de escárnio, tem como objetivo reforçar hierarquias raciais preexistentes. Por meio do humor, busca-se afirmar que, mesmo competindo em igualdade de condições, os atletas ainda pertencem a um grupo social e racial considerado inferior e, portanto, passível de ser tratado como objeto de desprezo e piada. Trecho da representação enviada ao MP-SP por parlamentares do PSOL.
um ambiente inclusivo e respeitoso para todos os alunos e alunas. Essa é uma demanda frequente da comunidade acadêmica, que exige ações concretas e eficazes.
Trecho de nota divulgada pelas diretorias das Faculdades de Direito da USP e da PUC-SP junto aos Centros Acadêmicos XI de Agosto e 22 de Agosto.
Redação: Uol