Por Plínio Teodoro
Papa da Misericórdia, que pregou até o penúltimo dia de vida pelo desarmamento e a paz, principalmente na “dramática e ignóbil” situação na Palestina, Francisco ganhou a alcunha de “papa comunista” e foi duramente atacado pela ultradireita neofascista em todo o mundo durante sua passagem pelo Vaticano.
No Brasil, Jair Bolsonaro (PL) desferiu diversos ataques contra o pontífice e, nesta segunda-feira (21), sequer chegou a citar o nome escolhido por Jorge Bergoglio ao assumir a liderança máxima da Igreja Católica se referindo como “figura do papa”.
No entanto, um episódio específico de Francisco despertou o ódio de Bolsonaro, refletido na horda de apoiadores radicais, que celebram a morte do líder católico nas redes.
Em longa entrevista ao site espanhol ABC – replicado pelo site oficial do Vaticano – em 2022, o Papa Francisco falou abertamente sobre o processo de lawfare contra Lula (PT) no Brasil e classificou como “gravíssima” as perseguições judiciais a líderes políticos e sociais baseadas em fake news criadas pela mídia.
Indagado sobre o que achava do caso de Lula, que foi eleito presidente no Brasil após ser julgado e preso, o papa respondeu prontamente.
“É um caso paradigmático. O processo de julgamento começou com notícias falsas na mídia, “fake news”, que criaram uma atmosfera que influenciou em seu julgamento. O problema das ‘notícias falsas’ sobre líderes políticos e sociais é gravíssimo. Eles podem destruir uma pessoa”, disse Francisco.
Na sequência, os jornalistas Julián Quirós e Javier Martínez-Brocal falaram que Lula “passou 580 dias na prisão e foi impedido de concorrer às eleições presidenciais de 2018” e que “em 2021, o Supremo Tribunal Federal revogou todas as sentenças contra ele porque os que o julgavam não tinham competência para tal”.
Francisco, então, emendou: “Não sei como acabou. Não dá a impressão de que foi um julgamento decente. E a esse respeito, é preciso cuidado com aqueles que criam o clima para qualquer processo. Fazem-no através de colunistas da mídia de forma a influenciar quem tem que julgar e decidir. Um julgamento deve ser o mais limpo possível, com tribunais de primeira classe que não tenham outro interesse senão fazer Justiça de forma limpa. Esse caso no Brasil é histórico. Não trato de política. Estou contando o que aconteceu”.
Lula e Dilma
Um ano depois, o papa voltou a falar do assunto e foi mais direto em entrevista ao canal C5N, da Argentina. Francisco declarou que Lula e a ex-presidenta Dilma Rousseff são inocentes – no caso do primeiro, com relação à condenação que o levou à prisão e, no caso da segunda, sobre o golpe que a retirou do poder através de um processo de impeachment.
“O lawfare abre caminho nos meios de comunicação. Deve-se impedir que determinada pessoa chegue a um cargo. Então, o pessoal os desqualifica e metem ali a suspeita de um crime. Então, faz-se todo um sumário, um sumário enorme, onde não se encontra [a prova do delito], mas para condenar basta o tamanho desse sumário. ‘Onde está o crime aqui?’ ‘Mas, sim, parece que sim…’ Assim condenaram Lula”, declarou.
Em outro momento, o jornalista disse que “inocentes são condenados” e Francisco, mais uma vez, questionou a condenação que levou Lula à prisão e que depois foi anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pelo fato do ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (UB-PR) ter sido considerado suspeito e parcial. “No Brasil, isso [condenar inocentes] aconteceu nos dois casos”, afirmou, se referindo a Lula e também a Dilma Rousseff.
Especificamente sobre a ex-presidenta, o religioso afirmou que Dilma tem “mãos limpas” e que é “uma mulher excelente”. “Não puderam [comprovar que ela tenha cometido irregularidades]. Uma mulher de mãos limpas, uma excelente mulher”, atestou.
Redação com Revista Fórum
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