⚫ Por Geraldo de Majella
O Dia dos Pais é um momento de valorização do vínculo afetivo, uma lembrança da dedicação e da influência que pais, avôs, padrastos e figuras paternas exercem na formação e no cuidado ao longo da vida.
O comércio e a indústria, como era de se esperar, aproveitam a data para potencializar o sentido comemorativo por meio da compra de presentes. Mas, para mim, esta data vai muito além do consumo.
As lembranças que tenho do meu pai, Josias de Souza Marques (1921-1987), proprietário de uma pequena farmácia, são diárias — e, muitas vezes, mais de uma vez ao dia, me percebo repetindo gestos ou até mesmo falas que ouvi dele quando criança, adolescente e adulto. Uma das marcas mais fortes que carrego é seu espírito de solidariedade e tolerância.
Para um homem que viveu toda a sua vida numa cidade do interior de Alagoas e que não estudou além do curso ginasial — concluído apenas depois dos cinquenta anos — meu pai demonstrava uma postura rara hoje: tolerância política e religiosa.
Lembro-me bem de 1981, quando fui a Anadia (AL), nossa cidade de origem, para participar de uma atividade política com o jornalista Nilson Miranda, que havia retornado ao Brasil poucos anos antes, beneficiado pela anistia aos presos e perseguidos políticos. A presença de comunistas na cidade gerou comentários. Na nossa comitiva estava também Rubens Colaço, comunista que meu pai conhecera em 1964, na Penitenciária de Alagoas. Colaço estava preso, e meu pai, sem nunca ter sido do PCB, ia àquele lugar sombrio para prestar solidariedade a diversos presos políticos de Anadia, seus amigos.
Ele era um seguidor do ex-governador Muniz Falcão, a quem tinha grande admiração.
Para mim, o Dia dos Pais é isso: rememorar o que um homem simples do interior de Alagoas sentia pelas pessoas, sempre guiado por um gesto de humanidade que norteou sua curta existência. Foram apenas 65 anos, mas o suficiente para deixar um legado que me acompanha todos os dias.
O humanismo cristão católico que ele cultivava não erguia barreiras ideológicas para falar, conversar e conviver com quem pensava de maneira oposta à sua. Ele não deixou bens materiais, mas um legado de dignidade, generosidade e fé no ser humano.
Nossa casa era, metaforicamente, uma Casa Aberta que acolhia a todos indistintamente.
⚫ Redação C/ 082 Notícias
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