A técnica de enfermagem Lilian Cristóvão tem o azeite como um alimento indispensável na cozinha para uso em preparações como saladas, massas e carnes. Mas, ela se assustou com os preços do óleo vegetal nas prateleiras dos supermercados nos últimos meses e, assim, precisou repensar o consumo.
Lilian conta que já tem observado a redução dos preços, mas, ainda assim, abaixo do esperado.
“Um azeite que antes custava R$25, R$22, em fevereiro, chegou a valer R$50, R$52. Então, isso repercutiu muito ao consumir o produto. De 1 mês e meio para cá eu percebi que o valor abaixou um pouco, caiu para R$35, mas, mesmo assim, ainda é um valor considerado alto. No meu caso, especificamente, porque eu uso bastante na cozinha, repercute muito no bolso”, contou.
No Brasil, 98% do azeite consumido vem de fora, já que o país tem dificuldades para produzir o alimento por questões climáticas. Se entre maio de 2023 e junho de 2024, o preço do óleo vegetal aumentou 50,74% no acumulado, neste ano, o produto alimentício acumula queda de 4,42%, segundo o IBGE.
O professor do Centro de Estudos do Agronegócio da FGV Felippe Serigati explica que o azeite sofreu essas elevações por quebra de safra na Europa, especialmente na Espanha, ligada à escassez hídrica. Somado ao problema, houve, ainda, a alta do dólar, no final de 2024. Por outro lado, em 2025, o cenário é o oposto, segundo o especialista.
“Neste ano, a atmosfera do planeta não operou nem sob regime de La Niña e nem sob regime de El Niño. Então, as oliveiras voltaram a produzir em condições mais regulares e já deram uma melhorada na safra de azeite. E do outro lado, houve o movimento inverso do câmbio. Em alguns momentos a gente viu esse câmbio operando ali até a R$ 5,35 e, até em alguns momentos, abaixo desse patamar. Então, isso contribuiu para que a gente visse o preço do azeite com preços mais moderados. Provavelmente, lá no final do ano, o azeite que a gente vai utilizar não vai estar com aqueles preços na alta”, explicou.
A elevação dos preços do azeite importado favoreceu, de certa forma, o olhar mais atento dos consumidores brasileiros ao óleo vegetal produzido no país.
Houve, por exemplo, alta procura pelo azeite produzido na propriedade de Hebert Sales, na Serra da Mantiqueira, no Sul de Minas – uma das poucas regiões no país com a altitude e temperatura adequadas para o cultivo da oliveira.
Hebert ressalta que, assim como na Europa, o clima favoreceu e a produção do próximo ano deve ser boa.
“Dependendo da planta precisa, no mínimo, de 500 horas de frio e constante. Não é aquele frio fez calor, frio fez calor, não. Então, é regularidade de frio. Esse ano está sendo bom, os produtores no próximo ano, todos aqui no sul de Minas, acho que no Rio Grande do Sul também, terão uma safra muito boa, assim, bem qualificada. Vamos aguardar até a data da colheita, é sempre assim, porque pode ter uma chuva de granizo na florada, pode ter uma chuva de granizo com fruto no pé, o que pode danificar a produção. Mas, a princípio, estamos indo bem”, afirmou.
Assim como o azeite, o café, considerado o principal vilão da cesta básica do brasileiro na atualidade, registrou em setembro o terceiro mês seguido de queda, segundo o IBGE. A redução no período foi de 0,06%, ainda tímida perto da alta acumulada de 54,55%, nos últimos 12 meses.
Por outro lado, esse movimento de redução já vem perdendo força após a indústria do café anunciar um aumento de até 15% do grão tradicional e extraforte, a partir deste mês, para cobrir custos do mercado.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café, o novo aumento ocorre devido a uma combinação de fatores. Entre elas, uma menor safra de café impactada pelas mudanças climáticas – o que se repete desde 2020 -, além da aplicação do tarifaço de 50% dos Estados Unidos sobre o produto e, ainda, os baixos estoques globais.
O diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café, Celírio Inácio, afirma que o mercado está atento às expectativas para a safra 2026.
“A expectativa é que a gente mantenha essa média. Não há nada de novo no mercado além do que já houve. A menos que aconteça alguma coisa extraordinária, excesso de chuva ou muita falta de chuva para esses produtores de cafés. Mas, tudo indica que nós vamos manter esse preço com algumas pequenas oscilações até janeiro e fevereiro, quando começa também a ter a expectativa nossa e dos outros países do que vai ter de produção no mundo para que essa oferta seja um pouco mais equilibrada”, afirmou.
Enquanto os preços seguem em patamares elevados, quem é fã do cafezinho se planeja para não pagar tão caro. Como a engenheira Nayara Silva, que toma café o dia todo, seja em casa ou no trabalho.
“Minhas alternativas hoje estão sendo comprar diretamente do produtor rural. Então, quando eu vou para a casa de algum parente, eu tenho feito isso com mais frequência, justamente para buscar um cafezinho e eu procuro os locais que já sei onde vende. Eu também uso como alternativa comprar packs ou fardos no MercadoLivre, no próprio Amazon, porque aí a gente tenta diminuir um pouco do preço que está hoje”, relatou.
A colheita do café da safra 2024/2025 foi encerrada com estimativa de 55,2 milhões de sacas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento.
Redação com CBN.Globo