No total, são 13 Unidades de Conservação em âmbito federal, cinco municipais e 85 estaduais, das quais dez são públicas e estão sob gestão direta do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL). Entre elas, destacam-se seis Áreas de Proteção Ambiental (APAs), como a de Murici – que é a maior delas e abrange dez municípios -, do Marituba do Peixe, do Pratagy, e a do Catolé e Fernão Velho, uma das mais estratégicas do estado.
A mais antiga delas é a APA de Santa Rita, situada no município de Marechal Deodoro e criada em 1984. Já a mais recente é a Serra da Caiçara, criada em 2022, e que abrange os municípios de Maravilha, Poço das Trincheiras, Santana do Ipanema, Ouro Branco e Canapi, no Sertão de Alagoas.

Além das APAs, existem também, sob a proteção estadual, as Reservas Ecológicas (Resecs) de Manguezal da Lagoa do Roteiro e do Saco da Pedra; o Refúgio de Vida Silvestre (RVS) Morros do Craunã e do Padre, e a Estação Ecológica (Esecs) Curral do Meio. Isso sem falar das 75 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), áreas reconhecidas oficialmente pelo Estado, mas cuja gestão é de responsabilidade dos proprietários, que assumem o compromisso de conservar os ecossistemas em suas terras.
Ao IMA/AL, cabe a tarefa de criar, administrar e coordenar as UCs estaduais. Isso significa elaborar Planos de Manejo, acompanhar os conselhos gestores, fiscalizar atividades, implantar projetos de educação ambiental e atuar em conjunto com comunidades e instituições para garantir que cada unidade cumpra seu papel.

O Plano de Manejo, inclusive, é criado como uma ferramenta essencial de gestão. Ele divide as APAs em zonas com usos específicos, como áreas de proteção integral, áreas de preservação especial e até regiões de expansão urbana, onde o crescimento deve seguir parâmetros ambientais. Mais que um documento técnico, o zoneamento funciona como uma bússola para o futuro da APA: estabelece limites, aponta caminhos e ajuda a equilibrar o desenvolvimento econômico, a qualidade de vida e a preservação.
“Atuamos fazendo o monitoramento e a fiscalização, com vistorias realizadas in loco. Cada Unidade de Conservação tem um Conselho, que é formado por multiplicadores das boas práticas ambientais”, explica o gerente das Unidades de Conservação do Instituto, Alex Nazário.

Catolé e Fernão Velho: água, história e biodiversidade
Se a APA Santa Rita, criada em 1984 para preservar as características ambientais e naturais dos canais e lagunas Mundaú e Manguaba, é a mais antiga Área de Proteção Ambiental existente em Alagoas, a APA do Catolé e Fernão Velho é, sem dúvida, uma das mais vitais para a qualidade de vida da Região Metropolitana de Maceió. Criada pela Lei Estadual nº 5.347, de 1992, a unidade se estende por 3.817 hectares (38,17 km²), abrangendo os municípios de Satuba, Santa Luzia do Norte, Coqueiro Seco e parte da capital.
O bairro de Fernão Velho acrescenta uma camada cultural à APA. Conhecido por ter abrigado uma das primeiras fábricas têxteis do estado, o local guarda memórias de um período industrial que marcou a história de Maceió e hoje se entrelaça com a necessidade de conservar o patrimônio natural ao seu redor.
Alex Nazário conta que a APA do Catolé e Fernão Velho foi criada com objetivos estratégicos, pois além da proteção dos ecossistemas da região, com predomínio da Mata Atlântica, é preciso também garantir água de qualidade e quantidade suficientes para abastecer inúmeros domicílios de Maceió.

Ele conta que os principais problemas enfrentados pelo IMA na localidade têm relação com a ocupação irregular da área – que é considerada frágil -, a disposição inadequada de resíduos sólidos e também o despejo irregular de esgoto, que acaba contaminando o solo e os recursos hídricos.
Há ainda uma situação marcante que vem ocorrendo mais recentemente e tem preocupado os órgãos ambientais: a erosão ocasionada pela retirada de vegetação e as construções irregulares.
“A erosão tem ocorrido tanto pela ocupação irregular quanto pelo mau direcionamento das águas, advindas das chuvas ou de acúmulo de forma inadequada. Elas estão ocasionando processos erosivos de alta preocupação para os órgãos. Na descida da Ladeira do Catolé, em Satuba, por exemplo, tem uma vossoroca [buraco] imensa. E estão surgindo outros processos erosivos ali na região das encostas da Santa Amélia e também no bairro de Fernão Velho. Isso tudo é ocasionado, primeiramente, pela retirada da cobertura vegetal original. Depois, tem a construção de residências e a chegada de condomínios e loteamentos onde as águas pluviais não são corretamente direcionadas e acabam resultando nesse processo”, destaca Nazário.
A maioria dos processos erosivos nessa APA específica ocorre em Maceió e, além do IMA, outros órgãos, como o Ministério Público Estadual (MPAL) e secretarias municipais, têm acompanhado frequentemente a situação. Pelo menos uma obra já foi embargada pelo IMA na região da Santa Amélia, pelo direcionamento incorreto das águas pluviais, o que poderia causar erosão das regiões de encostas.
Quando preservar também significa prosperar: riqueza sem derrubar nada
As Áreas de Proteção Ambiental foram criadas para serem espaços de diálogo entre a natureza e as pessoas. No caso do Catolé e Fernão Velho, essa convivência é ainda mais sensível, já que dela depende diretamente a água que chega às torneiras de milhares de alagoanos todos os dias. Em todas as APAs que compõem a rede de proteção do estado, a sobrevivência está ligada à consciência coletiva.
E é nesse ponto que se encontra o grande desafio: transformar conhecimento em ação, regras em práticas e consciência em cotidiano. Afinal, as APAs não são apenas áreas em mapas. Elas são espaços vivos, que pedem respeito, cuidado e, sobretudo, uso sustentável, o que pode ser alcançado com a conscientização da população.
O engenheiro agrônomo e empreendedor Mário Calheiros de Lima sabe bem o que representa o uso sustentável da APA. Diretor presidente da empresa Fernão Velho, que comercializa mel e outros produtos derivados da abelha, ele conta que o empreendimento está instalado na APA do Catolé e Fernão Velho há 22 anos, gerando empregos, renda e cuidando do que há de mais precioso no entorno da empresa: a fauna, a flora e os recursos hídricos existentes no local.

Mário destaca que os trabalhos voltados à preservação do meio ambiente começaram antes mesmo da apicultura, quando ele iniciou uma ação de recuperação ambiental ainda na região do Cinturão Verde, em Maceió. E foi dentro dessa iniciativa que ele começou a desenvolver uma ação com as abelhas para polinização de plantas. “Tomei gosto e me apaixonei por isso”, conta o empreendedor, que também é membros do Conselho da APA do Catolé e Fernão Velho.
Consciente da importância de toda a riqueza natural que está no entorno da empresa Fernão Velho, Mário diz que a apicultura e a meliponicultura caem “como uma luva” quando o assunto é gerar riqueza protegendo os recursos naturais.
Você produz riqueza, inclusive, interagindo com os vizinhos dessas áreas. Pessoas que estão muitas vezes precisando de alguma atividade, até para alimentar a família, e a gente consegue produzir alimentos como mel, pólen, própolis e outros diversos produtos sem destruir nada
Para Mário, o grande papel das abelhas na natureza é, justamente, fazer as pessoas entenderem que, o que precisamos, realmente, é proteger a natureza. “Portanto, por conta da nossa atividade aqui dentro da APA, onde também moramos, passamos a interagir bastante com a comunidade circunvizinha e formamos muitos produtores. Só na região de Fernão Velho temos, atualmente, mais de 30 produtores que produzem riqueza, repito, sem derrubar nada”, afirma.
Ele destaca que a Fernão Velho é uma empresa familiar, formada por dez pessoas que são parentes que se reúnem semanalmente. Todas têm formação superior, sendo cinco deles engenheiros, um deles ambiental, que tem a função de trabalhar a questão da proteção da natureza.
“Interagimos com todos os funcionários e com todos os circunvizinhos. Criamos com eles até uma associação dos moradores e dos protetores da natureza. Até porque nós estamos dentro de uma área nobre, que precisa ser preservada. Aqui temos o maior remanescente de Mata Atlântica da cidade de Maceió. Além disso, boa parte da água utilizada na capital vem exatamente daqui. Então, conscientizar sobre a proteção desses recursos é fundamental. E o apicultor, antes de tudo, é um protetor da natureza. A partir do momento que você derruba a natureza, você também derruba toda a produção de mel”, pontua.

Acesso à APA
Alex Nazário explica que a liberação da utilização para os visitantes, para fins de recreação, dificultaria o controle do descarte de resíduos e a qualidade da água, que segue direto para as torneiras de muitos alagoanos. “Há também a questão da movimentação dessas águas, que poderia ocasionar uma turbidez cada vez que uma pessoa entrasse ali, dificultando a questão do tratamento e do condicionamento dessa água para o uso consumo da população”, explica.
Redação com Gazeta web
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