Anadia/AL

22 de julho de 2024

Anadia/AL, 22 de julho de 2024

Bolsonaristas na Argentina: Lula pediu informação, mas não há prazo para resposta de Milei que pode gerar conflito bilateral

"Governo argentino disse que não tem informações sobre o pedido de asilo a bolsonaristas", escreve Marcia Carmo | 21:47 hs

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 8 de junho de 2024

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Luis ROBAYO/EVARISTO SA/AFP

Na sexta-feira, a embaixada do Brasil em Buenos Aires apresentou requerimento formal ao Ministério das Relações Exteriores da Argentina solicitando informações sobre todos os condenados pelo atentado à democracia brasileira no dia oito de janeiro de 2023 que podem estar no país. A lista com o nome de cada um foi entregue à Chancelaria argentina (equivalente ao nosso Itamaraty). Estima-se que 65 deles, envolvidos com as depredações nos Três Poderes, poderiam estar no território argentino, segundo fontes brasileiras e argentinas que acompanham o caso nos dois países. Até poucos dias este número era estimado em 48, disse uma fonte. Não há precisão sobre este número exato até o momento. O pedido formal do governo brasileiro é para que a Comissão Nacional para os Refugiados (Conare), através do Ministério das Relações Exteriores, forneça todas as informações possíveis sobre os bolsonaristas. “Eles são foragidos da Justiça brasileira e sabemos que alguns têm pedido de refúgio”, disse o embaixador do Brasil em Buenos Aires, Julio Bitelli. Não há prazo, porém, para que o Ministério das Relações Exteriores responda ao pedido brasileiro. Como no Brasil, quando alguém pede refúgio, a solicitação passa por uma comissão que analisa o caso. “Sabemos que alguns destes brasileiros entraram com o pedido no Conare”, disse o embaixador. Os dois países possuem acordo de extradição. O mesmo ocorre no âmbito do Mercosul e especialistas observam que o destino destes bolsonaristas poderá ser definido pelo presidente Javier Milei.

O bloco possui um acordo que regula o assunto, mas existe espaço e interpretação que podem chegar a levar a se negar as extradições nos casos definidos como sendo de natureza política. Milei é amigo do deputado Eduardo Bolsonaro e admirador do ex-presidente Jair Bolsonaro, que participou de sua posse no dia dez de dezembro passado. O parlamentar esteve em Buenos Aires, no dia 30 de maio, no Congresso argentino, onde esteve presente no um seminário chamado ‘Censura, liberdade de expressão e direitos humanos no Brasil’. Ele defende que os “bolsonaristas foragidos” recebam “asilo político” na Argentina. O evento foi realizado pela deputada argentina María Celeste Ponce, simpatizante do bolsonarismo, e do partido de Milei, A Liberdade Avança (LLA). Em suas redes sociais, Eduardo Bolsonaro tem defendido os que escaparam para o país vizinho. A palavra de Milei, se optar por protegê-los, pode gerar uma relação política complicadíssima com o governo Lula, num momento em que na diplomacia dos dois países se interpretava, até poucas horas, que a relação bilateral flui, apesar de os presidentes Lula e Milei nunca terem trocado palavras nestes seis meses de governo do argentino. Na sua campanha eleitoral à Casa Rosada, Milei fez fortes acusações contra Lula. Ele tem intensificado, de forma agressiva, seus discursos contra o socialismo, a esquerda e o Estado (os pilares de seus ataques) à medida que enfrenta dificuldades crescentes para aprovar seus projetos no Congresso Nacional. Milei diz que são os responsáveis pelo que define como “decadência” e continua acreditando que cada um deve se virar por si mesmo, sem a “interferência do Estado” – seus discursos mostram falta de empatia e compaixão pelos mais necessitados. O argentino mandou duas cartas ao Palácio do Planalto, através da diplomacia, mas jamais pediu desculpas ao presidente Lula e, até aqui, não estaria inclinado a fazê-lo.

Com os bolsonaristas soltos na Argentina – e as declarações deles em vídeo ao portal de notícias UOL, repetindo até a frase preferida de Milei (‘Viva la libertad, carajo’), a situação entra em outro patamar. Na gravação, dois deles aparecem em frente a Casa Rosada, onde contam como quebraram tornozeleira eletrônica e escaparam, por terra e sem dificuldades para a Argentina, depois de um período no Uruguai. Como o custo de vida é mais caro em terras uruguaias, a opção foi a Argentina, contaram, onde pretendem “empreender” e se estabelecer com suas famílias. As declarações, sem sinais de preocupação, são uma provocação ao papel da Justiça brasileira. A chanceler argentina Diana Mondino, que tem sido chamada nos bastidores do Itamaraty, de ‘bombeiro’ da política externa argentina, ainda não se pronunciou publicamente sobre o caso. Num jantar na terça-feira no Conselho Argentino para as Relações Internacionais (CARI), Mondino indicou que a relação bilateral ia muito bem e contou que a Associação Comercial de São Paulo tinha convidado empresários argentinos para uma missão de negócios conjunta ao Egito. Um sinal de que a falta de diálogo presidencial não impede que outros canais continuem ativos. Agora, a expectativa é saber sobre a decisão de Milei. No Ministério do Interior, onde está o Conare, disseram ao Brasil 247, neste sábado, que “ainda não há informações” sobre os bolsonaristas soltos na Argentina.

Neste sábado, a ministra da Segurança do governo Milei, Patrícia Bullrich, disse que não tem informações sobre o pedido dos bolsonaristas. ‘Não temos alertas sobre essas pessoas. E também não temos essa lista (dos foragidos)”, disse Bullrich à imprensa argentina.

*Redação com Brasil 247

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