Anadia/AL

20 de junho de 2025

Anadia/AL, 20 de junho de 2025

Bolsonaro usa ditadura de 1964 como argumento para negar ao STF o golpe de 2022

Em interrogatório a Alexandre de Moraes, ex-presidente afirma que não havia clima para golpe e resgata retórica de apoio à ruptura militar de 1964

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 20 de junho de 2025

dit

Foto: Reprodução

Durante depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, no inquérito que investiga a tentativa de golpe após as eleições de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) utilizou a ditadura militar de 1964 como argumento para negar ter liderado qualquer articulação golpista. A informação foi revelada em reportagem publicada pela Folha de S.Paulo. Bolsonaro afirmou que, diferentemente do que ocorreu naquele período, não havia apoio suficiente da sociedade para sustentar uma ruptura institucional em 2022.

“A questão de 64 que a esquerda chama de golpe até hoje”, declarou Bolsonaro, destacando que, à época, “setores da sociedade” apoiaram o movimento militar. Com isso, buscou traçar um paralelo entre os contextos históricos para argumentar que não existiriam as condições políticas e sociais necessárias para uma ação semelhante em seu governo. O ex-presidente também voltou a relativizar os crimes da ditadura, retomando posicionamentos que já havia defendido ao longo de seus 27 anos como deputado federal.

Entre as propostas legislativas apresentadas por Bolsonaro está o projeto de lei 8.246/2014, que previa a criação de uma comissão alternativa à Comissão Nacional da Verdade (CNV) — concluída no governo Dilma Rousseff — para investigar os “excessos da esquerda armada” e recontar a história da ditadura a partir da perspectiva dos militares. Segundo a historiadora Caroline Silveira Bauer, da UFRGS, essa iniciativa se insere em uma estratégia negacionista: “Bolsonaro não aceitou que a esquerda já foi julgada e condenada. Por isso, ele pede uma outra comissão.”

Ainda em 2004, Bolsonaro apresentou requerimento pedindo uma sessão solene na Câmara em homenagem aos militares mortos na Guerrilha do Araguaia. Durante o evento, realizado em 2005, ele exaltou os torturadores do regime e atacou o então presidente do PT, José Genoino, e o governo Lula, conforme registrou à época a própria Folha de S.Paulo. A CNV, por sua vez, apontou que 434 pessoas foram mortas ou desapareceram durante a ditadura, além de milhares de casos de tortura.

No processo que apura a tentativa de golpe de Estado, Bolsonaro é investigado pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, associação criminosa armada, dano ao patrimônio público e tentativa de subversão da ordem constitucional. Se condenado, o ex-presidente pode pegar mais de 40 anos de prisão e ampliar a sua inelegibilidade, atualmente válida até 2030.

Para Bauer, o discurso de Bolsonaro revela ressentimento com o lugar que os militares passaram a ocupar na narrativa histórica recente. “O negacionismo se relaciona com essa ideia de não aceitação da realidade. Ele tenta reverter esse julgamento histórico”, avalia a professora.

Fonte: Brasil 247

Nossas Redes Sociais !
Siga, Curta & Compartilhe 👁️‍🗨️

Galeria de Imagens