Anadia/AL

28 de julho de 2025

Anadia/AL, 28 de julho de 2025

“Canibal de Garanhuns” virou pastor na prisão e diz que se sair volta a matar

Líder dos "Canibais de Garanhuns" reaparece em vídeo pregando dentro de presídio. Cego e esquizofrênico, ele afirma estar convertido e recusa liberdade por medo de matar novamente — ou ser morto - 15h45min.

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 28 de julho de 2025

B.1

“Canibal de Garanhuns” virou pastor na prisão e diz que se sair volta a matar. Jorge Beltrão, o "canibal de Garanhuns" quando foi preso e hoje, pastor. Créditos: Reprodução

🔰 Por Zé Barbosa Junior

O nome Jorge Beltrão Negromonte ficou gravado no imaginário nacional como símbolo de um dos crimes mais brutais da história recente do Brasil. Condenado a mais de 70 anos de prisão por participar de uma série de assassinatos com requintes de crueldade e canibalismo, o homem que chocou o país ao vender empadas recheadas com carne humana em Garanhuns (PE) agora reaparece em vídeo como pastor evangélico, pregando dentro da penitenciária onde cumpre pena.

O vídeo, gravado na desativada Penitenciária Professor Barreto Campelo, em Itamaracá (PE), viralizou nas redes sociais ao mostrar Jorge de camisa social e gravata, com um violão às costas, sendo apresentado por religiosos como “um exemplo de transformação”. Ao microfone improvisado, ele cita versículos bíblicos, fala de sua conversão e relembra o momento em que, ainda em 2012, um missionário lhe disse que “Deus tinha um plano para ele”.

“Quem está em Cristo, nova criatura é. As coisas velhas se passaram, tudo se fez novo”, repete Jorge, citando 2 Coríntios 5:17. O diácono Rodrigo Gracino, que aparece no vídeo, não esconde o passado do agora autoproclamado pastor: “Outrora, ele era conhecido como um dos canibais de Garanhuns”, diz. “Mas hoje é uma bênção”.


O que para muitos soa como deboche, segundo o advogado de Jorge, é uma mudança genuína. “Não é encenação”, garante Giovanni Martinovich. “Ele está verdadeiramente convertido. Vive exclusivamente para a fé dentro do presídio. Já prega há mais de dois anos e tem apoio do setor evangélico interno.”

Mas Jorge não quer liberdade. Segundo o defensor, ele recusa qualquer proposta de progressão de pena, mesmo tendo direito legal. “Ele me disse com todas as letras: ‘Se eu sair, volto a matar’”, relata Martinovich ao portal UOL. O temor, segundo o próprio Jorge, é duplo: teme tanto uma recaída motivada por esquizofrenia — condição médica diagnosticada por perícia — quanto ser morto por vingança ao retomar a vida fora das grades. “Ele acredita que vai escutar as vozes de novo. Disse que, se descobrirem quem ele é, vão matá-lo.”

Uma conversão questionada

Para quem acompanha o sistema prisional, a presença de religiões evangélicas nas penitenciárias é uma realidade cada vez mais forte. A defesa de Jorge sustenta que sua conversão reflete esse cenário. “A ressocialização oficial não funciona. A religião virou o único caminho para muitos presos”, afirma o advogado. “Lá dentro, você tem duas opções: o bem e o mal. Ele escolheu o bem.”

A Secretaria de Administração Penitenciária de Pernambuco confirmou que a assistência religiosa é oferecida em todas as unidades do estado, com apoio espiritual e emocional a quem deseja participar. Ainda segundo a pasta, são representantes de diversas denominações que atuam, respeitando a liberdade de crença dos detentos.

O vídeo de Jorge circula com ceticismo nas redes, especialmente por envolver uma figura cuja biografia é marcada por crimes tão abjetos que ganharam repercussão internacional. “Recebo esse vídeo umas 30, 40 vezes”, diz Martinovich. “As pessoas acham que é piada. Mas lá dentro, ele virou pastor. É o que segura a sanidade dele hoje.”

🔰 Relembre o caso

O horror veio à tona em abril de 2012, quando Jorge, sua companheira Isabel Cristina Pires da Silveira e Bruna Cristina Oliveira da Silva foram presos e denunciados por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. A primeira vítima conhecida foi Jéssica Camila da Silva Pereira, de apenas 17 anos. Partes de seu corpo foram encontradas enterradas no quintal da casa da família. Segundo as investigações, a carne da jovem foi usada como recheio de empadas vendidas à população.

A revelação deu origem ao nome “Canibais de Garanhuns”. O caso chamou atenção pela suspeita de motivações ritualísticas e por relatos dos acusados sobre uma seita que pregava a “purificação” por meio do sacrifício humano. Em 2014, o trio foi condenado pelas mortes de Jéssica e, em 2018, pelas mortes de Gisele Helena da Silva, 31, e Alexandra Falcão da Silva, 20.

A pena de Jorge foi ampliada em 2019 para 71 anos e 10 meses. Isabel e Bruna receberam penas de mais de 68 anos cada. Hoje, Jorge está preso na Penitenciária Policial Penal Leonardo Lago, no Complexo do Curado, zona oeste do Recife.

Cego, diagnosticado com esquizofrenia e convencido de que sua vida fora do presídio não teria futuro, Jorge agora se apresenta como pastor. “Muitos não sabem quem é Jorge Beltrão agora”, diz ele ao final do vídeo, como quem tenta se separar da figura que marcou as páginas policiais do Brasil há mais de uma década.

Mesmo sem pedir redução de pena ou tentar reconquistar a liberdade, Jorge volta a gerar debate: é possível crer na mudança de alguém que praticou o impensável? Pode a fé transformar o que a sociedade já considerou irrecuperável?

Enquanto parte da opinião pública reage com incredulidade ou revolta, ele segue pregando entre as grades, acreditando que o cárcere, paradoxalmente, é hoje o único lugar onde se sente livre — da violência, das vozes e de si mesmo.

🔰 Redação C/ Revista Fórum

👍Mantenha-se Informado !
👍 Siga Nossas Redes Sociais !
👍Curta & Compartilhe 👁️‍🗨️

Galeria de Imagens

plugins premium WordPress