◼️ Por Dafne Ashton
Em entrevista concedida à TV 247, o cartunista Carlos Latuff traçou um duro diagnóstico sobre a atual tragédia humanitária em Gaza, classificando-a como um “novo holocausto”, desta vez cometido contra o povo palestino. A entrevista conduzida pelo jornalista Leonardo Attuch abordou o genocídio em curso, a omissão da comunidade internacional e o papel dos Estados Unidos na perpetuação do massacre, além da ofensiva geopolítica do presidente norte-americano Donald Trump contra o governo brasileiro.
Latuff iniciou sua análise fazendo paralelos históricos entre o apoio popular dado a regimes genocidas no passado e a atual maioria da população israelense que, segundo ele, endossa os ataques à Faixa de Gaza. “A maioria da população apoia o extermínio dos palestinos. Claro que há vozes dissonantes, mas são minoria, como também foi na Alemanha nazista”, afirmou.
O cartunista criticou fortemente a instrumentalização do holocausto por parte de Israel para justificar crimes contemporâneos. “Estamos diante do novo holocausto, só que dessa vez palestino. E como aconteceu no passado, deixaram rolar, apoiaram, deixaram acontecer”, disse.
Latuff também destacou que a gravidade dos crimes cometidos por Israel já é reconhecida por organizações internacionais de direitos humanos e até por setores da imprensa. “Você está falando da Anistia Internacional, da Human Rights Watch, das Nações Unidas, do Papa, todos dizendo que é genocídio. Não é mais o Latuff que está dizendo.”
O entrevistado não poupou críticas à cumplicidade de diversas nações, em especial dos Estados Unidos e da União Europeia. “A política americana é integralmente pró-Israel. Se Israel jogasse hoje uma bomba atômica em Gaza, os Estados Unidos apoiariam tranquilamente, e ainda justificariam.”
Latuff também denunciou o papel dos países árabes na manutenção do cerco à Gaza, especialmente o Egito e a Jordânia, que, segundo ele, colaboram ao manter as fronteiras fechadas ou controladas, impedindo a chegada de ajuda humanitária. “Os países árabes também são cúmplices desse genocídio, especialmente os do Golfo.”
Apoio ao governo Lula e saída do IHRA
O cartunista elogiou a postura do governo brasileiro ao se juntar à África do Sul no processo contra Israel por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça. “Parabéns ao governo brasileiro. É o Estado brasileiro que toma uma medida concreta contra o genocídio”, afirmou.
Ele também endossou a decisão do Brasil de se retirar da IHRA (Aliança Internacional para a Memória do Holocausto), criticando as definições de antissemitismo adotadas pelo organismo, que segundo ele foram “instrumentalizadas por Israel e pelos sionistas para blindar o Estado de críticas”.
Latuff alertou que, segundo essas definições, “comparar o que acontece em Gaza com o holocausto nazista é considerado antissemitismo”, o que ele vê como uma tentativa de silenciar denúncias de crimes cometidos por Israel. “Até sobreviventes do holocausto em Israel são acusados de antissemitas por se posicionarem contra o genocídio”, contou, citando editorial do jornal Haaretz.
Alerta sobre a ofensiva do imperialismo e do trumpismo
Ao comentar a atual política externa dos Estados Unidos sob o segundo mandato do presidente Donald Trump, Latuff foi categórico ao afirmar que o Brasil está “sob ataque” do imperialismo norte-americano. Ele associou o recrudescimento das tarifas comerciais à aproximação do Brasil com os BRICS, sobretudo com a China e a Rússia, além de denunciar uma ofensiva contra a soberania nacional.
“Trump não quer conversa. O Brasil está sendo punido por defender seus próprios interesses e não os dos Estados Unidos”, declarou. Ele também alertou para a atuação de parlamentares e setores da imprensa nacional como “quinta coluna” em apoio a interesses estrangeiros. “Patriota não é quem vai para a porta de quartel com a camisa da seleção. Patriota somos nós, que defendemos o Brasil contra a intervenção dos Estados Unidos.”
A ameaça da desestabilização e o papel das Forças Armadas
Latuff manifestou preocupação com a possibilidade de novas investidas contra o governo Lula, inclusive no plano institucional. Segundo ele, ainda há segmentos das Forças Armadas que mantêm o pensamento golpista e seguem alinhados aos interesses dos Estados Unidos. “As prisões não significam que as Forças Armadas foram depuradas. Eles estão esperando o momento certo.”
◼️ Redação C/ Brasil 247