Em baixa nesta temporada, Dudu, atacante do Palmeiras, foi vítima de um golpe financeiro por Thiago Soubhia Donda , ex-assessor, amigo e padrinho de casamento do jogador. Nesta segunda-feira, a Polícia cumpriu dois mandados de prisão, contra Donda e Joelson Aguilar dos Santos, ex-gerente da agência do Bradesco em São Paulo. A polícia aponta que eles participaram do golpe – conforme revelado pelo Estadãoem fevereiro passado. O empresário, no entanto, continua foragido. O atleta foi lesado em mais de R$ 22 milhões.
O Estadão entrou em contato com a defesa de Donda, que informou que irá se posicionar “após tomar ciência da questão” e os motivos que fundamentaram o mandado de prisão contra o cliente. O advogado de Joelson Aguilar dos Santos não respondeu, bem como o Bradesco, onde trabalhava Joelson, até a publicação desta reportagem.
A assessoria de imprensa de Dudu informou que o caso está sendo conduzido por sua equipe jurídica, liderada pelos advogados Adriana Cury e Cid Vieira. “Os advogados acreditam que as ordens de prisão de Thiago Donda, ex-assessor pessoal do jogador, e Joelson Aguilar dos Santos, ex-gerente do Banco Bradesco e responsável pelas contas bancárias do atleta, na época dos acontecimentos, são reflexo direto do que o inquérito policial apurou até o momento”, diz a nota enviada à reportagem.
Os mandados de prisão preventiva de cinco dias foram emitidos pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) no último dia 21 de agosto e cumpridos nesta segunda-feira, 9. O mandado de prisão, ao qual a reportagem teve acesso, lista sete possíveis endereços em que o padrinho de Dudu poderia ser encontrado – seis destes na cidade de São Paulo e um em Campinas.
O caso veio à tona em fevereiro. No ano passado, a defesa de Dudu solicitou a instauração de inquérito no 15º Distrito Policial de São Paulo, que começou, então, a investigar as partes denunciadas. No centro da denúncia está Thiago Donda, amigo por anos de Dudu e uma das pessoas em quem o jogador mais confiava. Após a ação, o atleta cortou relação com o seu ex-assessor e desfez a amizade de mais de uma década.
A denúncia aponta que Thiago usou fichas bancárias com assinatura falsas de Dudu para desviar mensalmente dinheiro de uma conta no banco Bradesco em que o atacante recebia do Palmeiras os direitos de imagem, que, por lei, podem corresponder a até 40% do salário total de um jogador de futebol.
Além disso, Thiago atuou com a ajuda do gerente de uma agência do Bradesco em que Dudu mantinha conta e de um funcionário do 19º Cartório de Registro Civil de São Paulo, no bairro de Perdizes.
O gerente do banco, preso preventivamente nesta segunda-feira, foi demitido em dezembro de 2022. Já o funcionário do cartório não foi atuado neste primeiro momento; como o inquérito não foi fechado, ele ainda poder ser incluído, caso a Justiça entenda dessa forma.
Dudu suspeita que Thiago desviava dinheiro de uma de suas contas desde 2015, ano em que o atleta se transferiu do Grêmio ao Palmeiras e contratou os serviços do assessor para lhe ajudar nas tarefas do dia a dia. Segundo a acusação, Thiago foi ganhando a lealdade e confiança do jogador e passou a ter acesso às finanças do atacante e a movimentar as contas bancárias do atleta sem ele saber.
Fraudes constatadas pelos advogados de Dudu
- Transferências e pagamentos de valores para conta de terceiros utilizando fichas internas com assinatura falsas;
- Compensações de cheques com assinaturas falsas;
- Débitos nas contas bancárias de produtos ofertados pela entidade bancária sem contratação e conhecimento das vítimas;
- Operações de empréstimos mediante oferta de produtos;
- Venda Títulos de Capitalização sem autorização das vítimas;
- Transferências de valores para conta de terceiros com autorizações preenchidas pelo gerente sem anuência do correntista;
- Falsificações de assinatura;
- Baixas de aplicações financeiras e resgates de ativos financeiros sem conhecimento das vítimas;
- Utilização de PIX e TED não autorizadas.
Inicialmente, acreditava-se que o prejuízo era próximo à casa de R$ 18 milhões. Após nova análise, averiguou-se que o valor é de cerca de R$ 22 milhões. A defesa de Dudu pediu, no inquérito, que a Polícia investigasse os crimes Estelionato, falsidade ideológica, associação criminosa, abuso de confiança, entre outros.
Assessor, padrinho de casamento e homem de confiança
Os dois se tornaram próximos em 2010, quando Dudu jogava no Cruzeiro. Thiago frequentava a casa do atacante e convivia com os seus amigos e familiares. Inclusive, ia com frequência acompanhar o jogador na Academia de Futebol. Os advogados de Dudu consideram que o homem de confiança do atleta, uma espécie de seu braço direito, percebeu que ganhou a lealdade do jogador e viu nisso uma chance de aumentar seu patrimônio.
Em 2017, Dudu solicitou ao seu empresário, André Cury, que destinasse a Thiago parte do percentual de sua remuneração ajustada no seu contrato. Em 2018, Thiago passou chamar atenção de outros atletas e abriu outra empresa de assessoria esportiva. Ele já era dono da BWF assessoria e agenciamento.
Em 2021, inaugurou a Nido Clínica de Estética Avançada e Medicina Esportiva, no bairro de Perdizes, em São Paulo. A defesa do jogador acredita que ele abriu esse empreendimento com os valores desviados das contas do atacante sem a sua anuência. Os dois eram tão próximos que Thiago foi padrinho de casamento do camisa 7 e estava presente na assinatura do último contrato de renovação de Dudu com o Palmeiras, no fim de 2022.
No pedido de abertura de inquérito, a acusação afirma que Thiago “optou pelo pior caminho, o da traição; da desonestidade; da quebra de confiança”. Em agosto de 2023, quando descobriu parte dos golpes de que estava sendo vítima, Dudu foi confrontar o seu assessor em troca de mensagens pelo WhatsApp.
Dias depois dessa conversa, Dudu recebeu os extratos bancários que comprovaram consecutivas transferências bancárias que favoreciam Thiago e sua empresa, a BWF, e passou a ter conhecimento da dimensão do desfalque milionário que havia sofrido. Depois disso, os dois romperam relações e a amizade terminou.
Estadão