Por Chico Alves
Em 24 horas, Pamela Silva viveu emoções muito contrastantes, causadas pelo Poder Judiciário brasileiro. Na quinta-feira (13) ela se disse aliviada quando o Tribunal do Júri de Curitiba condenou a 20 anos de prisão em regime fechado o ex-policial penal Jorge Guaranho, que, em 2022, assassinou seu marido, Marcelo Arruda, em plena festa de aniversário. Bolsonarista, Guaranho se mostrou indignado com o tema da comemoração de Arruda — o PT e Lula –, invadiu a festa com xingamentos e disparou vários tiros. Nesta sexta-feira (14), porém, um desembargador paranaense passou por cima da sentença dos jurados e concedeu liminar para que o assassino cumpra prisão domiciliar.
“Isso é inacreditável, é lamentável”, desabafou Pâmela ao ICL Notícias.
A alegação do desembargador Gamaliel Seme Scaff, do Tribunal de Justiça do Paraná, foi o estado de saúde de Guaranho — depois de balear Arruda, ele também foi alvejado. “Entendo que não se pode desprezar a precária condição da saúde do paciente”, escreveu, ressaltando que o assassino passa por “tratamento médico especializado em decorrência de ter sido alvo de nove disparos de arma de fogo e severos espancamentos por mais de cinco minutos”.
Pamela não concorda que o homem que matou seu marido por motivo político tenha a prisão abrandada. E destaca que o estado tem instalaçoes próprias para receber presos com problemas de saúde.
“Aqui no Paraná temos o complexo médico-penitenciário, que é o hospital de presos. Depois da sentença o assassino já foi encaminhado para lá, onde eles têm enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, médicos… e se não tiver a especialidade ali, a direção do complexo encaminha para clínica especializada e o preso depois retorna para a unidade prisional, assim como todo cidadão que é preso em condições de saúde delicada”, relata Pâmela.
A viúva lembra também que durante os dois dias e meio do julgamento, Guaranho acompanhou tudo normalmente. “Não teve nenhuma intercorrência médica”, diz ela. “Acompanhou o processo em seu computador, normalmente”.
Pamela recebeu a notícia na tarde desta sexta-feira, no meio da viagem que fazia de Curitiba para Foz do Iguaçu. “Fiquei incrédula, não acreditei que seria possível a Justiça ter um comportamento desses. Fiquei envergonhada”.
“Imagina o aparato, a mobilização, o gasto de dinheiro público que o Estado teve para colocar uma vara do júri inteira para, em tese, fazer justiça. Aí vem uma decisão que desconsidera a decisão dos jurados, da população com uma canetada. Aí um cara que foi condenado a 20 anos de uma hora para outra vai para casa, ficar no ar condicionado. Isso quer dizer que tudo está valendo a pena hoje em dia, inclusive matar”.
Até à noite de sexta-feira, a viúva de Marcelo Arruda não tinha falado ainda com os advogados para decidir que atitude tomar, mas diz que se tecnicamente for possível recorrer da liminar ela o fará. “Vou até à última instância”, garante.
“É triste a gente conseguir uma decisão judicial pela qual lutamos tanto e 24 horas depois vermos tudo se reverter”, lamenta a viúva.

Petista foi assassinado na própria festa de aniversário
Guaranho foi condenado pelo Tribunal do Júri de Curitiba pelo crime de homicídio duplamente qualificado, praticado em 2022, quando ele invadiu a festa de aniversário do petista Marcelo, em um clube em Foz do Iguaçu (PR).
Uma das qualificadoras é o motivo fútil, em referência à divergência política. Apoiador do então presidente Jair Bolsonaro, Guaranho foi até o local quando soube que havia uma festa com símbolos petistas na decoração e fotos do presidente Lula (então candidato). Guaranho não conhecia Marcelo, que era tesoureiro do PT em Foz e comemorava seus 50 anos de idade na ocasião.
Marcelo foi atingido por dois tiros disparados por Guaranho e não resistiu aos ferimentos, morrendo na madrugada do dia 10 de julho daquele ano.
Na noite do crime, mesmo alvejado por Guaranho, Marcelo ainda conseguiu disparar contra o policial penal, que, caído no chão, também levou chutes de outras três pessoas que estavam na festa e acompanharam toda a ação.
Hoje com projéteis ainda alojados no corpo, ele utiliza muletas para andar e toma remédios rotineiramente para dores.
Redação com ICL Notícias