Por Emanuelle Vanderlei
Disputar uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas (ALE) ou uma das nove vagas destinadas a Alagoas na Câmara federal, é um desafio em muitos aspectos. Um espaço com tão poucas vagas para tantos interessados, requer uma combinação de fatores para chegar à vitória nas urnas em 2026. De acordo com os especialistas, um dos aspectos mais determinantes é o econômico. É quase um consenso a ideia de que é preciso muito dinheiro para se considerar minimamente competitivo no processo eleitoral. Mas de quanto estamos falando? Qual o orçamento desta empreitada?
No final de setembro deste ano, foi anunciado no Congresso Nacional o valor que será destinado ao Fundo Especial de Financiamento de Campanha, o famoso “Fundo Eleitoral”. O valor ficou em R$ 4,9 bilhões (os mesmos R$ 4,9 bilhões que foram destinados a esta finalidade em 2022), sendo que R$ 3,9 bilhões virão das emendas de bancada, e R$ 1 bilhão de recursos que serão cortados de despesas não obrigatórias.
E, para o próximo ano, quem quiser disputar o mandato com chances de se eleger, será preciso desembolsar uma boa grana na campanha eleitoral. Para o estrategista eleitoral Eugênio Albuquerque, consultado pela Tribuna Independente, as cifras são altas.
Na eleição de deputado estadual, em um partido onde se ganha com menos votos, a perspectiva é de R$10 milhões, e o candidato já está na disputa para estadual num partido de pouco voto. Nos considerados ‘chapões’ [chapas que reúnem partidos grandes e de peso], R$ 15 milhões”, comenta o estrategista.
Para Eugênio Albuquerque, a disputa de deputado federal envolve recursos financeiros, claro, mas também conta com o chamado “voto de opinião”. Ou seja, o candidato precisa estar pronto para gastar alto na campanha para chegar ao Congresso Nacional. “[Ser candidato a deputado] federal hoje, se não tiver contando com voto solto, que é aquele voto de opinião, tem que ter no mínimo R$ 20 milhões”, crava.
DINHEIRO E LIDERANÇAS
No entanto, Eugênio Albuquerque afirma que existe toda uma realidade acontecendo às margens da Justiça Eleitoral. “Tem o legal, e tem o real. O legal, se você me perguntar quanto é um deputado estadual, só pode ser o que a Justiça Eleitoral permite, que é o que é declarado, e o máximo é aquele. O máximo de uma campanha de deputado federal é aquela que o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] permite, que é aquilo que é declarado, mas a gente sabe que não é”.
Segundo o estrategista, a maior parte da disputa é feita através da “compra do apoio de lideranças”. “Nós temos 27 vagas de deputados estaduais. Dos 27, só em dois foram preponderantes a rede social, a campanha, o discurso e a narrativa. Foi muito mais preponderante do que liderança, do que dinheiro gasto. Dos 27 eleitos, só dois. Um pelo bolsonarismo [deputado Cabo Bebeto, PL], outro pela causa animal [deputado Leonam Pinheiro, União Brasil]”.
Eugênio afirma que o dinheiro não é garantia de sucesso, mas sem o recurso é difícil se considerar viável na disputa eleitoral. “Não existe uma fórmula de dizer ‘esse valor se elege’. Você tem que ter um valor que é considerado para estar na disputa. Não é que vai lhe eleger. Tem gente que vai gastar o mesmo ‘x’ que o outro e vai perder. Tem gente que vai gastar mais que o outro e o outro vai ganhar e o outro vai perder. Mas em sua grande maioria dos eleitos, tanto para deputado estadual como deputado federal, precisa de um certo valor para estar na disputa. Agora, lógico, que tem algumas poucas exceções”.
VALE O INVESTIMENTO?
Observando as informações disponibilizadas no site da Justiça Eleitoral, a Tribuna Independente fez um levantamento dos valores arrecadados pelos que foram eleitos em 2022, nas eleições gerais. Para a Assembleia Legislativa, o valor mínimo foi de R$ 106 mil, arrecadados pelo deputado Silvio Camelo (PV). Em contrapartida, o maior valor foi o da deputada Rose Davino (PP), que declarou R$ 1.273.145,14. Mas, a média dos 27 ficou em R$ 381.139,43.
Ainda pelos dados oficiais, comparamos os valores arrecadados pelos deputados federais eleitos no mesmo ano. Luciano Amaral (PSD), fez uma campanha com apenas R$ 341.524,02, enquanto Isnaldo Bulhões (MDB) teve um orçamento de R$ 3.238.300,00. Considerando os nove eleitos, a média de recursos declarados entre os federais foi de R$ 2.010.984,35.
Conquista dos votos depende da “confiança” nos prefeitos, vereadores e lideranças
Outro fator importante no processo de conquista de votos nas eleições proporcionais – deputado estadual e federal -, destaca o estrategista político Eugênio Albuquerque, é o chamado “sistema real” que acontece na campanha quando há necessidade de distribuir os recursos públicos para financiar os projetos políticos.
“[O candidato] dá o dinheiro para o prefeito, naturalmente o prefeito tem o grupo político dele no município, que são as lideranças, e é preciso dar uma parte e outra parte vai para o eleitor. Ou, deveria ir para o eleitor”. É o prefeito tem o comando dos votos. Ele consegue dar os votos sem precisar passar esse dinheiro por eleitor, pela quantidade de cargos que ele tem na prefeitura, por várias estruturas que ele tem na prefeitura. Naturalmente, uma parte desse dinheiro ele pode ficar ou até todo, o importante é que ele cumpra e dê os votos. Ele [o candidato] não tem como ter esse controle da reta final, se o dinheiro está indo para o povo ou não. Ele tem que confiar na liderança”, avalia o estrategista em contato com a reportagem da Tribuna Independente.
Existe, segundo Eugênio, até estudo de confiabilidade dos nomes.
“Naturalmente, você faz um levantamento histórico. Um exemplo, prefeito de Traipu. que teve como candidato a deputado estadual Breno [Albuquerque, MDB]. Aí você vai olhar lá, não tem ligação nenhuma com a cidade. Depois você pesquisa e o Luciano Amaral [deputado federal, PSD] deu uma porrada de voto. Ou seja, tanto Marcelo Vitor [deputado e presidente da Assembleia Legislativa] como Luciano Amaral já têm um estudo que em outras eleições, ele [o prefeito] já vem dando voto. O candidato já faz a conta contando com aqueles votos. Naturalmente, quem é mais precavido coloca um desconto lá na tabela de um erro de 30%. Aí se eu preciso de 100.000 votos e na minha tabela de liderança tá dando 130, quer dizer, dando errado eu ainda me elejo. É assim que funciona”, contextualiza.
“FIM DO CADASTRO?”
Para Eugênio Albuquerque, a realidade das campanhas atuais, não tem apontado mais para a existência do “cadastro de eleitores”, justamente porque os candidatos confiam em seus aliados – prefeitos, vereadores e lideranças -, que não podem ser esquecidas neste processo.
“Hoje em dia eu acho muito difícil pelo seguinte, antigamente vinha uma história de cadastro, o candidato pegava o número de título. Hoje em dia praticamente isso acabou. Eu tenho um prefeito, que tem um vereador, que o vereador tem uma liderança. O vereador tem 20, 30 ou 40 famílias, e ele sabe de cabeça quem são as famílias. E o prefeito tem 30, além dos suplentes, quem foi candidato a vereador. Ele vai passar para essas lideranças, essas lideranças vão passar para essa família, e não precisa anotar nada, botar em canto nenhum. É meio que uma cadeia que vai do político maior para o político menor, para liderança, para liderança chegar em família, por vezes utiliza funcionários públicos, professores, agentes de saúde. Então, como é que a polícia vai ter mão para pegar em flagrante, se já não existe mais, praticamente, provas, não existe mais cadastro? O cadastro está na mente das pessoas”, analisa.
Eleição é negócio e cenário político é de pouca mudança
Para cientista política, candidatos investem muito alto para se manter nos mandatos, concentrar influência e ambição de poder
As eleições nunca deixaram de ser um negócio caro, lucrativo, que envolve poder, dinheiro, e uma busca quase que incessante em se manter no mandato, principalmente no Poder Legislativo. Para chegar e se manter no cargo de deputado estadual ou federal, é preciso investimentos e quanto mais recursos financeiros, mais chances de ser eleito.
Em contato com a reportagem da Tribuna Independente, a cientista política e professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Luciana Santana destaca que os valores investidos pelos candidatos nas campanhas eleitorais representam o desafio que é alcançar a população.
“Eleição, de alguma maneira, ela é um negócio. Então você precisa ter recursos para conseguir sair na frente. Quanto mais recursos, mais chances você tem de ganhar uma eleição. Então, o candidato precisa ter mais estrutura, ter mais ferramentas à sua disposição para poder acessar o eleitorado, conquistar eleitor, bancadas etc. e tal. Então, isso tudo demanda dinheiro, é muito caro você chegar à quantidade de eleitores necessários ali e convencê-los de que você é uma opção viável”, avalia.

Luciana Santana explica que a busca pela renovação dos mandatos é um caminho previsto na ciência política.
“Tem várias teorias na ciência política que mostram claramente que todo político tem a ambição de estar no poder. E quando ele chega no poder, ele tem a pretensão de se manter de alguma maneira no poder. Então é isso que acontece, é uma ambição de ocupar espaço de poder. Então, por isso que existe essa importância de quem está no mandato buscar essa renovação”, reforça.
Na avaliação de Luciana Santana, a possibilidade de renovação nas eleições de 2026 não são muito altas.
“Eu não sou muito otimista nesse sentido. Até acho que a gente pode ter uma mudança no perfil ali de algumas bancadas, mas não uma renovação tão alta a ponto de a gente dizer que vai alterar substancialmente o que a gente tem. A gente teria que ter uma mudança de mentalidade do eleitor, e eu não consigo perceber”, destaca.
Para romper com essa probabilidade, e ocupar pela primeira vez as vagas, Luciana Santana afirma que os candidatos precisam contar com muito apoio.
“Primeiro é preciso ter uma estrutura partidária que lhe dê sustentação. Isso tudo é que vai garantir que ele tenha acesso a recursos, que ele seja conhecido ou conhecida. Que eles possam de alguma maneira se apresentar para a sociedade e garantindo aí que eles possam ser a opção. Então é muito mais difícil quem está fora entrar, mas não significa que eles não possam entrar, desde que eles consigam efetivamente criar esses vínculos com a sociedade e ter estrutura, ter esses espaços é extremamente necessário”, finaliza a cientista política.
ABN C/ Tribuna Hoje


















