Por: Beatriz Araujo
Marcelo de Carvalho, um dos sócios da RedeTV!, está sendo processado por racismo após escrever, em publicação nas redes sociais, que um conhecido foi assaltado em Barcelona por “obviamente um sujeito de aparência africana”. A ação civil pública, que o Terra teve acesso, está sendo movida pela Educafro, que pede R$ 6 milhões de indenização por danos morais coletivos e custeio de bolsas voltadas a pessoas negras.
Marcelo é empresário, sócio-fundador, acionista e apresentador da RedeTV!. Para a Educafro, entidade sem fins lucrativos que luta pelo direito à educação de qualidade para pessoas negras, Marcelo fez um “nefasto comentário de teor claramente discriminatório em desfavor da população afro-brasileira mundial, atribuindo um suposto crime à migração de africanos ao continente europeu”.
A publicação em questão foi feita no X, antigo Twitter, na segunda-feira passada, dia 14 de julho, e foi apagada. No dia seguinte, após a repercussão de sua fala, Marcelo fez outro post sobre o assunto – se pautando no que chamou de “verdade incontestável sobre a crise migratória na Europa” e afirmando que sua declaração foi uma contastação dos fatos, e não uma discriminação.“Quando se diz que uma pessoa foi assaltada e que, infelizmente, mais uma vez o autor era um migrante africano, isso não é discriminação racial ou étnica. É simplesmente a descrição objetiva de um fato, sustentada por dados, ocorrências policiais e testemunhos. Negar essa realidade por medo do politicamente correto não protege os cidadãos nem os migrantes honestos que tentam se integrar. Ao contrário: silencia as vítimas, impede a ação do Estado, e fortalece o discurso dos radicais”, disse o empresário, pontuando que não escreveria mais sobre isso.
Para a Educafro, sua explicação “serviu para piorar a mensagem passada”, reproduzindo “sua posição discriminatória quanto a pessoas de ascendência africana”.
“Atribuir, de forma generalizada, o aumento de crimes como roubo, estupro e violência urbana na Europa à imigração de pessoas africanas configura uma manifestação inequívoca de racismo, discriminação e xenofobia”, diz a instituição, que considera que as consequências sociais, jurídicas e morais da situação são ainda mais graves por se tratar da “disseminação e naturalização do discurso de ódio” promovida por uma pessoa pública.
O que a Educafro pede à Justiça
Na Ação Civil Pública, a Educafro pede que a Justiça de São Paulo considere as seguinte condenação ao apresentador:
- Pagamento de indenização de R$ 5 milhões, a ser revertida para a implementação de projetos sociais voltados à coletividade afro-brasileira;
- Publicação de uma uma retratação pública nas redes sociais;
- Participação em um curso de educação antirracista, de igualdade racial e direitos humanos;
- Divulgação de campanhas antirracistas em suas redes sociais;
- Custeio de bolsas de estudos para pessoas afro-brasileiras em cursos de graduação, pós graduação e/ou cursos técnicos na área de tecnologia e inovação, no valor de R$ 1 milhão.
A Educafro deu entrada na ação contra o apresentador na última quinta-feira, 17. Até as últimas atualizações disponíveis nesta segunda-feira, 21, a Justiça de São Paulo aguarda o parecer do Ministério Público, que já foi notificado. O processo segue.
Quando Marcelo fez o post, a RedeTV! informou que posts feitos em perfis pessoais não representam o posicionamento dela.
O Terra buscou pelos posicionamentos de Marcelo e da RedeTV! em torno do caso, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto e será atualizado em caso de manifestação.
‘Não permitir que situações de racismo fiquem impunes’
“A sociedade brasileira está crescendo muito depois que a comunidade negra decidiu não permitir que situações de racismo fiquem impunes”, pontuou o frei David Santos, fundador da Educafro, em entrevista ao Terra.
O frei explicou que a instituição tem usado o mecanismo da ação civil pública para denunciar casos do tipo, que causam danos coletivos à comunidade afrobrasileira. E que, por isso, a indenização também deve considerar os danos coletivos.
“A ação individual é uma coisa, quando só uma pessoa é ferida pelo mal praticado pelo racismo. Mas no caso dele [de Marcelo], a fala foi publicizada intensamente, ferindo toda comunidade negra brasileira”, disse David Santos.
Conforme afirmou à reportagem, até esta segunda-feira, o apresentador ainda não tentou contato com a Educafro. Mas ele espera que ele “tenha capacidade” de procurar pela instituição em busca de uma conciliação – onde as partes entrariam em um acordo com relação ao que pode ser feito, sem a necessidade de uma decisão judicial.
Redação com Terra
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