Anadia/AL

28 de outubro de 2024

Anadia/AL, 28 de outubro de 2024

Educação Midiática pode ser caminho para crianças e adolescentes não caírem em fake news

Como aprimorar a relação de crianças e adolescentes com informação em tempos de infodemia e excesso de mídias digitais? | 18:30 hs

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 13 de julho de 2024

Lunetas

Por: Carolina Scherer Beidacki

Vamos começar do começo, o que é educação midiática, afinal? É o “conjunto de habilidades para acessar, analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático em todos os seus formatos — dos impressos aos digitais” (referência). Em um contexto onde as redes sociais, como o TikTok, têm sido cada vez mais utilizadas por crianças e adolescentes e os perfis em aplicativos de mensagens instantâneas, como o WhatsApp, também têm aumentado nos últimos anos, a educação midiática se mostra essencial. E não é apenas a ampliação do acesso a estas redes e plataformas que aponta a urgência de uma melhor educação midiática, mas a forma como a população interage com os conteúdos delas também.

O relatório “Leitores do século 21: Desenvolvendo habilidades de alfabetização em um mundo digital”, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), realizado entre estudantes brasileiros de 15 anos, constatou que 67,3% deles têm dificuldade em diferenciar fatos de opiniões ao lerem textos. Em outro estudo, somente 27% dos estudantes de escolas públicas e 18% de escolas privadas receberam orientações sobre como avaliar a qualidade das informações online, mas metade dos professores afirmou ter apoiado os alunos em situações sensíveis na internet, incluindo o uso excessivo de jogos digitais e experiências de discriminação e cyberbullying. 56% das(os) professoras(es) relatam já terem trabalhado com educação para a mídia, mas apenas 20% se sentem bem preparados para ensinar sobre o tema e somente 37% de fato participaram de iniciativas de formação sobre o assunto.

Mais alguns números que permitem entender a crescente necessidade de maior investimento em educação midiática são os resultantes de pesquisa realizada pela OCDE: aproximadamente 41,9% das(os) estudantes foram ensinadas(os) a usar palavras-chave em mecanismos de busca; 52% aprenderam a avaliar a confiabilidade das informações online; 48,9% discutiram as consequências de compartilhar informações em redes sociais; e 45,7% foram orientadas(os) a identificar informações subjetivas ou tendenciosas.

É preciso manter em mente, também, as desigualdades socioeconômicas, digitais e educacionais, pois um menor acesso a dispositivos digitais e ao direito à educação, por exemplo, pode resultar em uma maior dificuldade na detecção de informações tendenciosas ou falsas. É o que mostra o estudo “Políticas de Educação Midiática“, publicado pelo Instituto Veredas sob encomenda da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom).

O que já tem sido feito?

Durante debate realizado em 29 de fevereiro de 2024 na Comissão de Educação (CE) do Senado Federal, especialistas classificaram a educação midiática como fator essencial para orientação da juventude diante das possibilidades crescentes de novas tecnologias manipularem os processos de informação.

Em 8 de abril de 2024, o então secretário de Políticas Digitais da Secom, João Brant, informou que foi incluída no Plano Plurianual (PPA 2024-2027) a formação de 300 mil educadoras(es) e 400 mil trabalhadoras(es) da saúde para o combate à desinformação.

Outros caminhos possíveis

Os benefícios da educação midiática são inúmeros, para citar alguns:

  • maior envolvimento em processos de participação e controle social;
  • maior entendimento sobre liberdade de expressão e responsabilidade ética dos meios de comunicação;
  • maior diálogo intercultural, tolerância e diversidade;
  • incorporação facilitada de tecnologias de comunicação e informação nas escolas; e
  • maior qualidade dos meios de comunicação.

Para uma educação midiática mais efetiva, algumas estratégias são essenciais, como começar o mais cedo possível, por exemplo. Além disso, focar em temas relevantes para as pessoas que estão sendo educadas e abordar as mídias que fazem parte do seu dia a dia torna a experiência mais engajante. O mesmo vale para o uso de canais e recursos diversos e a dedicação de bastante tempo para reflexão e prática.

Os sistemas educacionais devem continuar desenvolvendo estratégias e reformando os currículos, além de financiar pesquisas que abordem e avaliem de maneira explícita e coerente o tema da educação midiática. Neste sentido, o desenvolvimento de professoras(es) também precisa ser aprimorado através de parcerias entre diversas organizações, melhores ofertas de capacitação e o desenvolvimento conjunto de recursos educativos.

A consciência algorítmica faz parte de uma educação midiática de alta qualidade, o que significa que entender como as plataformas de conteúdo funcionam e a melhor forma de consumir e produzir conteúdo dentro delas é essencial para uma interação saudável e segura. Incentivar as crianças a produzirem seu próprio conteúdo digital como parte da educação em mídia, por exemplo, permitiria uma compreensão mais profunda dos fatores envolvidos na mídia que consomem.

A educação midiática por si só não resolve o desafio do conteúdo digital falso e enganoso, muito menos deve ser usada para responsabilizar individualmente as pessoas por um problema que é coletivo. A educação midiática é, sem dúvida, essencial, mas precisa estar acompanhada de outras políticas que, juntas, sustentam uma resposta eficaz à desinformação e outras formas de conteúdo falso ou enganoso.

*Redação com Brasil de Fato

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