O primeiro-ministro da Austrália chamou nesta terça-feira (23) o empresário Elon Musk de “bilionário arrogante que pensa estar acima da lei e da decência básica” em meio a uma disputa entre as autoridades australianas e a rede social X que envolve uma ordem de remoção de vídeos explícitos de um ataque terrorista em Sydney em 15 de abril.
Segundo o premiê Anthony Albanese, Musk é “um sujeito que escolheu o ego e a violência em vez do bom senso”.
Vídeos de ataque terrorista
A mais recente disputa entre Musk e a Austrália teve início na semana passada, quando uma comissão de segurança digital australiana ordenou que várias redes sociais removessem vídeos que mostravam um ataque a faca contra um clérigo cristão assírio e mais duas pessoas numa igreja de Sydney.
O ataque, que foi transmitido ao vivo, foi posteriormente classificado pela polícia como uma ação terrorista. O autor, um adolescente muçulmano de 16 anos, foi apreendido. Não houve registro de mortes.
Rapidamente, vídeos do ataque se espalharam nas redes sociais. As redes ligadas à empresa Meta (Facebook e Instagram) prontamente removeram os conteúdos após uma ordem da comissária de Segurança Eletrônica da Austrália, Julie Inman Grant, que ameaçou impor multas. Mas a rede X apenas ocultou o conteúdo para usuários na Austrália, permitindo que os vídeos pudessem ser exibidos e assistidos pelo público fora do país ou por australianos que usassem VPNs.
Essa ação limitada foi classificada como insuficiente pelas autoridades australianas, que exigiram a remoção completa dos vídeos da plataforma e entraram com um pedido de liminar na Justiça.
Musk vs. Austrália
No último sábado, Musk entrou pessoalmente na disputa e passou a usar sua rede para criticar o governo australiano. “A comissária de censura australiana está exigindo proibições globais de conteúdo!”, comentou o empresário no X. Uma postagem oficial da administração da rede também classificou as medidas tomadas pelo governo australiano como “um terrível ataque à sociedade livre”.
Na segunda-feira, um tribunal federal australiano, atendendo ao pedido de liminar das autoridades australianas, ordenou que a rede tome medidas nas próximas 48 horas para remover completamente os conteúdos.
No mesmo dia, o premiê Anthony Albanese, um político trabalhista no poder desde 2022, lançou suas primeiras críticas contra Musk, manifestando contrariedade com a resistência do X em remover os vídeos. “Isso não é sobre liberdade de expressão”, disse Albanese, apontando ainda que outras redes obedeceram a ordem de remoção.
Musk então reagiu com escárnio, “agradecendo” Albanese por “informar ao público” que o X é a “única plataforma confiável”. Na sequência, o empresário fez publicações com o mesmo tom provocativo e argumentou: “Nossa preocupação é que, se qualquer país tiver permissão para censurar conteúdo de todos os países, que é o que a “Comissária de Segurança Eletrônica” australiano está exigindo, então o que impede qualquer país de controlar toda a Internet?”.
Nesta terça-feira, Albanese voltou à carga, lançando novas críticas contra Musk e a rede X durante uma entrevista à emissora pública australiana ABC.
“Esse [Musk] é um sujeito que escolheu o ego e a demonstração de violência ao bom senso. Acho que os australianos vão balançar a cabeça quando refletirem que esse bilionário está preparado para ir aos tribunais para lutar pelo direito de semear a divisão e mostrar vídeos violentos que são muito angustiantes.”
“Outras empresas de mídia social obedeceram sem reclamar. Mas esse sujeito acha que está acima da lei australiana, que está acima da decência básica. E acho que esse sujeito do outro lado do mundo, a partir de suas organizações bilionárias, tentando dar lições aos australianos sobre liberdade de expressão… Bem… eu não vou aceitar isso e os australianos também não”, disse Albanese. “Isso mostra o quanto esse sujeito é arrogante.”
Disputa com STF brasileiro
Nos últimos dias, Musk intercalou na sua conta no X criticas ao governo da Austrália com ataque ao Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil. Os dois casos têm características análogas. O movimento de Musk contra o STF começou no dia 6 de abril, com uma série de mensagens no X nas quais o empresário acusou o ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito das milícias digitais no STF, de ser responsável por “censura” no Brasil. Musk ainda afirmou que a plataforma desbloquearia contas de ativistas de extrema direita que haviam sofrido ordens de bloqueio por decisões judiciais.
Um dia após a primeiras mensagens de Musk ameaçando desrespeitar as ordens judiciais de desbloqueio de contas no X, Moraes incluiu o dono do X como investigado no inquérito das milícias digitais.
*Redação com G1