O que aconteceu
Na madrugada anterior ao voo 2283 da Voepass, um comandante havia relatado problemas no equipamento de degelo do avião. O depoimento do ex-funcionário foi revelado pelo Fantástico, da TV Globo, na noite de hoje.
Apesar disso, o comandante não registrou oficialmente o problema com a aeronave. Sem descrição no diário de bordo, o avião foi liberado para novo voo, que acabaria na tragédia de 9 de agosto do ano passado.
O avião caiu a 80 quilômetros do destino e ninguém sobreviveu. O voo havia partido de Cascavel, Paraná, com destino à Guarulhos, mas acabou caindo pouco antes do momento do pouso, em Vinhedo.
Além do problema nas asas, semanas antes do acidente uma comissária relatou problemas na porta de serviço. Segundo a ex-funcionária, havia gelo entorno da porta, pois as borrachas não estavam vedando corretamente.
O avião não estava adequado para voar em condições de gelo. Ao Fantástico, o ex-funcionário relatou que o aparelho contra gelo das asas não estava funcionando e que por isso deveria ter ido para a manutenção — o que não aconteceu.
Um boletim meteorológico do dia da queda alertou para alta formação de gelo na região. Conforme o mecânico ouvido pelo Fantástico, a equipe da Voepass voava “sob pressão” e “não podia ficar colocando sempre pane na aeronave”.
Funcionário relatou “remorso” após o acidente. Em uma gravação de um mês após a queda, dois funcionários da manutenção lamentam o acidente e um deles diz: “Remorso desgraçado (…) errei, errei de não ter mandado por escrito” — indicando que sabia do problema, mas tinha sido orientado a não reportar.
O UOL tenta contato com a Voepass. Caso haja manifestação, este texto será atualizado.
Familiares vão discutir investigação
Nesta semana, familiares e advogados das vítimas vão se reunir com delegado para discutir depoimento de nova testemunha. Representantes da Associação das Vítimas do Voo 2283 – Voepass vão se encontrar com o delegado-chefe da Polícia Federal em Campinas, Edson Geraldo de Souza, para entender como anda a investigação.
O relatório final sobre a queda ainda não foi concluído pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos). O UOL apurou que familiares vão questionar a Polícia Federal sobre a veracidade das declarações da nova testemunha. Também haverá um encontro com membros do Ministério Público Federal.
Advogado de familiares aguarda confirmação do depoimento da testemunha para analisar o que deve ser feito. Ao UOL, Luciano Katarinhuk disse aguarda mais posições para saber se o caso se trata de uma omissão e houve dolo eventual — quando se assume o risco.
Nós queremos entender, encontrar e responsabilizar as pessoas que permitiram que esse avião estivesse no ar. Por omissão, por dolo, por dolo eventual. Como é que a pessoa permite um avião que tinha um problema numa peça de um aparelho que era relevante, pudesse estar no ar? Isso daí que a gente pretende ver junto com o delegado e junto até com o Ministério Público Federal, que nós temos uma reunião também.Luciano Katarinhuk, advogado.
Redação com Uol
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