Anadia/AL

8 de julho de 2025

Anadia/AL, 8 de julho de 2025

FARRA: Motta sinaliza R$ 11 milhões extras por deputado em emendas de comissão

Valor chegará a R$ 5,6 bi adicionais, que será somado aos R$ 19 bi de emendas individuais e R$ 14 bi de bancadas estaduais. Ele quer apoio massivo do plenário, mas governo Lula precisa autorizar.

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 8 de julho de 2025

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Presidente da Câmara, deputado Hugo Motta - Foto: Clilson Júnior

◼️ Por Henrique Rodrigues

Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara dos Deputados, não esconde de ninguém seu alinhamento com os interesses mais escusos da elite econômica nacional e o apego feroz às regalias do Congresso Nacional. Depois de sair recentemente nas manchetes do país, e também no mundo, marcado pelas hashtags “Motta Não Se Importa” e “Congresso Inimigo do Povo”, o parlamentar volta a escancarar o total desprezo pelo contribuinte brasileiro: acaba de sinalizar que cada um dos 512 deputados federais (com exceção dele, presidente da Casa) terá direito de indicar R$ 11 milhões extras em “emendas de comissão”. O valor foi confirmado pela reportagem da Folha de S.Paulo, que diz ter se baseado em declarações de seis deputados do Centrão.

Na ponta do lápis, o volume adicional pode bater a marca de R$ 5,6 bilhões, quantia que se somaria aos já estratosféricos R$ 19 bilhões em “emendas individuais” e aos R$ 14 bilhões reservados às “emendas das bancadas estaduais”. Tudo isso em plena discussão sobre ajuste fiscal e responsabilidade no uso de dinheiro público, cobrando escandalosamente o governo para que “gaste menos”.

O jogo de Motta é um velho conhecido em Brasília: usar dinheiro público como moeda de troca para manter a tropa alinhada no plenário da Câmara. Assim como Arthur Lira (PP-AL) fez, o atual chefe da Casa abre caminho para que cada deputado apadrinhe milhões em obras, serviços e repasses para suas bases eleitorais, um verdadeiro bilhete de loteria premiado que garante votos e reforça a blindagem política de cada integrante do parlamento.

Mas há um detalhe essencial que não pode ser esquecido: essas emendas de comissão não são impositivas. Ou seja, o pagamento depende do aval do governo federal. É justamente aí que Motta finca sua tática de chantagem: pressiona o Planalto a liberar a verba sob pena de obstruir votações importantes. Não por acaso, o mesmo Motta articulou recentemente a derrubada em plenário do aumento do IOF definido pelo Ministério da Fazenda, atropelando o governo Lula para mostrar força e gerando um pandemônio institucional que foi parar no Supremo.

Farra bilionária, sigilo e rastros do “Orçamento Secreto”

Por trás da nova onda de emendas de comissão está a herança maldita do “Orçamento Secreto”, um esquema declarado inconstitucional pelo STF em 2022. Na prática, as emendas de comissão ressuscitaram quase o mesmo formato, já que o dinheiro é indicado por parlamentares, passa pelas comissões da Câmara e do Senado e segue para o governo liberar, se quiser, claro.

Até pouco tempo atrás, tudo corria sob sigilo. Só a cúpula do Congresso tinha acesso aos nomes dos autores e ao destino do dinheiro. Foi preciso uma ordem judicial, após operações policiais revelarem fraudes e desvios, para obrigar o Congresso a dar alguma transparência à prática infame. Agora, mesmo sem o véu do segredo, o poder de chantagem continua intocado.

Discurso de austeridade exposto como encenação

A manobra de Motta é ainda mais escandalosa quando é comparada com o discurso que ele mesmo vendeu há alguns dias. Diante das pressões pelo equilíbrio fiscal, o presidente da Câmara chegou a dizer, em tom solene, que defenderia cortes em benefícios tributários e até nas emendas parlamentares. Mas bastou virar a página para a prática mostrar o contrário. Em vez de contenção, um novo pacote bilionário de recursos para irrigar redutos eleitorais foi gestado.

Enquanto isso, líderes de partidos aliados e o próprio Motta concentram ainda mais fatias dessa verba paralela, cujos valores exatos são guardados a sete chaves e podem superar R$ 100 milhões por liderança, conforme o tamanho de cada bancada.

Planeta Brasília: chantagem e crise aberta com o Planalto

Diante da nova escalada, a Fórum apurou que integrantes do governo já admitem reservadamente que não há consenso algum sobre liberar as “emendas de comissão”. Com a relação Congresso-Executivo estremecida desde o episódio do IOF, a liberação dos repasses bilionários vira munição política para Hugo Motta confrontar o Palácio do Planalto outra vez, e tentar constranger o presidente Lula (PT) para que ele ceda, ou então enfrente retaliações diretas em votações estratégicas.

Resta ao brasileiro, que custeia essa farra, assistir à coreografia de discursos em defesa do ajuste fiscal ao mesmo tempo em que se instaura mais um rombo no orçamento público. Uma farra orçamentária que, mais uma vez, expõe de forma gritante quem realmente é beneficiado pelo Congresso Nacional, além do próprio Congresso.

◼️ Revista Fórum

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