Anadia/AL

3 de maio de 2025

Anadia/AL, 3 de maio de 2025

‘Foi humilhante’, diz jovem após ser demitida e perder carro em sorteio

''Para Larissa, "desganhar o carro" foi mais do que uma frustração — foi uma experiência de humilhação. "Foi frustrante e humilhante, pois fui enganada com tudo isso", disse ao UOL '' / 10:44 hs

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 1 de maio de 2025

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Imagem: Reprodução

Uma jovem sorteada com um automóvel pela empresa em que trabalhava em Santos, no litoral de São Paulo, foi demitida e teve o prêmio tomado; veículo tinha histórico de sinistro.

O que aconteceu

Larissa Amaral da Silva, 25, ganhou um Jeep Compass em um sorteio interno da empresa em que trabalhava, a Quadri Contabilidade, mas perdeu o prêmio ao ser demitida. A jovem alega que gastou cerca de R$ 10 mil em reparos no veículo, que teria sido retomado sem autorização pela empresa, mesmo com a transferência em andamento. A empresa alega que a jovem descumpriu as regras do regulamento, como não bater metas e alugar o carro, avaliado em R$ 100 mil, para terceiros.

A demissão foi comunicada por WhatsApp e, segundo Larissa, não mencionava violação de regras do sorteio. Na mensagem, a empresa citava apenas “desempenho abaixo do esperado” e confirmava o aviso prévio  indenizado. Dias depois, o veículo foi recolhido — segundo ela, sem aviso formal e por meio de coação à sua supervisora.

A defesa de Larissa afirma que vai ingressar com ações nas esferas cível, trabalhista e, possivelmente, criminal. O advogado Paulo Ferreira classificou as metas como abusivas e afirmou que Larissa era considerada uma das melhores funcionárias do setor. “A perda do carro e a forma como foi tratada causaram revolta”, disse.

Para Larissa, “desganhar o carro” foi mais do que uma frustração — foi uma experiência de humilhação. “Foi frustrante e humilhante, pois fui enganada com tudo isso”, disse ao UOL.

Ela conta que trabalhava há nove meses na empresa, tinha bom relacionamento com colegas e até havia sido promovida. “Nunca tive nenhum desentendimento com ninguém”, afirmou. O dia do sorteio, segundo ela, foi marcado por empolgação e euforia. “Parecia um sonho. Me senti reconhecida naquele momento”.

A empresa foi questionada pelo UOL sobre a legalidade do sorteio, a transparência das metas e a condição do veículo. Até a conclusão desta reportagem, a Quadri Contabilidade não havia se manifestado.

Histórico de sinistro

Larissa afirma que o carro apresentava problemas mecânicos desde o primeiro dia. “Apareciam alertas no painel sobre manutenção do motor, luz de freio e farol diurno. O para-brisa estava trincado, a bateria fraca, e vários defeitos foram surgindo”, relatou ao UOL.

Documentos obtidos pela reportagem confirmam que o Jeep Compass entregue à funcionária havia passado por leilão com avarias graves. Um laudo técnico aponta classificação “C – avarias graves”, o que significa que o veículo teria forte restrição no mercado de seguros e financiamentos. Outro documento confirma a existência de sinistro anterior, com probabilidade reduzida de aceitação por seguradoras.

A defesa afirma que Larissa não foi informada sobre o histórico do automóvel. Segundo o advogado Paulo Ferreira, isso pode configurar vício oculto (defeito em um produto) e gerar responsabilização da empresa por danos materiais.

A demissão de Larissa ocorreu por mensagem e a retomada do carro foi justificada pelo não cumprimento de metas
A demissão de Larissa ocorreu por mensagem e a retomada do carro foi justificada pelo não cumprimento de metasImagem: Arquivo Pessoal

Metas desproporcionais

Para manter o veículo, a funcionária precisaria cumprir dez metas internas consideradas desproporcionais. Entre os requisitos estavam: elaborar manuais e e-books, aplicar treinamentos sobre legalização de empresas, criar parcerias com cartórios e bombeiros, além de arrecadar brinquedos para uma campanha social.

Um dos pontos exigia “relacionamento com órgãos reguladores” e outro cobrava redução no tempo dos processos do setor. “É surreal esperar que uma funcionária de rotina execute tarefas de gestão pública ou institucional. As metas são subjetivas, vagas e, em muitos casos, fora do alcance dela”, afirmou o advogado.

As cláusulas foram entregues minutos antes do sorteio, segundo Larissa. Ela relata que havia cerca de 30 pessoas reunidas e o documento foi assinado “com pressa e empolgação”. “Ninguém teve tempo de entender o que estava aceitando”, disse.

Retomada do veículo

A transferência do veículo para o nome de Larissa já estava formalizada e com firma reconhecida quando o automóvel foi retomado pela empresa. O UOL teve acesso ao CRV (Certificado de Registro de Veículo) digital, que mostra o nome da jovem como compradora e a data de autenticação em cartório em 9 de janeiro de 2025. O vendedor registrado não é a Quadri, mas um possível intermediador.

Mesmo assim, o carro foi recolhido sem aviso direto, segundo a jovem. “O veículo estava com minha supervisora no dia. Tomaram dela sob ameaça de que ela teria problemas. Não me avisaram nem pediram para que eu o devolvesse”, contou.

O advogado de Larissa registrou boletim de ocorrência e alega apropriação indevida. “O bem estava em processo de transferência e foi retirado sem autorização, sendo colocado em local incerto”, afirmou.

A funcionária afirma que tentou dialogar com a empresa antes de tornar o caso público. “Tentei resolver com boa-fé, pedi reembolso pelos gastos que tive com o carro, mas fui ignorada. Eles tomaram o veículo sem autorização”, disse.

Humilhação

A empresa propôs um acordo condicionado à publicação de uma nota de esclarecimento, segundo a defesa. “Larissa se recusou a aceitar mais essa humilhação. As cláusulas estavam razoáveis, mas essa exigência era abusiva”, disse o advogado.

Larissa relata ansiedade, noites mal dormidas e dificuldade para retomar a vida profissional. “Sou uma pessoa reservada, e me expor assim tem sido um desafio enorme. Me senti humilhada, descredibilizada e prejudicada em vários níveis”.

Ela afirma que acreditava que o automóvel mudaria sua vida. “Era meu primeiro carro. Ganhar foi como realizar um sonho, mas tudo virou um pesadelo. Foi uma humilhação”.

A defesa avalia entrar com ações nas esferas cível, trabalhista e até criminal. Segundo o advogado, a empresa pode responder por abuso contratual, apropriação indevida e danos morais. A devolução do veículo, neste momento, seria “inviável e perigosa”, segundo ele.

Redação com Uol 

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