Por Henrique Rodrigues
A trajetória recente de Esdras Jônatas dos Santos, empresário bolsonarista e figura conhecida nos acampamentos golpistas que culminaram com o 8 de janeiro de 2023, é marcada por contrastes extremos. Depois de ostentar viagens a Miami, Tulum, Paris, Trancoso e Rio de Janeiro, e de circular com um Porsche avaliado em R$ 400 mil, o autointitulado “patriota” agora afirma ter sido reduzido à condição de catador de restos de comida no lixo para sobreviver nos EUA.
Segundo ele próprio, a situação chegou a tal ponto que precisou tentar vender o carro de luxo para se manter. E como se não bastasse o drama pessoal, o foragido do Supremo Tribunal Federal surgiu nos últimos dias literalmente chorando nas redes sociais, pedindo ajuda a Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o deputado de extrema direita brasileiro que se bandeou para a terra do Tio Sam para, de lá, sabotar o Brasil e lutar por interferência estrangeiras nos assuntos domésticos do país.
Da retórica golpista ao desespero público
Esdras não foi um mero simpatizante de acampamentos bolsonaristas. Ele atuou ativamente na convocação de atos e ataques contra agentes públicos. Foi apontado pelas autoridades como um dos articuladores da estrutura montada em frente ao 4º Comando do Exército, em Belo Horizonte, com o objetivo de atrair apoio militar ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Quando o acampamento foi desmontado, foi flagrado chorando, só que dessa vez não de emoção, mas sim de frustração. Acabou acusado, ainda, de agredir e roubar jornalistas que cobriam os atos.
Curiosamente, aquele que tanto desdenhou das instituições democráticas brasileiras agora clama por justiça. Mas não a Justiça brasileira, da qual fugiu, e sim algum tipo de salvação no exterior, talvez acreditando que Eduardo Bolsonaro, morando na “América”, pudesse exercer funções de gabinete paralelo ou consulado afetivo.
Perseguição ou medo de ser preso pelo crime cometido?
Apesar de ter tido as contas bancárias bloqueadas, o passaporte cancelado e de uma ordem judicial para não usar redes sociais, Esdras reapareceu publicamente no fim de semana. Em tom dramático, aos prantos, negou qualquer crime e alegou estar sendo perseguido por motivos políticos.
“Pelo amor de Deus, eu imploro aqui nesse vídeo, pra todo mundo que tá me vendo aqui nessa hora. Em nome de Jesus, se você conhece o Eduardo Bolsonaro, sabe onde que ele tá aqui nos Estados Unidos. Eu peço socorro nessa hora pra vocês. Em nome de Jesus, pra todo mundo que tá aqui, eu estou sendo perseguido, e eu preciso de socorro. Eu estou sendo perseguido dentro dos Estados Unidos. (0:31) Eu preciso não de dinheiro, eu preciso de um apoio. Em nome de Jesus, gente. Pelo amor de Deus, vocês que estão assistindo esse vídeo, pelo amor de Deus. Eu tô pedindo aqui desesperado, gente, socorro. Eu tô sendo perseguido dentro dos Estados Unidos, gente. Eu peço socorro, em nome de Jesus. Pra todo mundo que conhece o Eduardo Bolsonaro, por favor. Eu preciso conversar com ele”, diz ele no vídeo repetitivo em que choraminga.
A pergunta que fica no ar é: será que agora ele percebe o risco de ter lutado abertamente por uma ruptura institucional? Terá passado por sua cabeça que um golpe de Estado, se bem-sucedido fosse, implicaria, também, em perseguições, prisões e até sumiços para quem estivesse no campo contrário?
Porque, sejamos francos, se a ditadura sonhada por Esdras tivesse se instaurado, é pouco provável que o tratamento dispensado aos adversários políticos fosse de diálogo democrático. Sua súbita vitimização parece ignorar a natureza autoritária do projeto que ajudou a fomentar.
Envolvimento direto com crimes
Esdras e sua ex-esposa, Kathy Le Thi Thanh My dos Santos, também foragida e moradora com ele em Fort Lauderdale, são alvos de mandados de prisão emitidos pelo STF. Os dois respondem por crimes graves, como incitação ao crime, tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Mesmo com a decisão judicial que o proíbe de usar redes sociais, Esdras continua buscando visibilidade. Agora, com apelos que misturam drama pessoal, discurso político e pedidos de resgate a uma figura pública notoriamente extremista.
Fonte: Revista Fórum
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