Por Henry Gaslky, correspondente da RFI em Israel
Moradores do sul do Líbano e da planície de Bekaa começaram a voltar para suas casas nesta quarta-feira, formando congestionamentos nas estradas, de acordo com a agência oficial libanesa Ani. Muitos deslocados ignoraram as advertências para que aguardassem autorização das autoridades. Em várias localidades do Líbano, pessoas saíram às ruas para celebrar o compromisso.
Desde as primeiras horas da manhã, o movimento se intensificou nas estradas a caminho do sul do país. No entanto, como o acordo prevê que Israel pode permanecer no território libanês ainda por mais 60 dias, o porta-voz das forças israelenses em idioma árabe informou que a população libanesa deve aguardar autorização para retornar.
Um dos pontos do acordo determina que o exército regular libanês deve assumir posições no sul do país enquanto as forças israelenses deixam o território durante o período de dois meses. Militares libaneses declararam que iniciaram os preparativos para realizar este deslocamento.
“O anúncio do cessar-fogo no Líbano é uma vitória e um grande sucesso para a resistência”, declarou à AFP, nesta quarta, um membro do gabinete político do Hamas. “Informamos os mediadores no Egito, Catar e Turquia que o Hamas está pronto para um acordo sério para a troca de prisioneiros”, acrescentou, acusando Israel de “obstruir qualquer compromisso”.
Biden agradece envolvimento da França
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou em Washington que Israel e Líbano aceitaram a proposta norte-americana de cessar-fogo. Ao comunicar a decisão, Biden também agradeceu ao presidente francês, Emmanuel Macron, pelo seu envolvimento nas negociações. Do Irã à China, a comunidade internacional elogia o compromisso encontrado.
Os confrontos entre o Hezbollah e Israel começaram em 8 de outubro do ano passado, no dia seguinte aos ataques do Hamas ao sul israelense. A milícia xiita libanesa passou a disparar contra Israel em solidariedade ao grupo palestino, que controlava a Faixa de Gaza.
Mais cedo, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, havia declarado apoio ao cessar-fogo, argumentando que a partir disso Israel poderia se concentrar na guerra contra o Hamas, na Faixa de Gaza, e na ameaça do Irã.
Havia dúvidas em Israel sobre a votação interna no gabinete de segurança sobre a proposta. No final, ela foi apoiada por dez dos membros do gabinete, sofrendo oposição apenas do ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir.
No Líbano, a guerra deixou cerca de 3.700 pessoas mortas e mais de 15.500 feridos. A estimativa é que 1,3 milhão de pessoas tenham sido deslocadas de suas casas.
Em Israel, cerca de 60 mil pessoas foram deslocadas de suas casas. O extremo norte do país foi praticamente esvaziado. Setenta e oito israelenses foram mortos pelo Hezbollah.
Pontos do acordo
► O exército israelense tem 60 dias para se retirar gradualmente do Líbano.
► O Hezbollah também deve se retirar da fronteira sul com Israel e se deslocar para o norte do rio Litani.
► As armas pesadas do Hezbollah devem ser removidas desta área.
► O exército e as forças de segurança libanesas recuperarão posições do exército israelense e do Hezbollah.
► O Líbano e Israel mantêm o direito à legítima defesa de acordo com o direito internacional, caso o cessar-fogo não seja respeitado.
► O exército dos EUA fornecerá apoio técnico ao exército libanês em colaboração com o exército francês
► Um comitê militar constituído pelos exércitos de vários países fornecerá apoio adicional ao exército libanês, fornecendo equipamento, treinamento e financiamento.
► Os Estados Unidos e a França aderirão ao mecanismo tripartite criado após a guerra de 2006, que reúne a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil), Israel e o Líbano.
► Este mecanismo, agora presidido pelos Estados Unidos, visa manter a comunicação “direta” entre as diferentes partes e permitir que “toda vez que seja constatada uma violação, especialmente uma violação grave”, o incidente seja “imediatamente tratado” para evitar uma escalada.
Redação com RFI
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