“Inaceitável”. É desta forma que o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abul Gheit, classifica a possibilidade de deslocamento da população palestina de seus territórios. “Hoje, o foco está em Gaza, e amanhã estará na Cisjordânia, com o objetivo de esvaziar a Palestina de sua população histórica”, afirmou na Cúpula Mundial de Governos em Dubai.
Assim como Abul Gheit, muitas lideranças regionais, além dos governos do Irã, China, Brasil e alguns países europeus, condenaram a ideia de Trump de retirar os cidadãos palestinos de Gaza, devastada pelo conflito entre Israel e Hamas, para realocá-los em outras nações da região, como Egito e Jordânia. “Após resistir a isto há 100 anos, nós, os árabes, não vamos capitular agora de maneira alguma”, insistiu o secretário-geral da Liga Árabe.
O mesmo tom foi adotado pela China nesta quarta-feira. “Gaza pertence aos palestinos e é parte integrante do território palestino”, afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun. “Nós nos opomos ao deslocamento forçado dos habitantes de Gaza”, acrescentou o porta-voz.
Projeto de Donald Trump
O presidente americano surpreendeu o mundo na semana passada quando, ao receber na Casa Branca o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, propôs que Washington assuma o controle de Gaza, para transformá-la na “Riviera Francesa do Oriente Médio”. De acordo com o projeto do líder republicano, os habitantes do enclave palestino seriam realocados em países da região, como Egito e Jordânia.
Mesmo após uma enxurrada de críticas, Trump voltou a evocar a ideia na terça-feira (11), ao receber o rei da Jordânia, Abdullah II, em Washington. O magnata repetiu que deseja colocar o enclave palestino “sob autoridade americana”, mas a ideia foi rechaçada pelo monarca. “Ressaltei que meu compromisso principal é com a Jordânia, com sua estabilidade e com o bem-estar dos jordanianos”, publicou Abdullah nas redes sociais, após se reunir com o líder republicano na Casa Branca.
“Acredito que uma das coisas que podemos fazer imediatamente é levar [para a Jordânia] duas mil crianças [de Gaza], crianças com câncer em estado muito grave. Isso é possível”, disse Abdullah a Trump. O presidente dos EUA classificou a iniciativa como um “gesto bonito”.
Logo depois, o Egito anunciou que planeja “apresentar uma visão global para a reconstrução” da Faixa de Gaza, com a expectativa de “cooperar” com o governo Trump. Segundo o Ministério das Relações Exteriores do país, o objetivo é “alcançar uma solução justa para a causa palestina” e “que garanta que o povo palestino permaneça em sua terra”. Segundo o comunicado, o projeto será discutido entre os líderes árabes.
“Operação imobiliária”
Emmanuel Macron foi outra liderança que não poupou críticas ao projeto de Trump para a Faixa de Gaza. Em entrevista gravada pelo canal americano CNN na terça-feira, à margem da cúpula sobre Inteligência Artificial em Paris, o presidente da França exigiu “respeito” à população palestina classificando os planos do magnata de “operação imobiliária”.
“Você não pode dizer a dois milhões de pessoas: ‘Ok, agora adivinhem. Vocês têm que ir embora'”, afirmou o chefe de Estado. “Sempre repeti o meu desacordo com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu”, reiterou, referindo-se aos planos de Israel de administrar a Faixa de Gaza, mesmo após o fim da guerra. “Não acredito, mais uma vez, que uma operação tão massiva que por vezes tem como alvo civis seja a resposta certa”, martelou.
Macron ainda expressou seu apoio aos palestinos, mas também ao Egito e à Jordânia, que resistem à pressão do presidente americano. Uma solução “eficaz” para reconstruir Gaza “não significa automaticamente que você deve desrespeitar povos ou países”, insistiu o líder centrista.
Fonte: RFI