Anadia/AL

16 de novembro de 2024

Anadia/AL, 16 de novembro de 2024

“Loucura não exclui o ato terrorista, não anula o discurso de ódio”, diz psicanalista

Psicanalista Cleyton Andrade analisa atentado ao STF, destacando aspectos políticos do terrorismo e os vínculos entre loucura e discursos extremistas.

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 16 de novembro de 2024

Brasil 5

Francisco Wanderley Luiz, o "Tiu França" (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

O psicanalista, pesquisador e professor universitário Cleyton Andrade participou do programa Boa Noite 247 para discutir o atentado ao Supremo Tribunal Federal (STF), cometido na última quarta-feira (13). Andrade é uma das principais referências na área de psicanálise no Brasil, sendo membro da Escola Brasileira de Psicanálise (EBP) e da Associação Mundial de Psicanálise (AMP).

Ele é professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), onde atua no Instituto de Psicologia e integra o corpo docente permanente de dois programas de pós-graduação: Psicologia (PPGP) e Linguística e Literatura (PPGLL).Além disso, Andrade coordena o ECLIPsi – Laboratório de Psicanálise, Clínica e Estudos Interculturais na UFAL.

Sua trajetória acadêmica inclui mestrado e doutorado em Estudos Psicanalíticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Autor de obras de destaque, ele conquistou o primeiro lugar no 58º Prêmio Jabuti na categoria Psicologia, Psicanálise e Comportamento com o livro Lacan Chinês. Sua produção combina reflexão clínica e teórica com análises sobre os desafios contemporâneos da sociedade, como os discursos de ódio e os impactos da polarização política.

Durante a entrevista, Andrade trouxe uma análise aprofundada sobre o atentado ao STF, abordando as implicações do evento sob a perspectiva psicanalítica e traçando conexões entre loucura, discursos extremistas e atos terroristas.

Atentado e contexto histórico

Para Andrade, o ato cometido por Francisco não é um evento isolado. “Ele tem uma história. Essa história pode ser remontada a 2019, quando Bolsonaro, já na Presidência da República, iniciou ações antidemocráticas. Pode ser reportada também ao impeachment da presidente Dilma ou a momentos em que ele [Bolsonaro] dizia atrocidades, e as pessoas riam, achando que aquilo não se transformaria em elementos concretos.”

Andrade enfatizou que o atentado deve ser compreendido no contexto político e social recente. “Ontem foi mais um capítulo dessa história, que está imersa em discursos de ódio coletivo e ataques às instituições democráticas.”

Loucura e ato terrorista

O psicanalista ressaltou a complexidade de associar o terrorismo à loucura. “É importante entender que loucura não exclui o ato terrorista. Afirmar que não há loucura envolvida pode ser delicado. Se surgir a notícia de que ele tinha histórico de atendimento psiquiátrico, a extrema direita poderá usá-la para despolitizar o ocorrido.”

Ele explicou que a loucura, enquanto experiência humana, possui dimensões históricas e sociais. “Loucura tem materialidade, contexto social e político. Ela não ocorre fora do sistema solar; acontece na vida, no cotidiano, em determinados momentos e conjunturas.”

Discursos de ódio e radicalização

Andrade destacou que discursos extremistas, como os que impulsionaram Francisco Wanderley Luiz, têm um papel fundamental na radicalização. “A continuidade da propagação de ódio captura pessoas que se sentem especiais, eleitas, escolhidas para executar tarefas indicadas por esse discurso.” Ele comparou o caso ao modus operandi de grupos terroristas como o Estado Islâmico, que incentivavam indivíduos a agirem isoladamente sob influência de mensagens ideológicas.

O professor também abordou o impacto das massas em atos coletivos. “Dentro de uma massa, as pessoas muitas vezes abdicam da própria coerência e raciocínio em nome de palavras de ordem e mensagens que as mobilizam.”

Responsabilidade política

Por fim, Andrade afirmou que o atentado é fruto de uma responsabilidade política clara. “A responsabilidade tem nome, endereço e remetente: a extrema direita e seus discursos de ódio. Mesmo quando um ato parece isolado, ele não está desconectado desse contexto discursivo.”

* Brasil 247

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