Economia
A missão à Índia liderada pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento Geraldo Alckmin, realizada entre os dias 15 e 17 de outubro, representa mais uma ação estratégica e bem-sucedida do governo Lula para recolocar o Brasil em posição de protagonismo no cenário internacional. A visita ocorreu em um momento de desafios externos, como o tarifaço imposto pelos Estados Unidos e as disrupções nas cadeias globais de suprimentos, e resultou em avanços concretos, com acordos assinados e metas definidas entre os dois países integrantes dos BRICS.
Acordo Mercosul-Índia
O ponto central das negociações foi o compromisso de expandir o Acordo de Preferências Tarifárias entre Mercosul e Índia. Atualmente, o tratado abrange apenas uma pequena parte do potencial produtivo. Alckmin destacou que o acordo vigente “contém 450 linhas tarifárias, enquanto nós temos 9 mil, então não cobre nem 5% do que podemos ter”.
O governo brasileiro estabeleceu um cronograma para ampliar o número de produtos incluídos e consolidar reduções tarifárias, buscando gerar impacto direto sobre o comércio e a competitividade.
As metas são ambiciosas: o comércio bilateral, estimado em US$ 12 bilhões no último ano, deve alcançar US$ 15 bilhões em 2025 e chegar a US$ 20 bilhões em 2026. Isso marca uma virada na postura comercial brasileira, que deixa de ser reativa e passa a atuar de forma proativa e estratégica.
Fórum Empresarial Brasil-Índia
A missão incluiu a realização de um Fórum Empresarial Brasil-Índia, que reuniu representantes de cerca de 20 setores, incluindo agronegócio, tecnologia, saúde, energia, química e construção. O objetivo foi aproximar empresários dos dois países, identificar oportunidades concretas e alinhar demandas em áreas como logística, certificações, normas técnicas e acesso a crédito.
Foram ainda assinados acordos bilaterais para evitar a dupla tributação e incentivar investimentos mútuos, reduzindo barreiras e estimulando a circulação de capital e conhecimento. Também avançaram as tratativas na área farmacêutica, com foco em vacinas e saúde pública.
Outros vetores de cooperação
Além do comércio e do petróleo, o governo ampliou a agenda de cooperação com iniciativas práticas que fortalecem a relação bilateral. O Brasil passará a facilitar o visto de entrada, eliminando entraves burocráticos e aproximando investidores. “Toda a área de negócios e consultoria terá visto eletrônico aqui na embaixada em Nova Delhi e no consulado em Mumbai”, anunciou Alckmin
Também avança o diálogo para a criação de voos diretos entre os dois países, reduzindo distâncias e custos logísticos. Ainda na área da aviação, a Embraer inaugurará um escritório regional em Nova Délhi, expandindo sua atuação na Índia e abrindo novas frentes de inovação e produção conjunta.
No campo fiscal, foram firmados o Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos (ACFI), com vigência prevista a partir de dezembro de 2025, e a atualização da Convenção sobre Bitributação, reforçando a segurança jurídica de empresas interessadas em investir.
Defesa, saúde, tecnologia e inovação também estiveram na pauta, compondo uma política externa pragmática e assertiva, voltada a abrir mercados, gerar empregos e consolidar novas cadeias produtivas.
Energia e petróleo
Na área energética, o destaque foi o contrato firmado para a venda de 6 milhões de barris de petróleo pela Petrobras à Índia até 2026. Alckmin informou que o fornecimento será distribuído ao longo de um ano, reforçando a diversificação da matriz de importação indiana, já que o país importa cerca de 87% de seu consumo.
Também foram discutidos intercâmbios tecnológicos em exploração e extração offshore, com o Brasil se consolidando como fornecedor alternativo ao petróleo russo, sobretudo diante das tarifas americanas que afetam o equilíbrio global de energia.
Esse movimento já apresenta resultados concretos: as exportações brasileiras de petróleo para o país parceiro cresceram cerca de 75% no primeiro semestre de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Brasil reposicionado
A missão liderada por Geraldo Alckmin deixou um saldo altamente positivo: expansão do acordo tarifário, fórum empresarial ativo, contrato energético robusto, facilitação de vistos e avanços em áreas estratégicas. É um reposicionamento firme e planejado do Brasil, que busca no mercado asiático o espaço compatível com sua relevância econômica, geográfica e diplomática.
Os desafios existem, como a necessidade de consenso interno no Mercosul e ajustes regulatórios e logísticos, mas o pacto firmado em Nova Délhi abre caminho para crescimento sustentável, fortalecimento industrial e alianças duradouras.
Com a visita à Índia, o Brasil deu mais um passo decisivo para consolidar o controle do próprio destino comercial e reafirmar sua soberania perante o mundo.
Fonte: PT