Anadia/AL

22 de julho de 2024

Anadia/AL, 22 de julho de 2024

Moradores: terra volta a tremer nos Flexais

Abalos foram sentidos durante feira do empreendedor realizada no sábado pela Braskem; Defesa Civil nega | 12:49 hs

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 11 de junho de 2024

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Foto: Divulgação

Por: Ricardo Rodrigues

A terra voltou a tremer nos bairros que afundam em  Maceió. Os tremores foram sentidos pelos moradores da região de Bebedouro, no sábado passado, durante um evento realizado pela Braskem, em parceria com a Prefeitura, o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público Estadual (MP/AL) e Defensoria Pública da União (DPU).

“A Feira dos Empreendedores dos Flexais, patrocinada pela mineradora, foi um fracasso e terminou com um novo incidente”, afirmou o Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), por meio de nota encaminhada à imprensa.

“Durante a feira, o chão tremeu, casas apresentaram rachaduras e diversas ruas ficaram completamente alagadas. Esses acontecimentos reforçam a urgência de medidas efetivas para garantir a segurança e a saúde dos moradores”, acrescentou o Movimento.

O MUVB reforça que a comunidade da região dos Flexais continua a enfrentar graves problemas, como quedas de árvores, barreiras e casas. Além de crateras que se abrem com a força das enxurradas e tremores, como aconteceu na rua Marquês de Abrantes, no último final de semana.

“Esses recentes tremores e alagamentos são a prova de que a região não oferece mais condições de vida saudável”, ressaltaram os integrantes do MUVB. “As ações paliativas, como a feira promovida, são insuficientes diante da magnitude dos desafios enfrentados pelos moradores”, acrescentaram na nota.

Os órgãos de fiscalização e controle, que deram aval aos acordos com a Braskem e foram parceiros da mineradora na feira do empreendedor, foram questionados sobre o “fiasco” do evento, mas não quiseram se manifestar.

No entanto, alguns moradores que participaram da feira disseram o evento “foi um sucesso”. Na opinião de Renato dos Santos, morador da Rua Tobias Barreto, “a feira só não foi boa para quem não acredita da revitalização dos Flexais”. Ele disse que vendeu crepe no palito e teve um bom faturamento.

NOTA DA DEFESA

A Defesa Civil Municipal informou que, apesar das ocorrências na rua Marquês de Abrantes e da queda de uma barreira no Flexal de Cima, não foram registrados abalos sísmicos na região. “A feira foi iniciativa da Braskem, a prefeitura levou apenas para lá um stnd com serviços da saúde”, garantiu a assessoria do prefeito JHC (PL).

A prefeitura de  Maceió foi procurada para se posicionar sobre essa situação. Em nota em encaminhada à imprensa, no final da manhã de ontem (10/6), “a Defesa Civil de  Maceió informa que atendeu as ocorrências na rua Marquês de Abrantes e realizou os encaminhamentos necessários de acordo com cada situação”.

“Não foram registrados tremores de terra na região neste final de semana. Houve desabamento de residência e de uma barreira que resultou na queda de uma árvore. As providências de limpeza do local e atendimento às famílias atingidas já foram realizadas”, acrescentou.

 

Comunidade dos Flexais protestam contra a mineradora (Foto: Edilson Omena)

Lideranças repudiam postura da Defesa Civil de  Maceió

De acordo com as lideranças dos movimentos que defendem as vítimas da mineração em Maceió, a comunidade não acredita mais na Defesa Civil de  Maceió. Para a coordenação do MUVB, fica difícil acreditar no trabalho do órgão, quando a prefeitura firmou um acordo com a Braskem, recebeu uma indenização de R$ 1,7 bilhão.

“A Defesa Civil de Maceió tem enganado a população desde o início desses episódios. A Braskem, inclusive, chegou a forjar laudos! Quem você acha que tem credibilidade para falar sobre o que realmente está acontecendo nas comunidades afetadas?”, questionou o servidor público Maurício Sarmento, integrante do MUVB.

Outros moradores também questionaram a postura do órgão, administrado pela prefeitura.

“Sobre essa nota da Defesa Civil eu discordo. E com certeza os moradores também discordam. Podem ver nos vídeos que postei sobre a ação da defesa no local, que não apareceu por lá. Nem para conversar com a população”, registrou um morador.

Nos vídeos postados nas mídias sociais, os moradores mostram que além das viaturas da Guarda Municipal, apenas um helicóptero esteve no local, mas observando tudo de longe, de cima. A comunidade mostrou ainda uma frota de ônibus usado para levar e buscar as pessoas que participaram da freira do empreendedor.

APARELHAMENTO

Para a bióloga Neirevane Nunes, que milita no movimento nacional contra a mineração predatória, “a Defesa Civil de  Maceió foi aparelhada pela Braskem e continua tendo posturas inadequadas em relação à população que só pode ser justificada por uma influência muito forte da Braskem sobre o órgão”.

Questionada sobre a negação dos abalos sísmicos, sentidos pela comunidade no último sábado, Neirevane Nunes afirmou que a mesma coisa a Defesa Civil Municipal declarou quando no final do ano passado os moradores do condomínio Morada das Árvores sentiram os abalos.

“Somente depois que os moradores comunicaram à Defesa Civil do registro dos sismos feitos pela Universidade de Brasília (UNB), foi que o órgão admitiu que houve tremores, mas que foram de pequena magnitude e que estava tudo sob controle, tudo sendo monitorado, mas pouco tempo dessa declaração à imprensa, veio a comunicação do colapso da mina 18 pela Braskem, informando inclusive previsão de horário para o colapso acontecer”, acrescentou a bióloga.

“A Defesa Civil de  Maceió, por causa desse episódio, perdeu ainda mais a credibilidade perante a população”, concluiu Neirevane Nunes.

“Nota de repúdio” contra abandono do Hospital Sanatório é divulgada

Os moradores dos bairros que afundam também divulgaram “nota de repúdio” sobre o abandono do Hospital Sanatório, que foi desativado por conta da mineração da Braskem, desde novembro de 2023, quando a mina 18 entrou em colapso.

De acordo com os servidores do estabelecimento, os usuários estão sofrendo com a suspensão dos serviços oferecidos pelo Sanatório, principalmente dos pacientes que faziam hemodiálise.

Em nota encaminhada à imprensa e publicada nas redes sociais, os enfermeiros reclamam atrasos no pagamento e cobram uma resposta da prefeitura.

“Os profissionais da enfermagem, do hospital Sanatório, vem a público cobrar da prefeitura de  Maceió e do seu perspectivo prefeito JHC, que liberem nosso complemento do piso salarial, onde já foi abordado junto ao Ministério da Saúde que desde o mês de dezembro o repasse vem sendo feito, porém está nos cofres da prefeitura e não chegou ao destino, que são os trabalhadores!”, afirmaram os enfermeiros, na nota.

“Queremos saber o motivo da prefeitura e do respectivo prefeito está segurando algo que não lhe pertence?”, questionaram.

OUTRO LADO

A assessoria do prefeito JHC foi procurada para se manifestar sobre essa cobrança. Por meio de nota, a prefeitura forneceu a seguinte resposta:

“A Secretaria de Saúde de  Maceió informa que o valor referente à equiparação da remuneração de funcionários ao piso salarial da enfermagem – aprovado recentemente – é repassado pela SMS, para o Hospital Sanatório, a partir do recebimento dos recursos enviados pelo Ministério da Saúde para os estabelecimentos de saúde.

O repasse só é autorizado após o Ministério avaliar e aprovar os dados dos funcionários encaminhados pelo estabelecimento – segundo critérios estabelecidos pelo governo federal – o que não ocorreu até o momento. A SMS consultou o Ministério da Saúde sobre a autorização de repasse dos recursos – que já estão no município – ao Hospital Sanatório desde o dia 13 de abril, mas continua no aguardo de uma resposta sobre o repasse/pagamento do piso”.

*Redação com Tribuna Hoje

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