O ministro Haddad tem uma agenda de três dias em Roma e no Vaticano que inclui reuniões bilaterais com ministros de Finanças. Ele chegou ontem na capital italiana e no final da tarde participou de uma entrevista coletiva na embaixada do Brasil com o ministro da Economia da Espanha, Carlos Cuerpo. Hoje ele encontra o ministro da Economia e Finanças da Itália, Giancarlo Giorgetti. Na quinta-feira (6) Haddad terá uma audiência com o papa Francisco antes de voltar ao Brasil.
Taxação das grandes fortunas
Durante a coletiva, o ministro da Fazenda falou da proposta de união internacional para taxar os super-ricos. Em fevereiro deste ano, Haddad apresentou o plano em reunião de ministros de Finanças do G20, no âmbito da presidência brasileira. Recentemente, França, Espanha, África do Sul e países latino-americanos aceitaram debater o tema de tributação dos bilionários.
“Vamos nos lembrar que nos últimos anos houve manifestações dos super-ricos a favor a proposta, mas não se encontrava um caminho para tornar a ideia uma realidade” disse Haddad.
O ministro frisou que a taxação dos super-ricos deve ser em escala mundial. Haddad garantiu que não há motivos para a classe média alta brasileira se preocupar, pois a tributação afetaria poucos bilionários.
“Esta proposta afeta 3 mil pessoas em relação à população mundial de 8 bilhões de pessoas. Estamos falando de três mil pessoas que detém US$ 15 trilhões em patrimônios. Além disso, muitas destas pessoas já se declararam a favor. Algumas já fazem doações filantrópicas além do que está sendo adentrado”, ressaltou aos jornalistas, lembrando que os desafios atuais vão exigir novas fontes de financiamento.
Crise climática
Durante a coletiva, Haddad falou do combate às mudanças climáticas, com enfoque para a tragédia no Rio Grande do Sul, que sofre com os impactos das enchentes no estado. A crise climática está associada ao desmatamento dos biomas no Brasil, que provoca emissões de gases de efeito estufa. O tema desperta preocupação internacional.
Vale lembrar que o relatório anual do desmatamento divulgado pelo MapBiomas mostra que agropecuária respondeu por 97% de toda a perda de vegetação no Brasil, não só no ano passado, mas também ao longo dos últimos cinco anos. Ao mesmo tempo, as exportações de produtos da agropecuária fecharam 2023 com US$ 166,55 bilhões em vendas. O agronegócio foi responsável por 49% da pauta exportadora total brasileira durante o ano.
“Nós temos um trabalho para fazer também no âmbito da agricultura e pecuária para melhorar as nossas emissões. Há muito que ser feito. Eu penso que o setor privado brasileiro tem dado demonstrações de compromissos com a agenda climática. Tem havido inovações importantes e tecnológicas para redução de emissões” disse o ministro da Fazenda do Brasil.
Audiência com o papa
Fernando Haddad terá uma audiência privada com o papa Francisco na próxima quinta-feira (6). O ministro disse que irá “trazer o abraço do presidente Lula e mantê-lo a par dos propósitos do Brasil”. Sobre o encontro com o pontífice, Haddad afirmou que também colocará o governo brasileiro “à sua disposição para os temas que são tratados pelo Vaticano e dizem respeito ao sentimento dos brasileiros por um mundo mais fraterno, por um mundo de paz, por um mundo de liberdade”.
Sediada na Casina Pio IV dentro dos Jardins do Vaticano, a Pontifícia Academia das Ciências Sociais tem grande atividade em promover debates. Em março deste ano, a academia vaticana organizou o evento “O conhecimento dos povos indígenas e a ciência: combinando conhecimento e ciência sobre vulnerabilidades e soluções para resiliência”, com a participação da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara. Em 15 de maio o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, participou da conferência “Governando na Era das Mudanças Climáticas” que reuniu 30 prefeitos do mundo inteiro.
Na conferência “Enfrentando a crise da dívida no Sul Global”, Haddad propõe destacar o compromisso do Brasil em procurar soluções para os desafios econômicos enfrentados pelos países em desenvolvimento. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), dos 68 países de menor renda, nove não conseguem pagar a dívida externa e 51 estão em risco moderado ou alto de entrar em moratória.
Segundo a Organização das Nações Unidas, 19 países em desenvolvimento gastam mais com juros da dívida pública do que com educação, e 45 gastam mais do que com a saúde. O problema piorou após a pandemia de COVID-19.
Fonte: RFI