Por Ana Letícia
O Brasil está passando por uma das maiores transformações religiosas da sua história. Os dados do Censo Demográfico 2022, divulgados nesta sexta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmam a tendência já observada nas últimas décadas: os evangélicos no Brasil continuam crescendo, enquanto os católicos registram seu menor percentual desde 1872, quando a pesquisa passou a incluir dados sobre religião.
De acordo com o novo levantamento, os evangélicos representam hoje 26,9% da população com 10 anos ou mais, totalizando 47,4 milhões de brasileiros. Já os católicos, embora ainda sejam maioria, caíram de 65,1% em 2010 para 56,7% em 2022, o que equivale a cerca de 100,2 milhões de pessoas. Em termos absolutos, os católicos perderam mais de 5 milhões de fiéis em 12 anos.
Essa queda contínua mostra que o catolicismo, apesar de predominante, vem perdendo espaço de forma gradual e consistente, enquanto o protestantismo avança sobre novos perfis sociais e territoriais, especialmente entre os jovens, negros, indígenas e moradores das periferias urbanas.
Mudança religiosa atinge todas as regiões e faixas etárias
O crescimento dos evangélicos no Brasil é visível em todas as regiões, mas se destaca especialmente no Norte, onde o grupo representa 36,8% da população. No estado do Acre, o percentual chega a 44,4%, o mais alto do país. Já os católicos seguem mais presentes no Nordeste, com destaque para o Piauí, onde ainda são 77,4% da população.
A faixa etária também revela uma tendência clara: os jovens estão abandonando o catolicismo. Entre os brasileiros de 10 a 14 anos, apenas 52% se identificam como católicos, enquanto 31,6% já são evangélicos. Esse número tende a crescer nos próximos anos, sinalizando uma mudança geracional profunda.
Entre os idosos com mais de 80 anos, no entanto, o cenário se inverte: 72% seguem católicos, e apenas 19% são evangélicos, o que reforça o avanço evangélico entre as camadas mais jovens da sociedade.
Raça, gênero e religião: como se distribui a fé no Brasil
O Censo 2022 também analisou a religião cruzando dados de raça e gênero. Entre os indígenas, os evangélicos representam 32,2%, seguidos por pretos (30%) e pardos (29,3%). Já entre os brancos, os católicos ainda são maioria: 60,2%.
Em relação ao gênero, as mulheres continuam sendo maioria entre os religiosos, especialmente nas igrejas evangélicas. A presença feminina é predominante em quase todas as tradições religiosas, incluindo umbanda, candomblé e espiritismo.
Aumento dos sem religião e das religiões de matriz africana
Outro dado que chama atenção é o aumento de brasileiros que se declaram sem religião. Em 2010, esse grupo representava 7,9% da população; em 2022, chegou a 9,3%, o equivalente a 16,4 milhões de pessoas. A maioria dos sem religião é formada por homens (56,2%), e muitos se declaram espiritualizados, mas sem vínculo institucional.
As religiões de matriz africana, como umbanda e candomblé, também cresceram. Embora ainda sejam minoritárias, passaram de 0,3% para 1% da população. Segundo o IBGE, esse aumento pode estar ligado a um maior reconhecimento social dessas religiões e à luta contra a intolerância religiosa.
Já os espíritas apresentaram queda: de 2,2% para 1,8% da população. Outras religiões, como o islamismo, budismo, judaísmo e tradições esotéricas, passaram de 2,7% para 4% no mesmo período.
Evangélicos são maioria em 58 cidades brasileiras
O levantamento do IBGE identificou que os evangélicos já são maioria em 58 municípios com mais de 100 mil habitantes. O destaque vai para a cidade de Manacapuru (AM), onde os evangélicos representam 51,8% da população.
Já a cidade mais católica do Brasil, segundo o Censo, é Crato (CE), com 81,3% de católicos entre seus moradores.
Cenário religioso aponta para futuro mais plural
O IBGE avalia que o cenário religioso brasileiro está em processo de fragmentação e pluralização. A queda do catolicismo, o crescimento dos evangélicos, o aumento dos sem religião e o reconhecimento de religiões tradicionais minoritárias apontam para um Brasil mais diverso e menos centralizado religiosamente.
A velocidade da mudança pode ter diminuído em comparação às décadas anteriores — o crescimento evangélico entre 2010 e 2022 foi de 35,3%, menor que os 69,2% registrados entre 2000 e 2010 —, mas o avanço continua firme, especialmente entre os grupos mais jovens e socialmente vulneráveis.
“A fé no Brasil não está desaparecendo. Ela está mudando de forma, território e linguagem. E isso tem impacto direto na política, na cultura e nas relações sociais do país”, avalia o sociólogo Paulo Borges, especialista em religião e sociedade.
Fonte: BR 104
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