Moscou está trabalhando em um plano para fundir suas maiores empresas petrolíferas em uma única gigante nacional, um acordo que aumentaria o controle do presidente Vladimir Putin sobre os mercados globais de energia e sobre a economia russa neste momento de guerra.
No acordo que está sendo discutido, a gigante estatal Rosneft Oil absorveria a produtora estatal Gazprom Neft — subsidiária da exportadora de gás natural Gazprom — e a Lukoil, de propriedade independente, segundo pessoas familiarizadas com as conversas. As três estão sob sanções dos EUA.
A empresa resultante seria facilmente a segunda maior produtora de petróleo do mundo, depois da Aramco da Arábia Saudita. Com uma produção quase três vezes maior que a da Exxon Mobil — a maior produtora americana — essa combinação de empresas permitiria que a Rússia impusesse preços mais altos a clientes em lugares como Índia e China.
Durante as conversas entre executivos e autoridades do governo russo nos últimos meses, há a possibilidade de se alcançar a um acordo, mas os detalhes de qualquer plano ainda podem mudar, disseram as fontes próximas.
Especulações sobre fusões e aquisições ocorrem periodicamente em Moscou e em São Petersburgo, mas nenhum grande negócio de energia foi fechado na última década. Os obstáculos incluem a oposição de alguns executivos da Rosneft e da Lukoil, além do desafio para garantir os fundos para pagar os acionistas da Lukoil, afirmaram algumas das pessoas.
Um porta-voz do Kremlin disse que o governo não tinha conhecimento de um acordo.
Um porta-voz da Rosneft declarou que a reportagem do Wall Street Journal era falsa, baseado nas informações que lhe foram disponibilizadas. Ele afirmou em um e-mail que o artigo do WSJ “pode ter como objetivo criar vantagens competitivas para outros participantes do mercado”. Questionado por telefone sobre quais informações a Rosneft considerava imprecisas, o porta-voz disse que não tinha permissão para responder a perguntas.
Um porta-voz da Lukoil disse que nem a empresa nem seus acionistas estavam em processo de negociação de uma fusão “com nenhuma das partes, pois isso não seria do interesse da empresa”.
Porta-vozes da Gazprom Neft e da Gazprom não responderam aos pedidos de comentários.
As negociações destacam o desejo de Putin de reunir o setor de energia para apoiar seu esforço de guerra, disseram as pessoas familiarizadas com as negociações. O presidente russo, segundo algumas delas, imagina uma potência capaz de competir com a Arábia Saudita em um momento em que a demanda por petróleo, embora ainda enorme, está diminuindo diante de alternativas mais verdes.
Petróleo e gás natural são a força vital da economia russa, garantindo quase um terço dos recursos federais e garantindo a Putin influência mundial. O sucesso da Rússia em estabilizar sua economia após as sanções ocidentais se deve em grande parte à sua indústria petrolífera.
Uma exportadora poderosa pode conseguir resistir às sanções ocidentais, que complicaram as exportações, prejudicaram grandes novos projetos de petróleo e gás e afetaram os pagamentos, disseram as pessoas. As negociações, embora influenciadas pela guerra na Ucrânia, também visam preparar a Rússia para uma possível retomada das relações econômicas no pós-guerra.
Colocar a Lukoil sob controle estatal direto seria um grande passo para acabar com a privatização das riquezas minerais da Rússia, que veio depois do colapso da União Soviética.
Quando chegou ao poder há um quarto de século, Putin reorganizou impiedosamente a fragmentada indústria petrolífera pós-soviética, prendendo oligarcas e redistribuindo o poder entre seus aliados. Os poucos atores atuais mantêm diferentes níveis de independência do governo, mas todos são vistos como adaptáveis aos desejos do Kremlin. Os líderes das três gigantes do petróleo são considerados alguns dos atores mais poderosos na órbita de Putin.
Para Putin, uma fusão traz riscos. A presença de feudos de empresas petrolíferas impede que seus líderes tenham muita influência isoladamente. As empresas petrolíferas da Rússia fazem parte do cartel OPEP+, mas competem por participação de mercado e disputam favores com o governo.
Os defensores do plano acreditam que uma empresa combinada poderia ganhar significativamente mais dinheiro, disseram algumas das pessoas. Um motivo: o petróleo das três empresas poderia ser vendido com a ajuda do grande braço comercial da Lukoil, a Litasco, com sede em Dubai.
A Rosneft, em particular, vem tendo dificuldade para maximizar os lucros de suas exportações. As sanções ocidentais permitem que a Rússia venda petróleo, mas tentam limitar o valor e o destino do óleo cru.
Desde o início da guerra, a Rosneft conta com uma rede secreta de empresas de comércio e navegação administradas por um comerciante pouco conhecido do Azerbaijão para enviar petróleo aos compradores, informou o WSJ este ano. Às vezes, essa operação tem dificuldade para garantir pagamentos da Índia e de outros lugares, de acordo com pessoas familiarizadas com os negócios e em documentos vistos pelo WSJ.
Além da unidade de trading, a Lukoil possui reservas no Oriente Médio, África, Américas e Rússia. A empresa, que é uma das duas principais produtoras independentes remanescentes da Rússia, também possui uma rede de postos de gasolina, refinarias na Europa Oriental e tem suas ações listadas em Moscou.
Uma semana após a invasão da Ucrânia em 2022, o conselho da Lukoil pediu o fim dos combates em uma carta aberta aos acionistas, clientes e funcionários, tornando-se uma das poucas empresas russas a se opor publicamente à guerra. Ravil Maganov, então presidente, morreu ao cair da janela de um hospital em Moscou seis meses depois, informou a mídia estatal na época.
O chefe de longa data Vagit Alekperov — ex-vice-ministro da Energia soviético e a pessoa mais rica da Rússia no ano passado, de acordo com a Forbes — renunciou oficialmente ao cargo de presidente da Lukoil em abril de 2022, dias depois de ser sancionado pelo Reino Unido. Ele continua sendo o maior acionista.
Um acordo provocaria uma reviravolta nos corredores do poder russo. Um dos principais participantes das negociações é o chefe da Rosneft, Igor Sechin, confidente de Putin desde a década de 1990 e ex-vice-primeiro-ministro.
Sob Sechin, a Rosneft se expandiu, tornando-se uma grande produtora, fez parceria com empresas como a Exxon e recebeu investimentos da BP e do fundo soberano do Catar. Os EUA disseram que quando o sancionaram em 2014, Sechin demonstrou “total lealdade a Vladimir Putin”.
Ele teve um papel importante nas relações exteriores por causa dos laços estratégicos da Rosneft com governos estrangeiros. Seu filho de 35 anos morreu no início deste ano.
Não está claro se Sechin chefiaria uma possível empresa combinada, disseram algumas das pessoas familiarizadas com as negociações. Outro líder em potencial poderia ser Aleksandr Dyukov, a quem analistas creditam a introdução da tecnologia de extração de petróleo mais avançada da Rússia como CEO da menor das três produtoras, a Gazprom Neft.
Redação com Invest News
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