A Organização das Nações Unidas (ONU) condenou o massacre ocorrido no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, após a operação policial mais letal da história do estado, que deixou ao menos 136 mortos. O balanço foi divulgado pela Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, após moradores retirarem 72 corpos de uma área de mata na manhã desta quarta-feira (29). A ação, conduzida sob o governo de Cláudio Castro, provocou indignação dentro e fora do país.
Os corpos foram levados até a Praça São Lucas, na Estrada João Lucas, onde lonas foram estendidas para comportar as vítimas. Segundo testemunhas, os mortos foram encontrados na Serra da Misericórdia, principal ponto de confronto da operação, e em uma segunda área conhecida como Vacaria, onde ainda há relatos de cadáveres.
O ativista Raull Santiago, que ajudou na remoção dos corpos, relatou nas redes sociais a dimensão da tragédia: “Mais lonas foram esticadas para dar conta dos corpos que estão sendo encontrados”, escreveu, compartilhando imagens da cena.
Quatro policiais estão entre as vítimas
Entre os mortos estão quatro policiais, e outros nove ficaram feridos nos tiroteios. A operação, segundo as autoridades fluminenses, tinha como objetivo o cumprimento de 100 mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho, principal facção criminosa do Rio.
O principal alvo seria Edgar Alves de Andrade, o Doca, apontado como líder da organização nas ruas. Diante da escalada da violência, o Disque Denúncia anunciou recompensa de R$ 100 mil por informações sobre o seu paradeiro — o maior valor desde o caso de Fernandinho Beira-Mar, preso pela primeira vez em 2001.
Reação internacional e cobranças da ONU
A gravidade da operação repercutiu internacionalmente. O Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos publicou nota afirmando estar “horrorizado com a operação policial em andamento nas favelas do Rio de Janeiro” e exigiu investigações rápidas e eficazes sobre as mortes. O órgão também lembrou que o Brasil tem obrigações internacionais no campo dos direitos humanos e deve garantir responsabilização e reparação às vítimas.
A ONG Human Rights Watch também condenou a política de segurança do estado: “O Rio precisa de uma nova política de segurança pública, que pare de estimular confrontos que vitimizam moradores e policiais”, afirmou a entidade.
Governo federal reage e PEC da Segurança é antecipada
No Brasil, a operação teve forte repercussão política. A Defensoria Pública denunciou abusos e violações cometidos durante a ação. Diante da gravidade da situação, o governo federal determinou o envio de uma comitiva ao Rio de Janeiro e o presidente Lula convocou uma reunião de emergência com a cúpula da segurança pública.
Em resposta, a Câmara dos Deputados decidiu antecipar a análise da PEC da Segurança Pública, proposta que busca aprimorar a integração entre as forças federais e estaduais. O governador Cláudio Castro, por sua vez, pediu ao Ministério da Justiça o envio de dez líderes criminosos presos para penitenciárias de segurança máxima — solicitação que foi atendida.
O massacre do Complexo da Penha expõe mais uma vez a falência da política de enfrentamento armado nas favelas e reacende o debate sobre o modelo de segurança adotado pelo governo do estado. As cobranças da ONU e de entidades de direitos humanos colocam o Rio de Janeiro sob forte pressão internacional, exigindo mudanças urgentes para interromper o ciclo de violência que há décadas vitima moradores e agentes públicos.
Redação com Brasil 247

















