Os refugiados palestinos agora ocupam apenas 11% da Faixa de Gaza – é o que observa a ONU após as 16 ordens de evacuação forçada emitidas por Israel desde o início de agosto. Essa superlotação coloca as Nações Unidas em alerta, já que, desde ontem, ela não pode mais coordenar suas operações com segurança, conforme relatado pela correspondente da RFI em Nova York, Carrie Nooten.
“O que vemos aqui são milhares de pessoas obrigadas a se deslocar diariamente. Isso mudou muito nas últimas semanas, e as pessoas simplesmente não sabem para onde ir”, lamenta Louise Wateridge, que se encontra no local e trabalha para a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA, na sigla em inglês).
“Há gente por toda parte. Eles usam a areia para construir paredes e impedir que a água do mar entre em seus abrigos improvisados. Há escorpiões, mosquitos, ratos, camundongos e cobras entre a população que vive nessas condições.”
Os deslocamentos forçados esgotam as equipes humanitárias, que precisam reinventar suas operações constantemente. Embora as equipes da UNRWA, presentes nos acampamentos, ainda possam ajudar um pouco os civis palestinos, a ONU pede a Israel que garanta a segurança de seu pessoal humanitário – uma responsabilidade que lhe cabe segundo as regras de situações de guerra.
“Zona perigosa de combates”
Após a ordem de deixar Deir al-Balah dada pelo exército israelense, que anunciou uma “zona perigosa de combates” com o Hamas e a Jihad Islâmica, cerca de 250 mil pessoas, das quase um milhão que atualmente vivem na cidade, já fugiram para o oeste em pânico.
“Na tarde de domingo, houve uma enorme explosão a cerca de 200 metros do hospital e muitas pessoas decidiram fugir da área. Os civis deslocados que haviam montado suas tendas ao redor do hospital também fugiram. Havia gente em movimento por toda parte. A ordem de evacuação empurrou milhares de pessoas para outra área chamada de ‘humanitária’, com apenas 40 km², onde elas podem se abrigar”, relata Federica Iezzi, cirurgiã pediátrica da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), que trabalha no hospital al-Aqsa de Deir al-Balah.
“Dos cerca de 600 pacientes, restam apenas uma centena. Quatro estão em cuidados intensivos e outros quatro em cuidados neonatais. Esses pacientes estão em estado crítico e não podem ser transportados. Recebemos um grande número de feridos devido aos bombardeios, alguns com queimaduras e amputações. O hospital precisa funcionar com recursos humanos e materiais muito limitados. Temos cortes de energia o tempo todo. Nos últimos dois dias, desde a ordem de deslocamento, o ambiente no hospital é de ansiedade e preocupação diante da ameaça iminente”, conclui a cirurgiã.
Fonte: RFI