“Não me fale de corrente, nem tampouco travessia / Eu só sei que gente é gente e não é mercadoria”. Com o enredo “Chão de Devoção: Orgulho Ancestral”, com críticas à escravidão, a Estácio de Sá conquistou o Estandarte de Ouro nas categorias mais cobiçadas da Série Ouro: melhor escola e melhor samba-enredo. De acordo com os avaliadores, o samba-enredo da agremiação contribuiu muito para que a escola conquistasse os principais prêmios da noite.
Grande vencedora do prêmio, a Estácio de Sá passou por tensão nos últimos minutos do desfile, durante o primeiro dia de desfile da Série Ouro. O portão fechou aos 56 minutos, um a mais do que o máximo estipulado pelo regulamento. Além do atraso, a Estácio enfrentou uma falha no sistema de som, por alguns segundos, nos 15 minutos iniciais do desfile. A agremiação, mesmo penalizada no dia da apresentação, não deu falta dos pontos para conquistar os prêmios.
Já a categoria Fernando Pamplona, entregue às escolas que fazem melhor uso de material barato e com bom efeito, foi para o abre-alas da escola Arranco do Engenho de Dentro. A agremiação foi condecorada pelo uso criativo de caixas e bulas de remédio na decoração, coletadas dos Centros de Atendimento Psicossocial da Prefeitura do Rio de Janeiro. Segundo os jurados, o alinhamento entre a utilização dos produtos reciclados com o enredo fez com que a escola se destacasse na avenida.
Novidades
Neste ano, a premiação do Estandarte de Ouro para os melhores do carnaval carioca chega a sua 52ª edição com uma novidade. O Prêmio Fernando Pamplona passa a ser destinado à Série Ouro e não mais ao Grupo Especial. O Estandarte de Ouro é uma realização dos jornais O GLOBO e Extra.
Com a mudança, a Série Ouro passou a contar com três categorias. Até o ano passado, o acesso contava apenas com premiação para melhor escola e melhor samba-enredo. Já o Grupo Especial fica com 15. O principal objetivo da mudança é privilegiar as agremiações com menos recursos e estimular a criatividade dos artistas do acesso.
— É uma forma de incentivar a criatividade, além de conectar as escolas de samba com questões que a sociedade discute muito atualmente, como a necessidade de reaproveitamento de materiais — explica Marcelo de Mello, presidente do juri do Estandarte de Outro e jornalista de O GLOBO.
No ano passado, o Prêmio Fernando Pamplona foi para a Mocidade Independente de Padre Miguel, por conta do abre-alas da escola feito com material reciclado. Já em 2022; Grande Rio ficou com o prêmio, devido o último carro, o “Fala, Majeté”. A alegoria foi totalmente composta por material reciclado de antigos carnavais, utilizando pedaços de esculturas, sobras de tecidos e materiais da “destruição” do abre-alas de 2020. Ainda foi recolhido material pela Associação de Catadores do Jardim Gramacho.
A professora e ex-carnavalesca Maria Augusta, jurada do Estandarte de Ouro, é uma defensora da destinação da premiação para as escolas do chamado acesso. Ela acha que essa é uma forma de estimular não só a criatividade como também de incentivar os novos talentos. A própria Maria Augusta é reconhecida pelo uso de materiais alternativos em desfiles históricos, como “Domingo”, de 1977, na União da Ilha do Governador.
— O mais importante para mim é que é no grupo de acesso, a Série Ouro, onde se desenvolvem os novos carnavalescos, que são os artistas que estão se preparando para assumir o Grupo Especial. É lá que os novos talentos aparecem. E nos talentos, um deles é trabalhar com material reciclado, reaproveitado e barato. Um material que tenha uma aparência que não seja a verdadeira, mas sim da expressão que o carnavalesco quer dar. O prêmio é um estímulo à criatividade. Não é nem questão de preço, mas de dar o efeito que se quer. Pamplona era isso— definiu Maria Augusta.
Quem ficou de fora?
Para valorizar os novos compositores, como acontece desde 2005, samba-enredo reeditado continua não entrando na disputa da categoria. Com a decisão, esse ano, fica de fora o da Vila Isabel “Gbalá, Viagem ao templo da criação”, de Martinho da Vila. Cantado na Avenida pela primeira vez no carnaval de 1993, quando ganhou o Estandarte, a composição vai embalar agora o desfile desse ano da escola. Já houve caso de um samba reeditado levar o prêmio. Isso aconteceu em 2004, com “Aquarela Brasileira”, de Silas de Oliveira, no Império Serrano. A composição é considerada um clássico do gênero.
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— É a forma de estimular a criatividade dos novos compositores. Por essa razão a gente prefere não premiar reedição — justifica Marcelo de Mello.
As categorias premiadas com o Estandarte de Ouro no Grupo Especial são: escola, bateria, ala de passistas, samba-enredo, enredo, comissão de frente, inovação, personalidade, ala, baianas, puxador, revelação, mestre-sala, porta-bandeira e destaque do público. Na Série Ouro são: escola, samba e, agora, Fernando Pamplona.
O júri do Estandarte de Ouro é formado por Rachel Valença (professora, pesquisadora e escritora) — que só julgará o Grupo Especial —, Dorina (cantora e comunicadora), Juliana Barbosa (professora da Universidade Federal do Paraná); Bruno Chateaubriand (empresário e jornalista); Haroldo Costa (ator de cinema e de TV, produtor e escritor); Luis Filipe de Lima (violonista e pesquisador); Odilon Costa (percussionista); Angélica Ferrarez de Almeida (historiadora, pesquisadora e professora); Alberto Mussa (escritor), que só julgará a Série Ouro; Felipe Ferreira (professor da Uerj e escritor); Leonardo Bruno (jornalista, escritor e comentarista da Rede Globo); Luiz Antônio Simas (escritor e historiador) e Maria Augusta (professora e ex-carnavalesca), que avaliará apenas o Grupo Especial, além do próprio Marcelo de Mello.
Redação com Extra Online
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